terça-feira, 25 de novembro de 2008

Psicologia na TV - Parte 2


Descobri no blog Ciência e Psicologia um programa de TV que parece interessante, apesar de apelativo - como quase todos os programas de "vida real". O programa, já na nona temporada, chama-se True Life (!!!) e é vinculado pela MTV às 23:00 horas de Quinta-Feira com reprise à 1:00 hora da manhã no Sábado (na verdade Domingo).

Outros episódios que parecem interessantes são: "Tenho Síndrome do Pânico" (saiba mais aqui); "Tenho Síndrome de Tourette", "Sou viciado em Metanfetamina", dentre outros. Fica a dica!
Cada programa mostra o dia-a-dia de uma ou várias pessoas com problemas específicos. Por exemplo, o último episódio vinculado na MTV Brasil, intitulado "True Life: Sou um alcólatra", acompanha a jovem Casey (foto abaixo) que, de acordo com o site do programa, "se mudou recentemente para Las Vegas, onde gasta todo o dinheiro dado pelos pais para pagar o aluguel em bebidas alcoólicas. Aos 21 anos, ela já foi presa algumas vezes, foi pega dirigindo embriagada e não consegue se manter num emprego. Agora, sem a ajuda dos pais e sem grana para pagar o aluguel, ela terá que arrumar um emprego e, ao mesmo tempo, largar a bebida que a acompanha diariamente". O outro caso mostrado neste episódio é o de Cristina, que "tem 24 anos e é uma alcoólatra assumida. Ela argumenta que bebe para tratar sua depressão, mas reconhece que não leva uma vida muito saudável. Depois de um porre homérico numa boate, ela finalmente começa a freqüentar as reuniões do AA. Mesmo assim, continua num forte ritmo de bebedeiras aos finais de semana até levar um fora do namorado por conta desses exageros. Depois disso, ela cai na real, larga o álcool, pede ajuda para família e amigos e planeja passar o primeiro aniversário sóbria em três anos". 

OBS: No site do programa tem uma enquete ridícula: Com que freqüência você toma um porre? O absurdo é que não há a alternativa "Não tomo um porre" ou "Não bebo". Infelizmente essa não tem sido uma opção para a juventude (que se diz tão independente, mas "depende" da bebida para se divertir). Beber muito ou excessivamente, eis a questão!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Não dá para competir - Volume 8


Como será essa Terapia do Toque? O que vocês acham? Quem postar a melhor resposta vai ganhar... meu sincero parabéns!

Para ver os volumes anteriores clique: aqui (1), aqui (2), aqui (3), aqui (4), aqui (5) , aqui (6) e aqui (7).

Notícias imbecis, manchetes idem - p.3


Saiu ontem no site português Exame Informática:
E se o telemóvel substituir o psicólogo?
Um professor de psicologia japonês teve uma ideia capaz de fazer corar Freud e criou sessões interactivas de psicologia através do telemóvel.



A missão de Yutaka Ohno é ambiciosa: curar um país à beira da depressão, com o recurso ao celular. O sistema desenvolvido pelo investigador japonês utiliza o telemóvel para classificar os níveis de depressão do utilizador, fazendo perguntas sobre hábitos de alimentação ou de repouso. Os telemóveis dos japoneses são utilizados para servir de carteira, bilhetes nos transportes públicos e de televisão. Ohno explicou que o sistema não substitui completamente um tratamento de um psicólogo e que serve de complemento, noticia o Yahoo!Tech. O Japão tem uma das taxas de suicídio mais elevadas do mundo, com 30 mil vítimas em 2007.

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É absurdo (e até perigoso) acreditar que uma máquina um dia substituirá o contato humano na resolução de problemas complexos como a depressão - que é gerada e mantida por muito mais fatores do que os hábitos de alimentação e repouso de uma pessoa. Pode ser que o futuro mostre o quanto estou errado e que uma máquina possa efetivamente substituir um psicólogo e tratar a depressão, mas felizmente estamos longe disto: a humanidade ainda persiste. No mais acabou de surgir um novo significado para Terapia Celular.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Fábio Assunção vai pra Rehab



O assunto que certamente vai bombar na net e nas conversas esta semana é o afastamento do ator Fábio Assunção da novela "Negócio da China" (onde é protagonista) para tratamento da dependência de cocaína. O assunto é capa da revista Veja desta semana, bem como de diversas reportagens na imprensa escrita e digital. A abordagem da mídia tem sido, como sempre, sensacionalista, pouco informativa e nada reflexiva (como vocês podem ver pela irônica e idiota manchete do jornal Meia Hora do dia 14 de Novembro, reproduzida acima). E como sempre a dependência é entendida como fraqueza de caráter. O próprio autor da novela, Miguel Falabella, disse para o JB Online que "gostaria que ele voltasse para o fim da novela. O Fábio é bonito, talentoso, mas está passando por um período de fraqueza. E quem não tem as suas?". Fábio não tem uma fraqueza, mas uma doença. Isto não significa que ele não tem responsabilidade sobre seu tratamento, mas também não é o único algoz de seu problema. Fábio, como qualquer dependente químico, é, ao mesmo tempo, mocinho e vilão de sua dependência. De qualquer forma, espero que a internação ajude Fábio a superá-la.

Aproveito a oportunidade para indicar dois livros recém-lançados pela editora Artmed sobre o tratamento em dependência química. O primeiro, intitulado "Prática psicoterápica eficaz dos problemas de álcool e drogas" (de A. M. Washton e J. B. Zweben), parece espetacular. Segundo o site da editora, este livro "mostra como: conduzir avaliações precisas do uso de álcool e drogas; engajar os pacientes 'onde eles estão' e intensificar a motivação para a mudança; desenvolver um plano de tratamento individualizado; trabalhar em direção a objetivos aceitos mutuamente de abstinência ou redução de danos; abordar os problemas emocionais e psiquiátricos coexistentes; reduzir os riscos de recaída e administrar os reveses; abordar os assuntos psicodinâmicos centrais ligados aos transtornos relacionados ao uso de substâncias". Diz ainda que, além de um "guia prático de valor inestimável, este livro é leitura obrigatória de profissionais de qualquer orientação ou disciplina teórica, incluindo psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, conselheiros, terapeutas de família e enfermeiros, assim como alunos com estudos avançados nessas áreas. Os especialistas no tratamento do uso de substâncias também encontrarão uma fonte exclusiva de informações". 

