domingo, 25 de abril de 2021

6 filmes inesquecíveis sobre perda de memória

Ainda impactado com o filme Meu pai, que assisti ontem à noite, trago hoje uma pequena lista de 6 filmes inesquecíveis sobre perda de memória. São eles: 1) Amnésia (2000, disponível no Prime Vídeo): clássico do Christopher Nolan sobre um sujeito amnésico envolvido na investigação do assassinato de sua esposa. O filme se tornou célebre especialmente devido à sua edição, que inverteu a cronologia da história, começando pelo fim e terminando pelo começo. Sensacional! 2) Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004, disponível no Telecine Play): outro clássico contemporâneo, dirigido pelo Michael Gondry, sobre um sujeito entristecido pelo fim de um relacionamento que decide recorrer aos serviços uma empresa especializada em apagar memórias. Uma obra-prima! 3) Embers/Apagados (2015, disponível para aluguel no Google Play): filme pouquíssimo conhecido - mas que eu considero genial - sobre um mundo pós-apocalíptico no qual uma infecção teria acabado com a capacidade de memorização dos seres humanos. Aterrorizante justamente por demonstrar o terrível impacto da falta de memória para a humanidade. Uma pérola! 4) Para sempre Alice (2014, disponível na HBOGo): impactante e sensível filme sobre uma renomada professora de linguística que, com 50 anos, começa a perder sua memória e é diagnosticada com a Doença de Alzheimer. Baseado em um livro homônimo, este filme mostra como poucos o impacto de tal doença na própria pessoa e na sua família. 5) Marjorie Prime (2017, disponível no Telecine Play): belo e filosófico filme de ficção científica, pouco conhecido, sobre uma filha e seu marido que decidem recorrer a uma tecnologia de inteligência artificial para recriar holograficamente o seu falecido pai, de forma que esta versão "prime" possa auxiliar sua mãe, uma senhora com Alzheimer, a relembrar seu passado. Um belo filme, repleto de lindos e profundos diálogos, sobre a fragilidade da memória. 6) Meu pai (2020, disponível para aluguel no Belas Artes à la carte): forte concorrente ao Oscar 2021, este filme retrata com muita sensibilidade o processo de deterioração mental de um homem, vivido de forma sublime pelo Anthony Hopkins. Um filme forte, triste e belo. Uma obra-prima!

12 livros sobre o funcionamento da memória


Dando continuidade às indicações bibliográficas, eu trago hoje 12 livros sobre o funcionamento da memória (veja a imagem à cima). Trata-se, na verdade, de uma versão ampliada de uma lista bastante popular deste blog intitulada 10 livros para entender o funcionamento da memória. Seguem algumas considerações sobre esta lista: 1) todos os livros indicados foram publicados no Brasil mas, infelizmente, alguns deles estão esgotados (caso do "Em busca da memória", do Eric Kandel, e do "A arte e a ciencia de memorizar tudo"), estando disponíveis para compra apenas em sebos virtuais; 2) caso você queira apenas ter um panorama geral sobre tema da memória, recomendo especialmente os dois primeiros: "Memória" e "A arte e a ciência de memorizar tudo" (livro maravilhoso com um título horroroso). Já caso queira informações mais detalhadas sobre a psicologia da memória indico especialmente "Os sete pecados da memória", os dois capítulos dedicados ao tema do livro "Psicologia Cognitiva" e um capítulo sensacional do livro "O gorila invisível" intitulado "O técnico que esganou". Finalmente, caso você queira se dedicar à biologia da memória indico o livro do Kandel, o capítulo dedicado ao tema do livro "Neurociências Cognitivas" e também o livro "O presente permanente", que trata em detalhes do famosíssimo caso H.M. 3) dos dois livros do Oliver Sacks sugeridos (e todos os livros do autor são altamente indicados!) eu indicaria especificamente o capítulo "A falibilidade da memória", do livro "O Rio da consciência" - que trata do tema das falsas memórias - e também o capítulo "Marinheiro perdido", do clássico livro "O homem que confundiu sua mulher com um chapéu" - que retrata o caso de um sujeito que, devido à Síndrome de Korsakov, desenvolveu uma severa amnésia que o impediu de formar novas memórias - tal qual H.M. Já no livro clássico do Luria "Mente e memória" - originalmente intitulado "A mente de um mnemonista"- encontramos um relato oposto, sobre um sujeito que possuia uma memória infalível e ilimitada. 4) o último livro da lista, e que tem o mesmo título do clássico do Kandel, "Em busca da memória", é altamemte indicado para quem quiser entender um pouco melhor a Doença de Alzheimer.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

