quinta-feira, 30 de julho de 2009

Tú, místico - Fernando Pessoa


Tu, Místico

Alberto Caeiro/ Fernando Pessoa



Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.

Para ti tudo tem um sentido velado.

Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.

O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa.



Para mim, graças a ter olhos só para ver,

Eu vejo ausência de significação em todas as cousas;

Vejo-o e amo-me, porque ser uma cousa é não significar nada.

Ser uma cousa é não ser susceptível de interpretação.


Fonte: Poesia Completa de Alberto Caeiro (Companhia de Bolso, 2005)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Olho por olho - Lucas Figueiredo

Depois de publicar os ESPETACULARES Morcegos negros (sobre a corrupção no governo Collor), Ministério do silêncio (sobre a história dos serviços secretos brasileiros) e O operador (sobre o mensalão, tanto em sua primeira versão mineira e tucana quanto na posterior nacional e petista), o premiado jornalista Lucas Figueiredo acaba de lançar o livro Olho por olho: os Livros Secretos da Ditadura (ed. Record, 2009). De acordo com o site do projeto Sempre um Papo (vinculado pela TV Camara):

A guerra entre os defensores e os opositores da ditadura militar no Brasil (1964 a 1985) foi longa e suja. O que durante duas décadas não se soube é que o confronto derradeiro mobilizou menos de 40 combatentes de cada lado, foi silencioso — quase invisível — e durou 28 anos: de 1979 a 2007. Um conflito que extrapolou, assim, o próprio período da ditadura. A última batalha dessa guerra foi travada por dois livros. “Brasil: nunca mais” — a “bíblia” sobre a tortura praticada pelas Forças Armadas — e o menos conhecido “Orvil”, a resposta do Exército, sobre a guerrilha e o terrorismo de esquerda. Os bastidores dessa batalha, com detalhes de cortar o fôlego, estão reunidos no livro “Olho por Olho: os Livros Secretos da Ditadura”. Na obra, Figueiredo — com três Prêmios Esso de Jornalismo no currículo — revela toda a tensão dos seis anos de trabalho sigiloso do “Brasil: nunca mais”. Além disso, a obra traz à tona o “Orvil”, o livro de quase mil páginas que o Exército produziu para rebater o “Brasil: nunca mais”, mas que nunca foi publicado, tornando-se assim talvez o mais volumoso documento secreto das Forças Armadas. Depois de ter acesso a uma das quinze cópias sigilosas do “Orvil”, o jornalista constatou um fato impressionante: no livro secreto, o Exército confessa o envolvimento na morte de duas dúzias de presos e desaparecidos políticos.

Li as obras anteriores de Lucas com um prazer incomensurável. Ele, além de um brilhante jornalista - e, por isso, obsessivamente atento aos fatos - é também um escritor extremamente talentoso que consegue transformar importantes, porém pouco explorados, momentos históricos brasileiros em puro suspense. Enfim, seus livros são deliciosos, mesmo, e especialmente, quando tratam de temas duros e indigestos de nossa história recente. Pretendo encomendar Olho por olho esta semana, mas, desde já, fica a dica para todos que - como eu - gostam de bons livros de não-ficção. Afinal, a realidade sempre dá um jeito de nos surpreender...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Documentário "Sociedade Secreta"