O outro livro (re)lançado pela editora é o clássico "Prevenção de recaída: estratégias de manutenção no tratamento de comportamentos aditivos" (de G. A. Marlatt, D. M. Donovan e colaboradores), publicado originalmente por Marlatt e Judith Gordon em 1985, lançado no Brasil em 1993, esgotado e (finalmente!) re-lançado agora em uma segunda edição revista e ampliada pela mesma editora. O livro é imperdível para quem trabalha com dependentes químicos. De acordo com o site da editora, "fundamentado em pesquisa e ilustrado com inúmeras vinhetas clínicas, Prevenção de recaída apresenta maneiras inovadoras para ajudar as pessoas a manterem a abstinência e os difíceis objetivos do tratamento de redução do dano – mesmo em situações de alto risco. Com extensa revisão dos capítulos sobre álcool, fumo e transtornos alimentares, esta edição apresenta novos capítulos sobre estimulantes, opióides, cannabis, club drugs, jogo patológico, comportamentos sexuais de risco e de transgressão sexual e questões etnoculturais na prevenção da recaída. Este livro apresenta conceitos e ferramentas essenciais para todos os profissionais que trabalham nesta área desafiadora, incluindo psicólogos clínicos, assistentes sociais, psiquiatras e conselheiros de dependências químicas, e profissionais de saúde afins. Os estudantes e residentes nestes campos vão considerá-lo um texto extremamente informativo".

OBS: Ontem mandei um e-mail para a editora perguntando se não tem intenção de re-lançar outro livro magnífico, "Processos humanos de mudança", do psicólogo construtivista Michael J. Mahoney. Esgotado há alguns anos, este livro deveria ser amplamente lido e estudado nas faculdades de psicologia. Não recebi resposta da editora ainda... Update (18/11): a Artmed disse não ter previsão de editar o livro novamente. Triste!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ensaio sobre a nossa cegueira



No último fim-de-semana finalmente assisti o filme Ensaio sobre a cegueira, do brilhante diretor Fernando Meirelles. Apenas uma palavra: MARAVILHOSO!!! Fernando, como era de se esperar, acertou ao escolher levar às telas a interessantíssima alegoria sobre a humanidade de José Saramago. E felizmente não se rendeu ao estilo hollywoodiano de contar histórias. O filme tem um ritmo mais lento e, coerentemente com o enredo, a maior parte das imagens são desfocadas e esbranquiçadas, o que impede que captemos exatamente o que está ocorrendo na tela. O filme nos coloca na posição de cegos. Não vou falar mais, pois ninguém melhor do que o próprio Saramago para falar sobre uma adaptação de sua obra:

OBS: A crítica de Pablo Vilaça do filme, como sempre, é excelente.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Não dá para competir - Volume 7



Definitivamente não dá para competir com quem tem A RESPOSTA PARA ABSOLUTAMENTE TUDO. Quanta pretenção, meu deus!!! Os autores (e agora "cineastas") de auto-ajuda sempre dão um jeito de se superar. O Segredo atualmente não é mais do que um misteriozinho bobo diante da RESPOSTA PARA ABSOLUTAMENTE TUDO. E além do mais estes picaretas odeiam artigo indefinido: nunca falam em um Segredo, mas n'O SEGREDO; nunca em uma resposta, mas n'A RESPOSTA. Isto para não falar que filmes como esse são ABSOLUTAMENTE CHATOS, como vocês podem ver no trailler do filme:

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Lançamento - Mentes Perigosas


Depois de publicar "Mentes Inquietas" (sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH) , "Mentes & manias" (sobre o Transtorno Obssessivo-Compulsivo - TOC), "Mentes com medo" (sobre os Transtornos de Ansiedade: fobia, síndrome do pânico, ansiedade generalizada, TEPT, etc.) e "Mentes insaciáveis" (sobre os Transtornos Alimentares: anorexia, bulimia, vigorexia e obesidade), a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva acaba de lançar o livro "Mentes perigosas - O Psicopata mora ao lado", sobre o Transtorno de Personalidade Antissocial, popularmente conhecido como psicopatia.

Ana Beatriz, acusada por muitos acadêmicos invejosos e pouco (ou nada) lidos, de superficial e popularesca, é, na minha opinião, uma ótima divulgadora do campo “psi”. Ainda que não tenha a genialidade dos grande divulgadores científicos (Carl Sagan, Stephen Jay Golud, Richard Dawkins, Antonio Damásio, etc), a autora atinge seu objetivo (alertar e explicar à população sobre as psicopatologias) sem precisar recorrer ao insuportável porém disseminado "academiquês", linguagem hermética e ininteligível, utilizada por intelectuais - comumente psicanalistas - que, inseguros quanto ao próprio conhecimento, escrevem de forma a gerar nos leitores um estranho comportamento: quanto menos eles entendem o que está escrito, mais admiram o escritor. Devem pensar: “se eu não estou entendendo o texto é porque eu sou burro; e se eu sou burro é porque o escritor é inteligente”. E assim, estes intelectuais são colocados no Olimpo acadêmico e idealizados para todo o sempre... NOT!!! (como diria Borat).



De qualquer forma, o tema deste novo livro é fascinante e já foi intensamente explorado – muitas vezes equivocadamente - no cinema, em filmes de serial killers (Seven, Do inferno, Jogos Mortais, etc.) e em séries de TV (CSI, Bones, Dexter, etc), além de novelas (vide Flora). Mas ainda há poucos livros sérios e artigos científicos sobre o assunto. Este lançamento vem a calhar. Além disso, na esteira dos acontecimentos em Santo André, que culminou com a morte de Eloá e a prisão do jovem Lindemberg Faria, a mídia voltou sua atenção para a psicopatia (ainda que haja muitas dúvidas se, neste caso, há realmente um diagnóstico). O assunto foi capa da Istoé da semana passada, bem como de reportagem/entrevista da revista Época.