2 documentários sensacionais - e assustadores!

Nos últimos dias assisti dois documentários sensacionais - e assustadores: 1) Coded bias (2021): importante documentário da Netflix sobre os viéses embutidos nos algoritmos de várias tecnologias. O filme mostra como tais tecnologias - por exemplo, as de reconhecimento facial - reproduzem os preconceitos existentes na sociedade (como de gênero e raça), o que é uma outra forma de dizer que elas não são neutras, como as empresas que as desenvolveram querem nos fazer acreditar. E o motivo para isso é simples de entender: tecnologias são produzidas por pessoas (em geral por homens brancos) e pessoas possuem viéses e preconceitos. A conclusão geral do documentário é de que o maior risco das tecnologias de inteligência artificial não está na possibilidade delas se revoltarem contra os seres humanos (como nos filmes de ficção científica) mas sim delas serem utilizadas por empresas e governos para controlar e oprimir a população - o que já acontece. 2) Welcome to Chechnya (2020): impactante documentário norte-americano, vencedor de inúmeros prêmios, sobre a terrível situação das pessoas LGBTs na Chechênia, uma das repúblicas da federação da Rússia. O documentário acompanha um grupo de ativistas russos que auxiliam jovens gays chechenos a saírem do país para não serem torturados e mortos pela polícia ou pelos próprios pais - o que se tornou uma política de Estado promovida pelo governante da região (Ramzán Kadírov, uma espécie de Bolsonaro checheno) e legitimada pelo governo russo de Vladimir Putin. Um dos pontos altos do documentário é a utilização de uma sofisticada tecnologia de "deep fake" para alterar digitalmente o rosto dos ativistas russos e também dos jovens gays chechenos, de forma a ocultar suas identidades - de outra maneira eles poderiam ser identificados, presos, torturados e até mortos pelo governo russo. Enfim, trata-se de um documentário muito doloroso de assistir e que traz uma importante denúncia sobre a absurda e terrível situação das pessoas LGBTs na Rússia. "Welcome to Chechnya" está disponível para aluguel em várias plataformas, caso da Google Play. Recomendo ambos documentários fortemente!

sábado, 17 de abril de 2021

7 filmes protagonizados por cientistas mulheres

Aproveito a proximidade do fim-de-semana e a estreia, na Netflix, do filme Radioactive - que retrata a história da Marie Curie, cientista polonesa naturalizada francesa e que foi vencedora de dois Prêmios Nobel - para indicar outros 6 filmes protagonizados por cientistas mulheres. São eles: 1) Na montanha dos gorilas (1988); 2) Temple Grandin (2010); 3) Estrelas além do tempo (2016); 4) Contato (1997); 5) Aniquilação (2018) e 6) A chegada (2016). Uma observação importante é que os três primeiros filmes retratam cientistas reais ao passo que os três últimos retratam cientistas fictícias. Outra observação é que de todos estes 6 filmes o único que eu considero mediano é o Estrelas além do tempo - os demais eu avalio como excelentes! Quanto à Radioactive eu tive oportunidade de assistí-lo ontem e minha avaliação é a seguinte: a história real que o inspirou é sem dúvida fascinante e importante de ser retratada no cinema - até para que as novas gerações possam conhecer um pouquinho da vida e do trabalho da Marie Curie. Mas, enquanto obra cinematográfica, o filme é, na minha opinião, péssimo, tanto na abordagem de seu processo científico quanto no retrato de sua vida pessoal. Não achei o filme uma catástrofe completa mas ele está muito longe de fazer jus ao tamanho e a importância de sua protagonista. 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