Recebi hoje por e-mail (de uma pessoa muito querida) a indicação de um curta-metragem intitulado Sociedade Secreta (2008, 28 min), co-dirigido pelo cineasta Kayky Avraham. Repasso a vocês! De acordo com reportagem da Folha Online "Avraham entrou na equipe do documentário após receber uma câmera dos diretores do filme, os então estudantes Juliana Vettore e Murillo Camarotto, formandos em jornalismo da PUC-SP. Na época, 2007, Avraham nunca havia participado de um filme. Era usuário do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) da rua Itapeva, na região central de São Paulo, onde até hoje passa por tratamento para controlar um quadro de distúrbio bipolar com traços de esquizofrenia. Com a câmera entregue pela equipe, Avraham começou a registrar cenas dentro do Caps e acabou como codiretor e protagonista do filme, que retrata as mudanças no sistema de saúde mental após a reforma psiquiátrica de 2001, que tem a intenção de substituir os antigos manicômios por atendimento extra-hospitalar". Em outra reportagem (intitulada "Paciente produz e dirige documentário; ator cria blog contra preconceito" e publicada no dia 4 de Julho de 2009) a Folha apresenta o excepcional trabalho de dois artistas em prol dos direitos humanos - sobre um deles já tratei neste blog, aqui e aqui. Reproduzo abaixo a breve reportagem:

O ator global Bruno Gagliasso, 27, não conhece o cineasta Kayky Avraham, 40, mas os dois usam a arte como forma de combater a loucura. Diagnosticado com distúrbio bipolar e traços de esquizofrenia, em 2007 Avraham codirigiu o filme "Sociedade Secreta", sobre as mudanças no atendimento à saúde mental desde a reforma psiquiátrica de 2001. O cineasta frequenta o Centro de Atenção Psicossocial Itapeva, no centro de São Paulo, e diz que a arte melhorou inclusive sua saúde. Já Bruno Gagliasso, que interpreta o personagem esquizofrênico Tarso na novela "Caminho das Índias", usa a arte para contar que problemas como o preconceito sofrido por Avraham continuam parte da rotina dos doentes mentais. "O preconceito contra essas pessoas é imenso. Um paciente com esquizofrenia me disse que nem queria ter os direitos dos "normais", só queria ser visto da mesma forma que um deficiente físico". Walter Ferreira de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, tem opinião semelhante: "Basta a pessoa chegar perto de um hospital psiquiátrico que fica estigmatizada, é vista como improdutiva". No ano passado, Gagliasso percorreu o Brasil com a peça "Um Certo Van Gogh", na qual interpretava o pintor holandês, que sofria de ataques psicóticos e delírios e experimentou seu período mais criativo em um sanatório na França (veja quadro ao lado). O ator criou um blog que fala sobre doença mental, no qual sugere leituras sobre loucura e dialoga com os fãs, inclusive pacientes. Gagliasso conta que seu taxista tinha medo de levá-lo para os ensaios de uma banda formada por profissionais e pacientes, no Rio. "Eu o convidei a entrar. Apontei para um deles, todo mundo dançando e cantando, e perguntei para o taxista "esse aí é louco'? "Claro que é, olha a cara dele", ele respondeu. Era um dos terapeutas. Na saída, ele disse que não trabalharia mais naquele dia, para preservar a emoção que sentiu."


Como não consegui ter acesso ao URL do video (restrito aos assinantes UOL) para disponibilizá-lo neste blog, peço que cliquem na imagem acima (ou aqui) para assistí-lo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

1 ano de blog!!!


Hoje (dia 17 de Julho) faz exatamente um ano que criei este blog! Nem acredito que cheguei até aqui... Sério! Trabalho 8 horas por dia (de 8 às 12 e de 14 às 18 horas) e só escrevo na hora do almoço ou, excepcionalmente, quando acho uma brecha no serviço (o que é raro!). De qualquer forma tem sido uma honra ter este espaço para divulgar e discutir notícias e idéias do mundo psi. Neste período de um ano publiquei cerca de 250 posts, configurando uma média nada desprezível de 20 posts por mês. Também neste período cerca de 5000 (cinco mil) pessoas passaram por este blog, o que considero absolutamente surpreendente, dada sua especificidade! Agradeço profunda e sinceramente a todos que visitam este blog e que - espantosamente - se interessam pelo que eu tenho a dizer ou divulgar! OBRIGADO...