Psicologia Espacial


Mesmo com tantas áreas já existentes na Psicologia (clínica, escolar/ educacional, organizacional/do trabalho, hospitalar, jurídica/ forense, desportiva, ambiental, social-comunitária, política/ econômica, neuropsicologia, etc), vira e mexe uma nova área é criada. Chegou a vez Psicologia Espacial. Sobre esta nova "possibilidade" de atuação do psicólogo, sugiro a leitura da seguinte notícia, publicada mês passado no site da revista Info:

Astronautas ganham psicólogo online

BOSTON – Seu trabalho é perigoso e seus colegas dependem de você para ficar vivos. Você não pode se afastar desses colegas, não vê sua família por meses – até anos – e a comida não é boa. E esqueça de dar uma volta para tomar um ar. Sem dúvida, a aventura do vôo no espaço pode sempre ser estressante, isolador e depressivo. Por isso, cientistas estão trabalhando para dar aos computadores a possibilidade de oferecer o entendimento – se não todo o conforto – de um terapeuta humano, antes que problemas psicológicos e conflitos interpessoais comprometam a missão. Testes clínicos no projeto de US$ 1,74 milhão e quatro anos para a Nasa, chamado Estação Espacial Virtual, devem começar em Boston no próximo mês. O novo programa não tem nada do HAL, de “2001: uma Odisséia no Espaço”. A interação entre o astronauta e a Estação Espacial Virtual é menos sofisticada e mais benevolente. No projeto, patrocinado pelo National Space Biomedical Research Institute, um terapeuta gravado em um vídeo guia o astronauta por uma terapia bastante usada na depressão chamada “tratamento de resolução de problemas”. A gravação ajuda os astronautas a identificarem as razões para sua depressão. O programa, então, ajuda-os a fazer planos para lutar contra a depressão, baseados nas descrições que os astronautas digitam sobre seus problemas. Os astronautas também podem aprender estratégias para lidar com conflitos por um jogo interativo e até mesmo ler livros de psicologia. Apesar de ser direcionado a astronautas, os líderes do projeto acreditam que ele poderia ajudar os pacientes da Terra que não vão a um terapeuta por causa do custo ou do orgulho, ou por viverem em áreas rurais com poucos psicólogos.


Ainda sobre este assunto comenta o psicólogo behaviorista Felipe Epaminontas em seu excelente blog Ciência e Psicologia:

Eu sempre quis ir ao espaço, mas pra que enviariam um psicólogo ao espaço? Bom, de acordo com o Universe Today, eu já tenho uma desculpa para isso! O fator psicológico dos astronautas é de grande preocupação atualmente para a NASA, principalmente quando se pensa em viagens de longa duração à Lua e Marte. A grande preocupação é a possibilidade de depressão e conflitos interpessoais. Em outro planeta, se ocorre algum desentendimento entre você e seu colega, não há como excluí-lo de sua vida. Se sentir saudades, não dá para voltar para casa. Em caso de acidentes, não existem serviços de emergência. Um estudo já está sendo feito na Terra em que voluntários passam vários dias isolados do resto do mundo realizando tarefas, com o objetivo de encontrar os principais desafios psicológicos do isolamento e maneiras de superá-los. Desafio que pode ser comparado aos grandes navegadores deixando seus continentes pela primeira vez. Mas nem tudo são tragédias: ao passar muito tempo no espaço ou andando pela Lua, alguns astronautas (ex. Russel Schweikart, Apollo 9; Edgar Mitchell, Apollo 14) relataram uma sensação de euforia e uma espécie de “conexão cósmica” com o universo. Um estado semelhante ao de monges budistas (ou algumas pessoas sobre efeito de LSD?). Será efeito da falta de gravidade no cérebro? Ou resultado de experiências tão diferentes? 
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Esta nova "possibilidade" de atuação profissional não deve vingar no Brasil. Estamos como sempre estivemos, por fora da corrida espacial em andamento no mundo. Com relação à atuação online já temos algumas experiências (ver aqui, aqui e aqui), embora o CFP proiba qualquer trabalho psicoterapêutico não-experimental mediado por computador (ver Resolução n° 12 de 2005) e tenha instituido, através da Resolução n° 6 de 2000, a Comissão Nacional de Credenciamento e Fiscalização dos Serviços de Psicologia pela Internet. De acordo com a primeira resolução citada (12/2005):

São reconhecidos os serviços psicológicos mediados por computador, desde que não psicoterapêuticos, tais como orientação psicológica e afetivo-sexual, orientação profissional, orientação de aprendizagem e Psicologia escolar, orientação ergonômica, consultorias a empresas, reabilitação cognitiva, ideomotora e comunicativa, processos prévios de seleção de pessoal, utilização de testes psicológicos informatizados com avaliação favorável de acordo com Resolução CFP N° 002/03, utilização de softwares informativos e educativos com resposta automatizada, e outros, desde que pontuais e informativos e que não firam o disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo e nesta Resolução.

CFP versus Vaticano

Antes do CFP eu já havia publicado e me manifestado sobre a recém-lançada resolução do Vaticano que exige a avaliação, por psicólogos, da orientação sexual de candidatos a sacristia. Hoje (dia 3 de Novembro) finalmente o CFP se posicionou: Um documento divulgado pelo Vaticano na última quinta-feira (30), anunciando a decisão de recorrer a psicólogos para avaliar se os candidatos a entrar nos seminários da Igreja Católica são homossexuais foi repudiado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Pelo menos no Brasil, os psicólogos não poderão avaliar pessoas para essa finalidade, sob pena de infringirem o Código de Ética da categoria e a Resolução 001/99 do CFP, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual.
 
Considerando que a homossexualidade não é doença, nem distúrbio e nem perversão, a Resolução define que os psicólogos “não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”. A Resolução determina ainda que “os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica”.