6 livros sobre a história da psiquiatria

E finalmente chegamos à última lista da semana... Desta vez eu trago 6 livros sobre a história da psiquiatria (veja imagem ao lado). E como fiz com as outras listas gostaria de trazer também alguns comentários sobre alguns dos livros: 1) o primeiro da lista, Psiquiatria: uma história não contada é uma espécie de biografia chapa branca da psiquiatria. Escrito pelo Jeffrey Lieberman, que foi presidente da Associação Psiquiátrica Americana, este livro traz a narrativa "oficial" de que, apesar das boas intenções, tudo era trevas no campo da psiquiatria até o advento dos psicofármacos na década de 1950. A partir de então o sol passou a brilhar e todos foram felizes para sempre. Segundo Lieberman, com a revolução farmacológica "pela primeira vez em sua longa e famigerada história, a psiquiatria podia oferecer tratamentos científicos humanos e eficazes para quem sofre de doença mental". Apesar dessa narrativa fantasiosa, que desconsidera os inúmeros problemas e limites das medicações psiquiátricas, considero que o livro traz informações factuais importantes e não facilmente encontráveis em outras obras; por isso o indico aqui. 2) incluí na lista a clássica obra História da loucura, do Foucault, mesmo compreendendo ela abrange muito mais do que a história da psiquiatria; ainda assim o nascimento desta especialidade médica constitui, em sua narrativa, um ponto de mudança/ruptura importante na forma de se compreender e tratar a loucura; 3) optei por incluir um livro publicado em inglês, Mad in America, por considerá-lo um livro fundamental sobre o tema. Escrito pelo jornalista Robert Whitaker (mesmo autor do Anatomia de uma epidemia, já traduzido para o português e indicado na lista anterior) este livro deu origem ao importante site Mad in America que, por sua vez, inspirou a criação do site Mad in Brasil e de muitas outras versões em diferentes países. Todos esses sites "Mad in" constituem-se como importantes espaços de reflexão sobre o campo da saúde mental e, também, de critica à psiquiatria "oficial", em especial ao seu biologicismo majoritário. Com relação aos demais livros indico igualmente suas leituras, já que são todos excelentes e fundamentais!

