domingo, 15 de outubro de 2017

Clown terapêutico: que palhaçada é essa?

O adulto (en)quadrado e a criança
Os adultos são uns chatos! Tão cheios de problemas, crises e dilemas - e tão "vazios" de tempo, dinheiro e disposição - eles só reclamam da vida e do mundo e se lamentam sobre o que passou e sobre o que virá. O desenrolar da vida, as repetidas perdas e as infinitas exigências do mundo vão fazendo com que eles, ao poucos, se distanciem da criança espontânea, curiosa e criativa que, provavelmente, um dia foram. 

Muitos acabam por se enquadrar (e se "enquadradar", tal qual o protagonista do filme Up - Altas aventuras), tornando-se pessoas amargas, duras e pragmáticas que, diante da ausência de utopias e alegrias, apenas seguem adiante pela vida tentando cumprir as inúmeras obrigações e papéis sociais estabelecidos e constantemente reforçados. 

Mas será possível resgatar essa "alma de criança" e trazer de volta a espontaneidade, a criatividade e a alegria perdidas? Pois esse é justamente o objetivo de uma abordagem desenvolvida pelo psicólogo e palhaço Rodrigo Bastos, autor do livro "O clown terapêutico", lançado este ano pela editora Bartlebee através de financiamento coletivo (Crowdfunding). 

Fiquei sabendo do trabalho e do livro do Rodrigo - também conhecido como palhaço Mirabel - através da minha mãe, que participa de um dos grupos terapêuticos coordenados por ele em minha cidade natal, Juiz de Fora. Li o livro rapidamente e fiquei encantado com a proposta, que tenta conectar a abordagem da Gestalt-Terapia com a filosofia e a arte do Clown

A ideia, em essência, é buscar na icônica e milenar figura do palhaço e na arte da palhaçaria ensinamentos e técnicas que podem ser utilizados por pacientes e psicólogos durante o processo terapêutico. Como afirma Rodrigo no início de seu livro, "usaremos a sabedoria das tradições circenses na formação dos palhaços e das técnicas que lançamos mão na Psicologia Gestalt e também de outras linhas afins, para auxiliarmos a promover crescimento, perspectiva, e novas e criativas rotas de solução para problemas".

Rodrigo Bastos, isto é, Palhaço Mirabel
Mas o que, afinal de contas, os palhaços tem a nos ensinar? Pois bem, para além de uma figura que gera medo em muitas pessoas - e se você assistiu ao recente filme "It: a coisa", provavelmente você se assustou com o horripilante "palhaço" Pennywise -, o palhaço é também uma figura que escancara para o mundo sua "alma de criança". 

Um palhaço não é simplesmente um ator que pinta o nariz de vermelho, mas sim uma pessoa que expõe para o mundo, com uma lente de aumento, suas forças e suas fraquezas. Enquanto a maioria de nós se esforça cotidianamente para apresentar aos outros somente o nosso "lado bom e nobre", o palhaço aceita que não é perfeito e revela para o mundo sua fragilidade e seu lado ridículo. 

O próprio nariz vermelho seria representativo disso. Como aponta Rodrigo, "segundo reza uma das lendas, ele é vermelho devido aos tombos que a vida deu ao palhaço, aonde  este se machucava ao embebedar-se, pelas noites de frio, pela perda da mulher amada, pela falta de dinheiro, era vermelho por ser um tonto desequilibrado e por isso dava constantemente com a cara no chão. O palhaço sempre foi um grande perdedor e acabou por descobrir que a 'humanidade' adorava vê-lo cair de cara no chão, de bunda no chão, tomar tapas e tortadas na cara".

Enfim, o palhaço representa e traz à tona o que há de mais frágil e ridículo em nós - e se orgulha disso. Seu objetivo de vida, como bem aponta Rodrigo, é ser um idiota e fazer idiotices, algo que os adultos, em geral, fogem como o diabo foge da cruz. Afinal, quem quer ser (ou ser visto como) um idiota? Os palhaços querem. E são. E é por isso rimos deles: porque, no fundo, rimos de nós mesmos e de todas as nossas infinitas idiotices. 

A proposta do Clown Terapêutico, desenvolvida pelo Rodrigo, busca justamente o resgate e a aceitação deste lado idiota e da capacidade de rirmos de nós mesmos. A ideia é recorrer a estratégias lúdicas utilizadas na formação de palhaços para contribuir para o desenvolvimento das pessoas. 

Como aponta Rodrigo, "a terapia baseada em conceitos lúdicos e clownescos busca dar suporte para transformar o indivíduo, dentro de suas possibilidades, numa figura mais divertida, alegre, leve, otimista, criativa, potente e que se importe menos com 'o que os outros vão pensar de mim', até porque 'o que os outros vão pensar de mim' é problema dos outros e não meu".

O objetivo de sua proposta, em suma, é reconectar o adulto chato e quadrado que nos tornamos com a criança espontânea e criativa que um dia fomos. E sendo o palhaço um "adulto com alma de criança", nada mais adequado do que buscar na milenar arte do clown elementos para potencializar o processo psicoterapêutico. 

Mas Rodrigo alerta que não se trata de transformar o adulto em uma criança, o que além de impossível seria indesejável, mas sim de buscar no "espírito da criança" a força para cair e levantar e rir de si mesmo e não dos outros. Como afirma o psicólogo-palhaço, "para ser criança é preciso brincar, para ser palhaço  é preciso brincar, para se tornar um adulto com a capacidade criativa de resolução dos seus problemas é necessário achar sua criança; o palhaço, então, serve de 'meio pelo qual' acessá-la".

Caso você tenha interesse em adquirir o livro "O clown terapêutico", escrito pelo psicólogo e palhaço Rodrigo Bastos, envie um email para oclownterapeutico@gmail.com
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