Apesar de considerar preconceituosa a posição, o Conselho não desconhece a soberania do Vaticano em definir suas normas internas. Contesta, isto sim, que a Igreja recorra aos psicólogos para respaldar esta posição e ignore os avanços dos movimentos sociais em todo o mundo, que defendem o direito à livre orientação sexual.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Psicologia e Homofobia


Só faltava essa:


Vaticano cria teste para identificar e banir gays



O Vaticano anunciou que irá adotar testes psicológicos para identificar tendências homossexuais em candidatos a padres. A decisão faz parte de um documento recém divulgado. As novas regras de orientação aos vocacionados inclui uma série de características que, identificadas no candidato, significam a sua reprovação ao sacerdócio. Aprovado pelo Papa Bento XVI, os testes devem ser aplicados em seminários católicos, mas o Vaticano informou que a submissão ao teste é voluntária. No conjunto de características listadas como impróprias para ser padre estão "estranhas tendências homossexuais", "identidade sexual incerta" e "excessiva rigidez de caráter", além de "forte dependência afetiva. Segundo o Vaticano, além da homossexualidade, a incidência de padres pedófilos também contribuiu para a criação e adoção dos testes. O documento com os testes é intitulado "Diretrizes para o Uso de Psicologia e Formação na Admissão dos Candidatos ao Sacerdócio". Em um dos anunciados contidos nele, uma frase ressalta: "erros no discernimento das vocações não são raros". A Igreja trata a homossexualidade, no documento, como "defeito." Está escrito: "a identificação dos defeitos antes do sacerdócio vai ajudar a evitar muitas experiências trágicas". Os testes serão executados por técnicos habilitados (psicólogos) e pretende identificar “imaturidade grave” e desequilíbrios de personalidade, os mesmos que a igreja atribuiu aos homossexuais.

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Agora só falta criar um teste para identificar pedófilos...

OBS: ainda bem que no Brasil o CFP lançou a Resolução n°1 de 1999, que "Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual," afirmando, dentre outras coisas, que "os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados", muito menos "colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades". Infelizmente esta resolução não impediu alguns "pecados" por parte de alguns "profissionais".

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Psicologia em Cordel



Está disponível no site BVS-Psi um livro de cordel denominado "Cem anos da Psicologia no Brasil", do cordelista e funcionário do CRP-11 Jozeilton Lima. Para acessá-lo (em pdf) basta clicar na figura acima. Apesar de superficial, é interessante ver a história da Psicologia no Brasil ser contada de outra forma além da acadêmica!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Psicologia dos Simpsons


Eu sou simplesmente viciado nos Simpsons. É, para mim, o melhor programa de TV. Também sou apaixonado, como era de se esperar, por psicologia. Então imaginem minha surpresa ao descobrir que existe um livro, ainda sem tradução no Brasil, chamado The Psychology of the Simpsons. Deve ser espetacular!!!

Curta da Semana - O bispo



Este video conta a história de Artur Bispo do Rosário (1909-1989), artista plástico e interno da Colônia Juliano Moreira. Quem o apresenta é Fernando Gabeira, isto é, o antigo Fernando Gabeira - o da tanguinha, da defesa da maconha, o combatente, o engajado e liberal; não o novo, este babaca sem opinião que se aliou à direita (PSDB e DEM/PFL) na tentativa de vencer as eleições municipais do Rio de Janeiro. Se deu mal: foi vender a alma pro DEMo, se fudeu! Bem feito!!! De qualquer forma, este video, da década de 80, é muito bom...

Dia Nacional do Livro



OBS: em função da data, o site Submarino, está vendendo todos os livros sem cobrança de frete. Eu acabei de encomendar o novo livro do Yalom (De frente para o Sol). Além dele já comprei muitos outros livros neste e em outras livrarias virtuais (Saraiva, Lojas Americanas, BestBooks, etc) e nunca tive problemas: os livros chegam bem rápido (normalmente em 2 ou 3 dias) e em ótimo estado. Além de serem (sem frete) mais baratos que nas livrarias convencionais. Fica a dica!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Novo livro do Yalom!!!



Foi lançado esta semana, pela editora Agir, o livro "De frente para o Sol", do fantástico escritor e psicoterapeuta Irvin Yalom, autor dos já clássicos "Quando Nietzsche chorou", "A Cura de Shoppenhauer", "Mentiras no Divã", "Desafios da Terapia", "O Carrasco do amor", "Mamãe e o sentido da vida", além do excelente livro teórico "Psicoterapia de Grupo". Vou comprá-lo ainda hoje...

Sinopse do livro: Por trás das nossas angústias, vive o fantasma da morte. Embora as religiões cumpram o papel de nos oferecer uma resposta para nossa existência, sobre a morte todas as nossas construções são imaginárias. A morte não deve ser temida. De certa forma, somos todos imortais, uma vez que algo de nós se transmite aos que nos rodeiam e aos nossos herdeiros por meio do que Yalom chama de propagação. Este livro se propõe a ser um guia acessível a todos aqueles - tanto leitores comuns quanto psicoterapeutas - que desejam fazer uma reflexão mais aprofundada sobre os mistérios que para cada um de nós abriga o futuro e o destino.

OBS: não sei se vocês sabem, mas o livro "Quando Nietzsche chorou" foi adaptado para o cinema. Ainda não o assisti pois estou com medo de o filme ter destruido um belíssimo livro - o que é muito comum - mas fica a dica! O filme já chegou às locadoras...



terça-feira, 21 de outubro de 2008

Psicólogos Midiáticos - Volume 1



Em função do sequestro das garotas de Santo André e de seu trágico desfecho com a morte da jovem Eloá Pimentel, vários psicólogos foram chamados pela mídia a dar declarações, principalmente sobre o ex-namorado-sequestrador Lindemberg Alves. A seguir algumas delas:



Descrito por amigos como pacato e tranqüilo, o seqüestrador Lindemberg Fernandes Alves esconde um perfil bem diferente. Para a psicóloga Cristina Doca, as escolhas dele, como o relacionamento com uma menina bem mais nova que ele - quando ele e Eloa começaram a namorar, Alves tinha 19 anos e ela, 12 - escondem um perfil possessivo e, ao mesmo tempo, dependente e frágil.

- Ao namorar uma garota bem mais nova, a relação de poder certamente é bem mais fácil. Não é uma relação de troca, como num relacionamento comum. Como ele não sabe ouvir "não", tem um perfil ciumento e acabou tendo uma atitude desproporcional quando tudo acabou - diz Cristina.

Segundo a psicóloga, foi o ciúme de Alves que o levou a tentar controlar a situação, fazendo com que Eloa mudasse de idéia sobre o fim do relacionamento.

- Ele tentava fazê-la entender que ainda gostava dela, mas acabou ficando acuado e perdendo o controle, numa reação típica de desespero - resume.