quinta-feira, 15 de abril de 2021

6 livros críticos à psiquiatria oficial

E lá vamos nós para mais uma lista. Desta vez selecionei 6 livros críticos à chamada "psiquiatria oficial" (veja imagem ao lado). Em todas estas obras encontramos importantes e bem embasadas críticas tanto à abordagem diagnóstica descritiva da psiquiatria contemporânea - materializada nos cada vez mais volumosos e abrangentes manuais oficiais de transtornos mentais - quanto à sua abordagem biologicista - que compreende os transtornos mentais como transtornos cerebrais causados por supostos desequilíbrios químicos e que tem na psicofarmacologia a base fundamental do seu tratamento. Importante apontar que estas duas abordagens até o momento não se integraram, como muitos adeptos da psiquiatria biológica gostariam. Tanto é que após o lançamento do DSM-5, em 2013, surgiram uma série de críticas de que continuava faltando a este manual um maior embasamento na biologia, em especial nas neurociências. E o motivo para esta "falta imperdoável" é que apesar de todo o investimento em pesquisas cerebrais desde a década de 1990, até o momento não encontraram sequer um marcador biológico confiável para qualquer transtorno mental - o que significa dizer que não identificaram qualquer característica ou alteração no funcionamento e na estrutura cerebrais comuns a todos os portadores de determinado transtorno. A consequência disso é que o grande sonho dos psiquiatras biológicos de ter exames objetivos que os auxiliem no processo de diagnóstico - como ocorre em outras áreas da medicina - não apenas não se concretizou como está muito longe de se concretizar. Parece que quanto mais tentam eliminar a psiquê da PSIquiatria mais essa subjetividade "incômoda" insiste em se fazer presente. Da mesma forma, o sonho de uma pílula mágica também não se concretizou. Por mais que os psicofármacos representem um inegável avanço aos tratamentos utilizados anteriormente na psiquiatria, ainda assim essas medicações estão longe de serem panacéias inofensivas como muitos ainda acreditam. A cada dia surgem mais e mais pesquisas apontando para inúmeros prejuízos de curto e longo prazo relacionados ao uso de certas medicações - sobre isso recomendo a leitura fundamental do livro Anatomia de uma epidemia. Uma questão importante sobre os livros selecionados para esta lista é que eles foram escritos não apenas por críticos "de fora" da psiquiatria, mas também por críticos "de dentro" - este é o caso, por exemplo, do Voltando ao normal, escrito pelo psiquiatra Allen Frances, que foi "simplesmente" o coordenador da força-tarefa do DSM-IV; mas também é o caso do Medicalização em psiquiatria, co-escrito pelo psiquiatra Paulo Amarante e do Psiquiatria no divã, escrito pelo psiquiatra Adriano Aguiar. E estas críticas internas apontam para o fato de a abordagem "oficial" da psiquiatria não ser a única, mas apenas uma dentre tantas. Enfim, caso tenha interesse por esta problemática recomendo fortemente todos esses livros.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

6 livros de introdução à filosofia da mente

Minha entrada nas discussões sobre as neurociências, que hoje é o meu tema de estudos, ocorreu, lá na graduação, pela filosofia da mente - agradeço imensamente ao professor Saulo Araújo, da UFJF, por isso! Considero esta área de estudos e reflexões absolutamente fundamental para qualquer um que se interesse pelos campos da psicologia e das neurociências. E isto porque a filosofia da mente estuda e reflete justamente sobre o chamado problema mente-cérebro, que é uma espécie de atualização do mais antigo problema corpo-alma. As questões sobre as quais os filósofos da mente se debruçam incluem: o que é a mente? De que forma a mente se relaciona com o cérebro? A mente possui uma natureza diferente do cérebro e do restante do corpo? Se a mente é criada pelo cérebro, como isso ocorre? E foi pensando na importância de tais reflexões para interessados em psicologia e/ou neurociências que eu fiz mais essa lista , com 6 livros de introdução à filosofia da mente, todos publicados e disponíveis em português (veja imagem ao lado). Alguns esclarecimentos sobre a lista: 1) meu livro preferido dentre todos esses é o primeiro, Mente: conceitos-chave em filosofia, que é um livro super-claro e ao mesmo tempo aprofundado sobre o tema, 2) coloquei nesta lista apenas um livro do João de Fernandes Teixeira, Como ler filosofia da mente, mas eu poderia indicar inúmeros outros, já que ele é o principal autor brasileiro sobre o tema; escolhi esse por ser o mais simples e introdutório; 3) descobri o livro Filosofia: textos fundamentais comentados (o terceiro da lista) por uma indicação do @psi.fsquestt em um de seus cursos - e fiquei encantado. Na verdade este é um livro de introdução geral à filosofia mas ele possui um capítulo específico sobre filosofia da mente (intitulado Mentes e corpos) que não apenas faz uma ótima introdução ao tema como ainda inclui, na íntegra, vários textos clássicos de área, em ótimas traduções. Sensacional! Quanto aos demais livros, são todos igualmente excelentes mas se eu tivesse que indicar apenas três eu indicaria os 3 primeiros. #ficaadica