Lançamento: Publicar em Psicologia


Ocorreu no último dia 13 em São Paulo o lançamento do importante livro Publicar em Psicologia: um enfoque para a revista científica (organizado pelas autoras Aparecida A. Z. P. Sabadini, Maria Imaculada C. Sampaio e Silvia Helena Koller). De acordo com a Casa do Psicólogo, que editou esta publicação em parceria com o CFP, o IPUSP e a ABECIP, "o manual reúne uma série de artigos refletindo sobre a publicação de artigos científicos em psicologia. 'A publicação dá a necessária visibilidade à produção de um país, preserva a memória e legitima o conhecimento gerado em uma determinada comunidade', escrevem as organizadoras na apresentação". O mais interessante é que o livro está integral e gratuitamente disponível na internet, no blog Publicar em Psicologia. Para ir direto à versão em pdf do livro clique na imagem acima.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Christiane F. 30 anos depois

Complementando o último post de Felipe Epaminondas (do blog Psicológico), encontrei a seguinte notícia no Portal Terra:

Após 30 anos, Christiane F. ainda luta contra vício 
Christiane Vera Felscherinow ainda não se livrou da guerra particular iniciada em 1975 contra as drogas. Aos 43 anos, a alemã chegou a um estado que alguns médicos consideram "irreversível": sofre de hepatite tipo C e de graves problemas circulatórios. A senhora Felscherinow é, para o mundo, Christiane F., drogada e prostituída aos 13 anos. Seu drama de vício da heroína virou best seller e filme cultuado na década de 80. Hoje, 27 anos depois do livro, Christiane é um retrato, ainda vivo, do poder destruidor das drogas. Apenas em dezembro de 2005, o serviço público de saúde alemão registrou duas internações da paciente, que há anos passa por inúmeros tratamentos de desintoxicação. Todos, invariavelmente, não a livraram do uso de heroína. A iminência de um "colapso circulatório com potencial risco às funções vitais" é descrita em pelo menos um relatório médico. Christiane tem de passar regularmente por sessões de hemodiálise. Mas além das agulhas e injeções hospitalares, ela sempre recorreu ao "pico" da heroína. Sem emprego fixo, Christiane sobrevive dos royalties das obras às quais empresta sua história. A vendagem de livros e a exibição do filme, porém, têm sido cada vez mais escassos. Sua situação financeira é limítrofe: vive com dois tios e o filho de 9 anos, Jan-Nicklas, num apartamento modesto em Berlim. É seu sétimo endereço em 15 anos. Desde que se tornou famosa ao ser "descoberta" por dois jornalistas alemães, que publicaram suas memórias em série na prestigiosa revista Stern, em 1979, Christiane tentou reconstruir a vida, sem sucesso. Chegou a anunciar que estava "limpa", livre das drogas. Anos depois, admitiu que isso nunca ocorreu, a não ser por um período máximo de cinco meses. Fez curso de contabilidade, mas quando começou a trabalhar num escritório acabou presa por posse de droga, em 1983. Depois, tentou ser vendedora de livros: durou três semanas na profissão. Christiane brincou de atriz (interpretou uma dançarina de boate num filme B) e foi cantora de banda punk. Nada sério. Convicta, ela sempre diz que não se considera uma vítima das drogas. Pelo contrário, garante que faz tudo de forma absolutamente consciente. Em entrevista ao semanário holandês De Limburger, em 2005, Christiane deu um recado às milhares de pessoas que se chocam (mas que também admiram) com a sua história. "Eu nunca quis ser exemplo de nada a ninguém, acho que cada um deve saber o que está fazendo. Eu, pelo menos, sei o que faço".