Colegas que preferem não se identificar contam que ouviram reclamações de Eloa sobre o relacionamento de três anos que manteve com Alves. Ela se queixava com as amigas do ciúme excessivo do namorado, que praticamente queria mantê-la longe da rua ou de qualquer contato social no bairro. Descrita como uma menina doce no trato, Eloa chama a atenção pela beleza. Morena, de cabelos negros, ela poderia até provocar ciúme nas outras meninas, mas, ao contrário, despertava a simpatia de todos os alunos da Escola Estadual Professor José Carlos Antunes.

- Sempre que alguém precisa de alguma coisa, ela é a primeira a ajudar - comentou Paulo Henrique Monteiro da Silva, de 15 anos, amigo de escola de Eloa.


O desfecho trágico do seqüestro da menor Eloá Cristina Pimentel, 15, pelo ex-namorado Lindemberg Alves, de 22 anos, levantou a questão do transtorno de personalidade, já que o seqüestrador não tinha nenhum antecedente criminal.

Em entrevista ao SETV 1º edição o psicólogo e especialista em comportamento humano, Alexandre Hardman falou sobre o perfil de quem pratica esse tipo de crime e alertou sobre a importância dos pais orientarem seus filhos desde cedo para que os mesmos saibam que em algumas situações receberam o não como resposta e terão que saber lidar com isso.

Sobre o comportamento do seqüestrador o médico explicou: “a pessoa que comete um crime desse tipo tem características regulares, geralmente são: homens, mais velhos, não tem antecedentes criminais e posteriormente não existe a reincidência do ato”, explicou.

“O fatores que motivam o ser humano são muitos. E muito desses sentimentos começam ainda na infância. Muitos acham que a paixão está ligada a uma sensação de posse. A rejeição pode ser canalizada como ódio. E a pessoa rejeitada se sente vítima da outra”, alerta.

Infelizmente comportamentos com o do jovem Linderberg são mais comuns do que se imagina. “Isso acontece a toda hora em todas as cidades. Alguns sinais podem ajudar a perceber pessoas com transtornos de personalidade: num censo comum é difícil identificar, mas geralmente são pessoas que não aceitam o não como resposta, não gostam de ser contrariadas “, resume.

O psicólogo destaca ainda a importância da família, que desde cedo pode orientar a criança para que ela seja um adulto bem resolvido. “Algumas pessoas dizem que dizer não na infância traumatiza. Mas o não é necessário, pois é importante estabelecer limites. E deixar claro para a criança que a vida é uma relação de troca. As pessoas que são criadas com o sentido de dar. E nada tem que dar em troca, podem ter esse limiar baixo. E numa situação extrema pode perder o controle. Todo excesso é ruim. Se você diz não o tempo todo é ruim , mas se diz sim o tempo todo, também pode ser prejudicial. Nos dias de hoje, por conta do pouco tempo dispensado aos filhos, muitos pais permitem muito e exigem pouco, não estabelecendo uma relação de troca”, alerta.

Sobre o desfecho do trabalho da polícia com seqüestrador o médico conclui: “negociar com um criminoso passional é muito difícil, Pois não existe moeda de troca, já que o que ele mais deseja ele já “possuía”. A policia poderia ter usado de outras técnicas mais rápidas nessa situação e impondo com mais rigorosidade a sua vontade”.

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Ahh, os psicólogos e suas análises vagas e diagnósticos a distância... Por que insistem em cometer velhos erros?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pesquisas brilhantes, psicólogos fascinantes!



Você sabia que o psicólogo Geoffrey Miller, da Universidade do Novo México, levou o prêmio IgNobel 2008 na categoria Economia por um estudo publicado em novembro passado na revista "Evolution and Human Behavior"? Nele, usando dados de 18 voluntárias, ele mostrou que dançarinas de striptease ganham mais dinheiro no pico de seu período fértil.

Saiba maiores informações sobre esta fundamental descoberta (talvez a mais importante já feita pelo homem) na reportagem do site G1:

Strippers no período fértil ganham até 50% mais nas gorjetas

Uma questão que intriga os cientistas há séculos - fêmeas da espécie humana passam ou não por um período de cio? - acaba de receber uma contribuição inesperada: a das strippers. Pesquisadores americanos descobriram que elas ganham quase 50% mais gorjetas quando estão no auge de seu período fértil, o que indicaria que a platéia é capaz de detectar esse período de alguma forma.

Geoffrey Miller e seus colegas da Universidade do Novo México relatam, em estudo publicado na revista científica "Ev­o­lu­tion and Hu­man Be­hav­ior", os dados obtidos de 18 dançarinas de strip-tease. Por meio de um site, elas passaram para os pesquisadores informações sobre seu ciclo menstrual, seus horários de trabalho e seus ganhos durante um período de 60 dias.

O ciclo de fertilidade feminina corresponde ao ciclo menstrual, ao longo do qual os óvulos são liberados e colocados em posição para serem fertilizados. O que os pesquisadores viram é que havia uma correlação entre as gorjetas mais altas e o ponto desse ciclo onde a chance de fecundação do óvulo é máxima.

Nesses períodos ideais para conceber, as dançarinas ganhavam cerca de US$ 335 por cinco horas de trabalho, enquanto o ganho médio era de US$ 260. O pior desempenho financeiro ocorria durante a menstruação: só US$ 185. Trata-se de uma variação média de 45% nos rendimentos."

Esses resultados constituem a primeira evidência econômica direta da existência e da importância do estro [cio] em fêmeas humanas contemporâneas, num contexto real", escrevem os pesquisadores. O mais curioso é que as strippers que tomavam anticoncepcionais (suprimindo, dessa forma, seu pico de ovulação) também não tinham alta em seus ganhos.

Piroterapia - Notícia bizarra!



Navegando pela internet, encontrei esta notícia inacreditável, publicada em 2006 pela Folha Online:

Psicólogo é acusado de queimar uma paciente durante a terapia

Um psicólogo foi preso em flagrante acusado de atear fogo a uma paciente em Anápolis (GO). Edimar Francisca de Oliveira, 42, teve queimaduras de 1º e 2º graus nas costas e cabeça. Ela se tratava contra depressão e síndrome do pânico há seis meses no Instituto de Psiquiatria Professor Wassily Chuc.

Segundo o depoimento de Oliveira e de duas testemunhas à polícia, o psicólogo Edson Rodrigues de Souza, 28, colocou fogo na cama da paciente, para estimulá-la durante a terapia.