12 livros sobre a história das neurociências


Segue aí mais uma lista de indicações bibliográficas (veja imagem acima). Desta vez eu trago uma série de livros dedicados à história das neurociências. Na verdade o mais correto seria falar em "história das intervenções, reflexões e estudos sobre o sistema nervoso" já que o campo das neurociências foi constituído e institucionalizado somente na década de 1960 nos Estados Unidos. Parafraseando uma famosa frase do Hermann Ebbighaus é possível dizer que as neurociências - como a psicologia - possuem um longo passado, ainda que uma história curta. Grande parte dos livros indicados tratam deste longo passado, anterior à constituição do campo neurocientífico, mas alguns deles também tratam, brevemente, de sua história curta. Como ocorreu na última indicação bibliográfica, grande parte dos livros sobre esse tema estão disponíveis apenas em inglês, infelizmente. Portanto, para a presente lista selecionei quatro livros publicados em português, um em espanhol e sete em inglês. Dentre aqueles publicados no Brasil indico fortemente o primeiro, Duelo dos neurocirurgiões, um excelente e acessível livro de divulgação científica sobre o passado dos estudos cerebrais. Se eu tivesse que indicar apenas um livro para quem quiser adentrar no tema eu indicaria esse - e também, como complemento, A história da neurociência, que é praticamente um livro didático sobre o tema (e, até por isso, bastante simplista em diversos aspectos). Outro livro bastante acessível é o Historia de la neurociencia, que faz um percurso bem abrangente sobre o tema, tratando das reflexões e estudos sobre o cérebro desde a Grécia Antiga até os dias atuais. Já em inglês eu indicaria fortemente os dois últimos: livros soberbos, super-completos e recentes sobre o tema. Mas se eu tivesse que indicar apenas um destes dois livros eu indicaria o The idea of the brain: a story, lançado em 2020 e que é uma obra-prima. Enfim, caso você se interesse por estes temas (que me interessam muito) estas são as sugestões que eu daria. #ficaadica

segunda-feira, 12 de abril de 2021

12 livros de neurociência crítica

Dando continuidade às indicações bibliográficas gostaria de indicar hoje 12 livros que trazem visões críticas ao campo das neurociências e, especialmente, a certos neuro-discursos, que possuem, atualmente, grande visibilidade e legitimidade. Todas as obras indicadas trazem questionamentos à certos usos e interpretações dos achados neurocientificos que, por vezes (muitas vezes!), caem em perigosas e equivocadas formas de reducionismo. Importante apontar que nenhuma destas obras pretende desconsiderar o valor da pesquisa neurocientífica mas todas acreditam na importância da critica para o avanço desta e de todas as ciências. Não se trata, portanto, da critica pela crítica, mas da critica que tenta trazer complexidade à uma ciência que se dedica a estudar um objeto complexíssimo: o sistema nervoso - que, cabe apontar, inclui o cérebro, mas não se resume a ele. A proposta do campo da neurociência critica e de outras abordagens críticas começa justamente por re-inserir o cérebro e o sistema nervoso numa teia de relações que envolve o restante do corpo, a mente (que se relaciona com o cérebro mas não se reduz à ele) e também os ambientes físico e social que nos envolvem e nos constituem. Esta visão em rede, por sua vez, traz como consequência o entendimento de que não basta analisar o cérebro e o sistema nervoso para se compreender determinados fenômenos psíquicos e sociais - ao menos não em suas totalidades. Enfim, o que todos estes livros pretendem é trazer complexidade para fenômenos e conceitos que, muitas vezes, tem sido apresentados e explicados de forma excessivamente simplista e reducionista - no sentido negativo do termo. Incluí nesta lista 3 livros publicados em português (o meu, inclusive) e 9 livros estrangeiros. E o motivo desta disparidade é que, de fato, existem pouquíssimas publicações em português sobre esta temática que, igualmente, é pouquíssimo estudada em nossas pós-graduações. Caso você tenha interesse em adentrar e se aprofundar neste campo da neurociência crítica sugiro que comece pelos livros em português e, posteriormente, avance para as leituras estrangeiras.