Divórcio dos pais

O inferno de Christiane Vera Felscherinow começou em 1973, quando seus pais se divorciaram. Freqüentadora da discoteca Sound, conheceu Detlef, que se tornaria seu namorado. Viciado em heroína e garoto de programa, Detlef introduz Christiane na "gangue do Zôo", grupo de jovens berlinenses que usavam drogas numa famosa estação de metrô da cidade alemã. No local, ela se prostituiu dos 13 aos 15 anos, necessitando de três "picos" (doses da droga) por dia na reta final. No início, fazia programas para completar o valor do "pico". Ela dizia que só admitia sexo oral ou masturbação nos clientes. Dizia ser "seletiva", repelia os "nojentos", levava uma tarde inteira pra aceitar um cliente. Depois, mudou, aceitava o primeiro que aparecia, tinha relações dentro de carros. Os jornalistas Kai Herman e Horst Rieck, da revista Stern, notaram a presença da garota durante uma reportagem e escreveram uma série de reportagens na publicação. Foi a origem do livro. O ex-namorado Detlef ainda está vivo e mora em Berlim. Com filho e mulher, ele se diz limpo.



Triste, muito triste! Esta notícia, porém, só evidencia o que os profissionais que trabalham na área já estão carecas de saber: que é muito difícil superar a dependência de drogas. Obviamente não é impossível - inúmeros casos e estatísticas atestam isso -, mas convenhamos que é muito doloroso encarar a realidade de frente, sem ilusão. Isto é difícil para todos nós, imagine para os dependentes, que conheceram de perto o "fantástico" mundo da consciência alterada. Voltar à realidade e colocar novamente os pés no chão não é nada fácil. Ouvi certa vez e concordo: no tratamento da dependência de drogas o mais importante não é como tirar a droga, mas o quê colocar no lugar. Por experiência própria (como psicólogo!) percebo que muitos só abandonam a ilusão das drogas substituindo-a por outra ilusão. Comumente migram para (ou re-descobrem) a religião. Já está mais do que provado que praticar a religião (só falar que tem uma não basta!) é um importante fator de proteção ao uso, abuso e dependência de drogas, mas cabe a pergunta: não estará a pessoa substituindo uma ilusão por outra - trocando as drogas por Deus? Acredito que sim e esta é somente uma crença que nunca vou poder provar (sim, um ato de fé!). Concordo com quem afirma que a religião é muito menos danosa do que as drogas. Certamente! Mas, como as drogas, grande parte das religiões (o Budismo talvez seja uma exceção) fazem crer em um mundo imaginário para além do mundo cotidiano, uma vida para além da vida. Se isto é bom ou ruim não vem ao caso pois a crença em Deus e no além vai continuar existindo - queira ou não Richard Dawkins - como sempre existiu (assim como as drogas). O que me questiono com frequência é se não é possível viver só de realidade? Serão as ilusões necessárias para o ser humano? Para Christiane F. certamente é...

Vazio existencial

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Psicóloga missionária... Meu Deus!!!

Li a notícia abaixo no site SNN. É simplesmente chocante ver uma pessoa formada em Psicologia (não a chamo de psicóloga, percebam) falando tantas besteiras. A pessoa em questão é a senhora Rozângela Justino, auto-declarada "psicóloga missionária" e recente alvo de um processo no CFP, instaurado a partir de representação da ABGLT em função de seus discursos homofóbicos e práticas de “cura” de homossexuais. O julgamento estava marcado para o dia 29 de Maio, mas acabou sendo adiado para 31 de Julho. Recheando ainda mais seu currículo, Rozângela já recebeu, segundo o site Mix Brasil, “o troféu Pau de Sebo, concedido pelo GGB a quem promove o preconceito contra homossexuais”. Currículo interessante, não? Segue a notícia:

O 3° Encontro para uma Sexualidade Sadia realizado nesta terça-feria, 5, na Central de Palestras do X Encontro para a Consciência Cristã, trouxe como tema principal “A Desconstrução de Valores apontando para uma nova Sodoma”, abordado pela psicóloga Rosângela Justino. No entendimento de Rosângela, desconstrução diz respeito a tentativa de retirar os alicerces humanos, seus valores e ideais, sendo então algo que leva o homem a um estado de total destruição. Segundo ela, uma das formas pela qual o “movimento da desconstrução” tem conquistado território é pelo lado da sexualidade. “Se tínhamos o valor que o casamento entre homem e mulher era um valor bíblico, ético e moral, mas hoje há um trabalho para desconstruir esse valor, tentando mostrar que o casamento de homem com homem e mulher com mulher é algo natural. Isso é uma forma de minar esses alicerces”, afirmou. Para a psicóloga, a única maneira de mantermos uma sexualidade sadia é fortalecendo os princípios cristãos e melhorando as relações familiares. O terceiro Encontro para uma Sexualidade Sadia terminou nesta terça-feira junto com todos os eventos paralelos do X Encontro para a Consciência Cristã.

O que não entendo é porque ela insiste em se declarar psicóloga. Se admitisse ser apenas uma “religiosa missionária” não haveria problema algum. Ela poderia continuar falando e fazendo as besteiras dela sem problemas. Mas ela insiste neste discurso pretensamente “psicológico”, mas que de Psicologia não tem nada. É moralismo cristão puro e simples. Rozângela, por favor, leia um pouquinho de história e antropologia antes de falar em relações "naturais"... Deixe a Bíblia de lado só um minutinho, criatura!

Pra piorar, alguns apoiadores de Rozângela dizem se tratar de uma censura do CFP a proibição de suas atividades e discursos. Mas a questão é que o CFP é um órgão político e não pode deixar tudo, literalmente, ao deus-dará. Tem de estabelecer limites para nossa atuação profissional. Todas as profissões tem limites, porque a nossa seria diferente? E Rozângela pode fazer ou falar o que quiser desde que não o faça como Psicóloga. Simples assim...

UpDate 10/07/09: Dentre os apoiadores de Rozângela está o Deputado Federal Jairo Paes de Lira, coronel ultra-conservador vinculado ao PTC, o Partido Trabalhista Cristão. Em seu canal do Youtube ele se manifestou a respeito do caso da "psicóloga". Para ver sua assustadora opinião sobre o assunto avance o video abaixo até os 6 minutos e 50 segundos (06:50)... Triste, muite triste!



OBS: Que fundamentos científicos????

OBS2: A grande ironia nesta história toda é que o deputado assumiu (???) o cargo na Câmara Federal com a morte de Clodovil Hernandes. Paes de Lira era suplente dele...

OBS3: No blog da "psicóloga", que também é presidente da ABRACEH (Associação Brasileira de Apoio aos que Voluntariamente Desejam Deixar a Homossexualidade, porém divulgada como Associação de Apoio ao Ser Humano e à Família) há uma série de fotos da manifestação que os apoiadores de Rozângela fizeram em Brasília (veja abaixo). Já no site da ABRAPEH há vários textos, além de uma carta aberta ao CFP e CRPs escrita por Rozângela, que explica os "fundamentos científicos" da "terapia de conversão" de homossexuais. É ver para crer (ou melhor, crer para ver)!






Update 14/07/2009 - Em reportagem publicada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, ficam claras as intenções da "psicóloga". O reporter se passou (incógnito) por paciente de Rozângela e ouviu o seguinte dela: "Tenho minha experiência religiosa que eu não nego. Tudo que faço fora do consultório é permeado pelo religioso. Sinto-me direcionada por Deus para ajudar as pessoas que estão homossexuais", afirma a "psicóloga". Outra pessoa entrevistada pela reportagem, a almoxarife Cláudia Machado "diz que recebeu de Rozângela a apostila 'Saindo da homossexualidade para a heterossexualidade', que prega meios para a mudança de orientação sexual. 'Hoje vivo a minha homossexualidade tranquila, essa história de cura não existe, o que houve foi um condicionamento. Reprimi meus desejos. Não sentia prazer', diz". Já a pedagoga Fernanda, "diz ter sido lésbica por dez anos e que, depois da terapia que faz com Rozângela há quatro anos, passou a ter relações heterossexuais. 'Realmente há possibilidade de sair da homossexualidade. É um processo longo. De lá para cá busco a feminilidade'. Para quem se interessar em ler toda a reportagem clique aqui. Reproduzo abaixo apenas a última parte, intitulada "Como paciente, repórter paga R$ 100 a sessão":