O advogado de Souza, Euripes Rosa, disse que a vítima "pulou no fogo". "Meu cliente tentou socorrê-la e até se queimou." Como tem curso superior, Souza está preso num batalhão da PM por lesão corporal e incêndio.

"Esse tipo de procedimento [atear fogo] não é comum, não é terapêutico. Ele foi infeliz", disse Maurício Candiotto, diretor do hospital.
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Esta última frase é espetacular, clássica... Leiam-na novamente e reflitam:

"Esse tipo de procedimento [atear fogo] não é comum, não é terapêutico. Ele foi infeliz" (Maurício Candiotto)

Maurício, aceita um conselho?



Curta da Semana - Integralidade

Este, video, elaborado pela Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP), discute a questão da integralidade na assistência à saúde de uma forma cômica e crítica. Excelente! Muito indicado para discussões em grupo, com estudantes ou profissionais...


Pierre Weil (1924-2008)



Saiu anteontem no site do CFP:

Morre em Brasília o fundador da Unipaz Pierre Weil

É com pesar que o Conselho Federal de Psicologia comunica o falecimento do psicólogo francês Pierre Weil. Doutor pela Universidade de Paris, professor e autor de mais de 40 obras, morreu em Brasília, no dia 09/10, aos 84 anos. Pierre fundou a Universidade Internacional da Paz em 1987, onde são desenvolvidos projetos sociais com crianças e adolecentes de 2 a 17 anos em situação de risco. Sua bandeira de luta sempre foi a disseminação da paz entre os povos de todo o mundo por intermédio da educação. O corpo de Pierre Weil foi velado por parentes e amigos em Brasília, na própria Unipaz.

Pierre Weil escreveu, dentre muitos outros, o clássico:

Uma grande perda para a Psicologia brasileira e internacional...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Pense Magro - A dieta definitiva de Beck

Saiu anteontem na revista Veja:


A Dieta do Pensamento

Não tem nada de mágica, não. Para você perder osquilos a mais e ficar elegante para sempre, a terapiacognitivo-comportamental oferece um caminho: deixarde "pensar gordo" e passar a "pensar magro"

Você está pensando em internar-se num spa de emagrecimento? Então tenha duas certezas: sim, você eliminará alguns quilos de sua silhueta. E, sim, você engordará tudo (ou quase) de novo depois de voltar à rotina diária. Spas são ilhas da fantasia: zero de stress, refeições em porções controladíssimas, prescritas por nutricionistas, e uma intensa programação de atividade física. Entre a lembrança de um bombom e a saudade do pudim da mamãe, há a opção da massagem relaxante, do ofurô ou da conversa catártica com o gordinho ao lado, que, assim como você, sua frio ao pensar numa torta de morango. No mundo real, tudo conspira a favor do excesso de comida e do sedentarismo. É o fast-food na hora do almoço, o biscoitinho na mesa do colega de trabalho, a geladeira pronta para ser assaltada, o sofá aconchegante com a televisãozona na frente. Como resistir?

Você já tentou... pensar? Não, não se ofenda. É claro que você pensa, e às vezes até em aspectos filosóficos da vida. Mas será que você pensa certo no que se refere às suas formas? Ou melhor, será que você não está "pensando gordo" em vez de "pensar magro"? Pensar magro (vamos abolir as aspas como um excesso adiposo) significa, basicamente, reprogramar seu cérebro para que ele passe a dominar a fome ou a simples gulodice até o ponto em que você possa ignorar um prato de coxinhas da mesma maneira que despreza aquele ex-amigo fofoqueiro. Reprogramar o cérebro não implica tomar choques elétricos ou aderir ao zen-budismo. Requer enfrentar frituras, salgadinhos, doces e refrigerantes sem subterfúgios – e, espera-se, com alguma altivez. Nada de tentar cancelar-lhes a existência, porque, afinal de contas, o mundo não é um spa. A resistência mental definitiva é o que prega a terapia cognitivo-comportamental (TCC), hoje considerada o tratamento de primeira linha contra o excesso de peso. "Quanto mais resistirmos aos desejos de comida, menos freqüentes eles se tornarão", disse a VEJA a psicóloga americana Judith Beck, autora do livro Pense Magro – A Dieta Definitiva de Beck, recém-lançado no Brasil pela editora Artmed.

O objetivo da TCC é, por meio da combinação de confronto e resistência, "desligar" os comandos cerebrais que acionam os pensamentos distorcidos – no caso, aqueles que levam as pessoas a empanturrar-se. De fato, na maioria das vezes, as pessoas que pensam gordo o fazem por causa de uma associação meramente subjetiva entre comida e determinados sentimentos. Há as que comem porque estão felizes e as que comem porque estão infelizes (ou ambos). Existem as que se empanzinam porque estão numa festa e vêem os outros comendo e as que se empacham porque estão completamente sozinhas (ou ambos)... Desconectar apetite e situação, eis a chave da terapia cognitivo-comportamental. O programa proposto por Judith Beck estabelece seis semanas – mais precisamente 42 dias – de exercícios práticos para desprogramar o cérebro da vontade injustificável de comer. Você confunde fome com gula? Um dos exercícios ajuda o pensador gordo a diferenciar uma da outra. Você mal acaba o almoço e já imagina como será o jantar? Judith ensina a fazer como os magros – que só pensam em comida no horário da refeição.