9 filmes críticos à indústria farmacêutica

Um dos posts mais acessados deste blog é o Top 5 - Filmes críticos à indústria farmacêutica, que publiquei dez anos atrás, em 2011. Pois decidi atualizar essa lista, acrescentando filmes que assisti mais recentemente - e este é o resultado (veja imagem ao lado): 9 filmes no total, sendo 3 filmes de ficção e 6 documentários. Alguns desses filmes estão disponíveis nas plataformas de streaming (caso, por exemplo, do Take your pills, lançado pela Netflix) mas outros eu não saberia indicar exatamente onde podem ser vistos - recomendo, nesse sentido, o aplicativo JustWatch. Uma consideração importante é que muito embora a indústria farmacêutica tenha o seu valor e a sua importância- e a produção de vacinas para Covid-19 deixou isto muito claro - não podemos nos esquecer de que tal indústria (como, de fato, todas as indústrias) tem como objetivo central o lucro e não propriamente ou não necessariamente a saúde das pessoas. E este objetivo financeiro faz com que as empresas farmacêuticas tomem uma série de atitudes bastante questionáveis eticamente, especialmente no que diz respeito ao marketing dos seus produtos - e isto fica bastante claro no caso dos remédios psiquiátricos, cuja estratégia de venda inclui o marketing dos transtornos mentais e não apenas dos produtos voltados para tratá-los. Muitos dos filmes indicados aqui exploram, aliás, tais estratégias. Recomendo ainda, como complemento, a leitura de alguns livros, especialmente caso você tenha interesse em compreender melhor os métodos utilizados pelas empresas farmacêuticas para aumentar suas vendas e diminuir os custos envolvidos no desenvolvimento de seus produtos. Em português eu destacaria A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos, livro clássico da médica britânica Márcia Angell. Já em inglês indico fortemente Bad Pharma, do psiquiatra britânico Ben Goldacre (autor também do livro Bad Science, já publicado no Brasil com o título Ciência picareta) e Drugs for life, do antropólogo norte-americano Joseph Dumit.

14 filmes fundamentais para pessoas interessadas no campo da saúde mental


A página do Instagram @saudementalcritica me indicou, em um dos seus stories, como alguém que poderia sugerir bons filmes para seu seguidores. Pensando nisso - e de forma a não decepcionar o criador da página - fiz uma pequena lista de 14 filmes fundamentais para quem se interessa pelo campo da saúde mental - sendo 8 filmes ficcionais (muitos baseados em histórias reais) e 6 documentários (quase todos brasileiros). Muitos outros filmes poderiam ser indicados mas escolhi apenas aqueles que considero os mais relevantes. A lista inclui desde clássicos (como Um estranho no ninho, Laranja Mecânica e Bicho de Sete cabeças) até filmes mais recentes (como Nise, Distúrbio e Terapia de risco). Dentre os documentários incluí um único estrangeiro (Sicko, do Michael Moore) que embora não trate diretamente do tema da saúde mental, aponta para importância de sistemas públicos de saúde, caso do SUS. Uma observação importante é que alguns destes filmes são facilmente achados em plataformas de streaming enquanto outros somente em plataformas "alternativas". Enfim, deixo aí algumas dicas para quem se interessar.