Numa sala onde mal cabem dois sofás cobertos com capas meio encardidas e uma cadeira de palha, a psicóloga Rozângela Alves Justino promete "curar" gays em terapia que pode durar de dois a cinco anos. A mulher de fala mansa e fleumática diz já ter "revertido" uns 200 pacientes da homossexualidade -que vê como doença- em 21 anos de profissão. Sem se identificar como jornalista, a reportagem se passou por paciente e pagou por uma consulta - R$ 200, regateados sem resistência para R$ 100. Para uma primeira sessão, ela mais fala do que ouve. Tampouco anota dados ou declarações do consulente. Explica que faz "militância política para defender o direito daquelas pessoas que querem voluntariamente deixar a homossexualidade". "É um transtorno porque traz sofrimento", diz a psicóloga, formada nos anos 1980 no Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio. Rozângela diz adotar a "linha existencialista" e que 50% de chance do sucesso da "cura" vem da vontade do homossexual de sair "dessa vida" e outros 50% decorrem do trabalho psicoterápico. "É preciso entender o que está por trás da homossexualidade. E a mudança vai acontecendo naturalmente. Vamos tentar entender o que aconteceu para que você tenha desenvolvido a homossexualidade. Na medida em que você for entendendo a sua história, vai ficar mais fácil sair", diz. Rozângela mostra plena convicção no que defende. "Com certeza há possibilidade de saída. Nesses 20 anos já vi várias pessoas que deixaram a homossexualidade. Existe um grupo que deixou o comportamento HOMOSSEXUAL. Existem pessoas que, além do comportamento, deixaram a atração homossexual. E outras até desenvolveram a heterossexualidade e têm filhos." No final da consulta, a recomendação: "A igreja pode ser um espaço terapêutico também" - embora não faça pregação.

Imaginem se fizesse...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Psicologia cristã - O retorno


A frase abaixo foi retirada de uma reportagem recente vinculada pelo Google Notícias. Retirei o nome da psicóloga pois não quero receber mais uma ameaça de processo (como recebi há cerca de 1 mês em função de um post sobre um charlatão, que acabei retirando do ar):

"A psicóloga xxx abordou o tema do medo de amar. Disse que, apesar dos traumas, é possível superar as decepções com a ajuda de Deus, sem transformar as situações dolorosas em 'muletas'".

Não sei se a reportagem distorceu a fala da "psicóloga" ou se ela falou isso mesmo. A questão é que tal argumentação não é, digamos, "psicológica", mas pura e simplesmente religiosa. Portanto o "psicóloga" no início da frase já não faz o menor sentido... Venho insistindo nesta questão pois considero muito perigosa a junção da Psicologia (enquanto profissão) com a Religião. Ambas tem seu espaço na sociedade... separadamente! A religião, principalmente a católica, está impregnada de uma moral conservadora que o profissional não pode, no meu ponto de vista, levar para sua prática. Quando estagiava em um CAPS na minha cidade presenciei uma cena que nunca me esqueci. Coordenávamos, eu e outra estagiária, uma reunião com os usuários, quando um deles falou que estava aprendendo a tocar violão. Brincando, um outro usuário falou algo do tipo: "E punheta, continua tocando?". Imediatamente, minha colega estagiária, católica fervorosa, gritou que aquilo não podia ser dito, muito menos ser feito (se é que vocês me entendem)... É CLARO QUE AQUILO PODIA SER DITO E, CERTAMENTE, SER FEITO! Quando gritou com os usuários, a estagiária não estava sendo (ou tentando ser) uma profissional. Estava agindo como uma religiosa ultra-conservadora que considera tudo relacionado a sexo como pecado. Ela mesmo me confessou isso mais tarde! Triste...