Judith é filha do psiquiatra Aaron Beck, fundador, nos anos 60, da terapia cognitivo-comportamental. Na visão dos adeptos desse método, grande parte dos distúrbios psíquicos, como a depressão, a ansiedade e as fobias, deve-se a interpretações errôneas do mundo concreto. Assim, o substrato da TCC é a exposição da pessoa à realidade que a afeta, de modo a levá-la a reagir proporcionalmente a ela. Em geral, o prazo é de vinte sessões. No tratamento de fobias, por exemplo, confronta-se o paciente com o objeto de seu medo exagerado. Se a fobia é de cachorro, o fóbico "desaprende" a temer o animal entrando em contato direto com ele. Judith sugere que o compulsivo por comida a enfrente como quem se expõe ao pavor por cachorro. As bases da terapia cognitivo-comportamental, cujas taxas de sucesso são bastante altas (veja quadro nas páginas 156 e 157), remontam às teorias do médico russo Ivan Pavlov (1849-1936) e às do psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), precursores do behaviorismo. Pavlov formulou a tese do reflexo condicionado, segundo a qual a repetição constante de um estímulo "ensina" o sistema nervoso a responder invariavelmente da mesma forma. Sua teoria foi elaborada a partir de estudos com cães que eram alimentados depois que ele tocava um sino. Com o tempo, Pavlov constatou que bastava tocar o sino para que os animais salivassem. Skinner, por sua vez, chegou ao conceito de condicionamento operante, por meio de experiências com ratos de laboratório. Quando os roedores apertavam um botão, uma portinhola com comida se abria. Os ratos, por fim, aprenderam que, para comer, era preciso pressionar o botão. A diferença entre o reflexo condicionado de Pavlov e o condicionamento operante de Skinner é que o primeiro é uma resposta a um estímulo puramente externo (o sino toca, o cachorro saliva), ao passo que o segundo é o hábito produzido por uma ação estranha à natureza do animal (o rato que aperta botão para comer). Na terapia cognitivo-comportamental, para simplificar, o sino e a portinhola seriam os estímulos (ou desestímulos) que contrariam a tendência doentia – sejam eles o confronto calculado do fóbico com o objeto do medo ou o auto-elogio de quem resiste a uma refeição gordurosa.

Por ser um programa de treinamento psicológico, o livro Pense Magro é um manual sobre dieta sem nenhuma receita alimentar. Sua autora não recomenda nem condena nenhum alimento. Ela preconiza que, com uma programação mental adequada, qualquer dieta razoável dá certo – permanentemente. A psicóloga começou a utilizar o método para o controle de peso há vinte anos, em pacientes psiquiátricos que engordavam por causa dos efeitos colaterais de medicamentos. Embora a ansiedade integre a personalidade de quase todos os gulosos, a terapia cognitivo-comportamental, ao contrário da psicanálise, não sai em busca dos motivos que levam uma pessoa a afogar as mágoas numa travessa de espaguete. Simplesmente ensina como anular os pensamentos engordativos. "Eu era do tipo que sempre fazia uma pausa para beliscar. Tudo era motivo para parar o que eu estava fazendo e ir atrás de um lanchinho", conta a carioca Ialda Costa de Farias. Há cerca de quatro anos, ela mudou a sua relação com a comida. Por meio da TCC, conseguiu regular suas escolhas, antes marcadas pela compulsão. Agora, sua palavra de ordem é planejamento. Ela sabe exatamente o que e quanto vai comer ao longo do dia e, obedecendo aos ditames da terapia, anota minuciosamente todas as suas refeições, inclusive as escapadelas. Perdeu 31 quilos desde então e não os incorporou mais. "Só de saber que terá de anotar os erros e os excessos alimentares cometidos, a pessoa já pensa duas vezes antes de comer exageradamente", diz o endocrinologista Walmir Coutinho, vice-presidente da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade.

Judith mantém há dez anos o mesmo peso – 52,5 quilos distribuídos em 1,61 metro – graças, ela jura, à terapia cognitivo-comportamental. Ex-cheinha (pesava 8 quilos a mais), agora pensa magro. E reafirma que ninguém se mantém enxuto sem algum sacrifício dietético. Ainda não há estudos sobre as alterações na química cerebral de quem usa a TCC para emagrecer, como ocorre em relação aos pacientes de depressão que recorrem à terapia. Mas as pesquisas clínicas são animadoras. A mais célebre foi conduzida por pesquisadores suecos, com dois grupos – em dez semanas, aquele que se submeteu à terapia perdeu 8 quilos, em média. Passados dezoito meses, 92% dos seus participantes haviam emagrecido ainda mais. Já o grupo de controle, que só fez dieta, voltou a engordar depois de um ano e meio.

Driblar a compulsão por comida é tarefa das mais difíceis. Para se ter uma idéia do seu grau de complexidade, a linha mais recente de pesquisas sobre os mecanismos da obesidade a compara ao vício, por envolver o sistema cerebral de recompensa. "Em obesos, o metabolismo cerebral é muito semelhante ao dos viciados em drogas", diz Ivan de Araújo, neurofisiologista e pesquisador da Escola de Medicina da Universidade Yale, nos Estados Unidos. No cérebro dos gordos, por uma deficiência na atividade do neurotransmissor dopamina, o grau de recompensa gerado pela ingestão de alimentos é menor que no dos magros. Para se sentirem satisfeitos, portanto, eles precisam comer mais. É provável que novos estudos mostrem que o recondicionamento para pensar magro transforma a química cerebral. Não há nada de mágico nisso – errou quem fez associações entre o livro de Judith e O Segredo, da australiana Rhonda Byrne, a auto-ajuda que requenta a lengalenga de que o "pensamento positivo" opera milagres. Pensar magro demanda empenho e disciplina. Envolve cultivar melhor as emoções e adquirir novos comportamentos. A perda de peso não é da noite para o dia. Em situações mais difíceis, para prevenir as recaídas, seguir o manual não é suficiente. Torna-se necessário recorrer a um especialista. "Na luta contra o excesso de peso, não existe bala de prata", diz Mônica Duchesne, terapeuta cognitivo-comportamental e coordenadora do grupo de obesidade e transtornos alimentares da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Existe trabalho. Vá à luta.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Intolerância




Intolerância à diversidade sexual

Por Gustavo Venturi*(1)

Acaba de sair do forno a mais recente pesquisa social do Núcleo de Opinião Pública (NOP), intitulada Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil, Intolerância e respeito às diferenças sexuais nos espaços público e privado – uma realização da Fundação Perseu Abramo, em parceria com a alemã Rosa Luxemburg Stiftung.

Com dados coletados em junho,de 2008(2), a pesquisa percorreu processo de elaboração semelhante ao de estudos anteriores do NOP(3), tendo sido convidados pela FPA para definir quais seriam as prioridades a investigar entidades e pesquisadores dedicados ao combate e ao estudo da estigmatização e da discriminação dos indivíduos e grupos com identidades sexuais que fogem à heteronormatividade – lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT).