6 livros críticos ao neurossexismo

Estou finalizando a leitura do recém-lançado livro Gênero e os nossos cérebros, da neurocientista Gina Rippon e, ao invés de fazer uma resenha deste livro específico (que achei sensacional!) pensei em indicar algumas obras que tratem da questão do neurossexismo - veja imagem ao lado. Este termo, criado pela psicóloga Cordelia Fine e utilizado inicialmente em sua clássica obra Delusions of Gender (lançada em 2010 e traduzida para o português como Homens não são de Marte, mulheres não são de Vênus) diz respeito às interpretações dos achados neurocientíficos que explicam ou justificam os estereótipos de gênero, socialmente construídos. Todos os livros aqui indicados trazem importantes e bem fundamentadas criticas às teorias e interpretações supostamente científicas que explicam as diferenças de gênero recorrendo apenas ou fortemente à Biologia. Segundo tais teorias, homens e mulheres seriam essencialmente diferentes por terem genes e cérebros completamente distintos, e mesmo opostos, desde a concepção - o que explicaria os diferentes comportamentos e aptidões entre os gêneros. As autoras dos livros indicados se opõem com veemência à esta interpretação, mostrando, com muitos dados científicos, que se homens e mulheres são diferentes isto não se deve a diferenças essenciais/biológicas, mas às diferentes experiências generificadas a que homens e mulheres estão expostos desde o nascimento - e até mesmo antes, basta prestar atenção nos tais "chás de revelação". O conceito de neuroplasticidade é fundamental nesta nova interpretação dos dados científicos por apontar justamente para o fato de os cérebros (e, mais amplamente, as pessoas) serem formados no e pelo mundo - e se o mundo divide desde brinquedos até profissões em função do gênero, a tendência é que as pessoas acabem seguindo e perpetuando tais divisões. Como bem afirma Gina Rippon "precisamos examinar com muita atenção o que acontece tanto fora quanto dentro da cabeça. Não podemos mais engessar o debate sobre as diferenças sexuais entre natureza versus criação - precisamos reconhecer que a relação entre um cérebro e seu mundo não é uma via de mão única mas um fluxo de tráfego constante em mão dupla".

OBS: eu também trato desta questão do neurossexismo nos meus dois livros. No primeiro, "O cérebro vai à escola" eu aponto, no terceiro capítulo, para a forma essencialista como os livros sobre neurociência voltados para educadores tratam do tema das diferenças de gênero. Já no Você não é seu cérebro!, há um capítulo intitulado "Desconstruindo Marte e Vênus: reflexões sobre neurossexismos e neurofeminismos", no qual eu tento resumir toda esta discussão.

Homenagem à Contardo Calligaris

No último dia 30 de Março faleceu Contardo Calligaris, psicanalista e autor de um pequeno-grande livro intitulado Cartas a um jovem terapeuta - e de muitos outros. Eu não sou psicanalista nem, de fato, muito afeito à abordagem psicanalítica (embora goste dos escritos mais sociológicos de Freud), mas este livro foi extremamente marcante na minha formação e me ajudou muito em meus primeiros momentos como terapeuta. Gosto desse livro especialmente porque ele não é voltado apenas para psicanalistas, mas para terapeutas em geral e para estudantes de graduação que almejam um dia se tornarem terapeutas. Sua abordagem não ortodoxa e não voltada apenas para convertidos à psicanálise me encantou desde a primeira vez que li. E desde então já o reli algumas vezes e sempre me surpreendo com suas reflexões, resultado de anos de prática clínica. Aliás, esta experiência clínica do autor transborda em seus escritos, inclusive neste livro. Fica totalmente claro ao leitor que a obra foi escrita por alguém que não apenas domina uma série de teorias (o que é importante mas insuficiente para a prática clínica) mas que também atende dia após dia, ano após ano, inúmeras pessoas com suas dores, suas alegrias e suas contradições. Sua abordagem pé-no-chão é o que mais gosto neste livro, e é justamente o que sinto falta em grande parte dos livros de/sobre psicoterapia, nos quais as discussões teóricas, às vezes terrivelmente abstratas, ganham sempre mais destaque do que o arroz-com-feijão da psicoterapia, que é a escuta, o acolhimento e a empatia - elementos fundamentais que compõem ou deveriam compor qualquer prática psicoterapêutica, independente da abordagem do terapeuta. A postura não ortodoxa de Calligaris, que o permite circular por áreas e saberes, atingindo assim pessoas de fora da comunidade psicanalítica, é algo que trago comigo. Penso, como ele, na abordagem terapêutica como um norte possível, não como uma camisa de força ou como algo que traga todas as respostas - pois nenhuma teoria ou abordagem jamais trará. Enfim, Contardo Calligaris fará falta... foi um grande sujeito e um fantástico escritor, que trouxe imensas contribuições para a área psi no Brasil e no exterior. Lamento profundamente sua morte!