Com o intuito de subsidiar ações para que as políticas públicas avancem em direção à eliminação da discriminação e do preconceito contra as populações LGBT, de forma a diminuir as violações de seus direitos e a facilitar a assunção e afirmação de suas identidades sexuais, buscou-se mensurar tanto indicadores objetivos de práticas discriminatórias em razão da orientação sexual das pessoas, quanto as percepções sobre o fenôme- no (indicadores subjetivos, portanto) e manifestações diretas e indiretas de atitudes preconceituosas. A pesquisa cobriu assim um amplo espectro de temas, de modo que o relato que segue constitui tão-somente uma leitura preliminar – entre muitas que certamente os dados obtidos permitirão – e sobre parte dos resultados que, à primeira vista, parecem mais relevantes.

O preconceito dos outros
Indagados sobre e existência ou não de preconceito contra as pessoas LGBT no Brasil, quase a totalidade da população responde afirmativamente: acreditam que existe preconceito contra travestis 93% (para 73% muito, para 16% um pouco), contra transexuais 91% (respectivamente 71% e 17%), contra gays 92% (70% e 18%), contra lésbicas 92% (para 69% muito, para 20% um pouco) e, tão freqüente, mas um pouco menos intenso, 90% acham que no Brasil há preconceito contra bissexuais (para 64% muito, para 22% um pouco). Mas perguntados se são preconceituosos, apenas 29% admitem ter preconceito contra travestis (e só 12% muito), 28% contra transexuais (11% muito), 27% contra lésbicas e bissexuais (10% muito, para ambos) e 26% contra gays (9% muito). (Gráficos 1a e 1b)

O fenômeno de atribuir os preconceitos aos outros sem reconhecer o próprio é comum e esperado, posto que por definição a atitude preconceituosa é politicamente incorreta.


Gráfico 1a


Gráfico 1b

No entanto, chama a atenção, neste caso, as taxas relativamente elevadas de pessoas que admitem ter preconceitos contra os grupos LGBT: na pesquisa Idosos no Brasil, em 2006, 85% dos não-idosos (16 a 59 anos) afirmaram que há preconceito contra idosos na sociedade brasileira, mas apenas 4% admitiram ser preconceituosos em relação aos mais velhos; e na pesquisa Discriminação Racial e Preconceito de Cor no Brasil, em 2003, 90% reconheciam que há racismo no Brasil, 87% afirmaram que os brancos têm preconceito contra os negros mas apenas 4% dos de cor não preta assumiram ser preconceituosos em relação aos negros.

Certamente, é preciso aprofundar a investigação sobre o fato de o preconceito contra a população LGBT ser mais admitido. Mas duas hipóteses, não necessariamente excludentes, parecem concorrer para explicar esse contraste: tomando o dado em sua “literalidade” (como em geral convém, até prova em contrário), a maior admissão de preconceito contra LGBT seria expressão de um preconceito efetivamente mais arraigado, mais assimilado e menos criticado socialmente. A alta disseminação de piadas sobre “bichas” “veados” ou “sapatonas” por exemplo, e sua aceitação social, como atesta a presença cotidiana de personagens caricaturais em novelas e programas na TV, considerados humorísticos, também seriam evidências disso.

A segunda hipótese é que a maior admissão de preconceito contra LGBT tem a ver com a “natureza” da identidade sexual, para muitos vista como uma opção ou preferência – em contraste com as identidades “raciais” ou etárias que, de modo mais evidente, independem das escolhas individuais, sendo assim não passíveis de crítica (ao menos deste ponto de vista) e, conseqüentemente, mais incorreto discriminá-las. De fato, 31% discordam (25% totalmente) que “ser homossexual não é uma escolha, mas uma tendência ou destino que já nas nas ce com a pessoa” e 18% concordam apenas em parte (só 37% concordam totalmente) com isso. Ora, se acho que é gay (ou lésbica) quem quer, posso considerar sua opção um erro e punir (discriminar) quem a faz.

É sintomático a esse respeito que, diante de duas alternativas, se “os governos deveriam ter a obrigação de combater a discriminação contra homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais” ou se “isso é um problema que as pessoas têm de resolver entre elas” 70% concordem com a segunda alternativa, contra apenas 24% que entendem que o combate contra a discriminação da população LGBT deve ser objeto de políticas de governo. Em contraste, em 2003, 36% avaliaram que “os governos deveriam ter a obrigação de combater o racismo e a discriminação racial” contra “apenas” 49% que consideraram que “isso é um problema que as pessoas têm de resolver entre elas, sem a interferência do governo”.

O preconceito dissimulado
Como na pesquisa sobre a questão racial, nesta também partimos do pressuposto que a maioria não admitiria os próprios preconceitos. Assim, antes de qualquer referência explícita à temática da discriminação e do preconceito, o questionário tratou de captar manifestações indiretas de intolerância com a diversidade sexual. (Gráfico 2)


Gráfico 2
Inicialmente, solicitou-se a cada entrevistado que dissesse o que sentia normalmente ao ver ou encontrar desconhecidos de diferentes “grupos de pessoas”: “(1) repulsa ou ódio, não gosta nem um pouco de encontrar; (2) antipatia, não gosta muito, prefere não encontrar; (3) indiferença, não gosta nem desgosta, tanto faz encontrá-los ou não; ou (4) satisfação, alegria, gosta de encontrá-los” Considerando-se a soma de (1) e (2) como indicador de aversão ou intolerância, dentre 28 grupos sociais sugeridos – grupos raciais, econômicos, em conflito com a lei, étnicos, religiosos etc. – as identidades sexuais que discrepam da normalidade heterossexual só perderam em taxa de intolerância para dois líderes incontestes: ateus (42% de aversão, sendo 17% de repulsa ou ódio e 25% de antipatia) e usuários de drogas (respectivamente 41%, 17% e 24%).

Dizem não gostar de encontrar transexuais 24% (10% de repulsa/ ódio, 14% de antipatia), travestis 22% (respectivamente 9% e 13%), lésbicas 20% (8% e 12%), gays e bissexuais 19% cada (ambos 8% e 11%) – praticamente igualados em taxas de aversão, por exemplo, a garotos de programa (25%), prostitutas (22%), ex-presidiários (21%) e ciganos (19%); acima, por exemplo, de mendigos (11%), judeus (11%) e muçulmanos (10%) e “gente com aids” (9%), e ainda muito acima de índios (3%), negros ou orientais (2% cada) e brancos (menos de 1%).

A seguir definiu-se homossexuais como “pessoas que se interessam afetiva e sexualmente por pessoas do mesmo sexo” e foram faladas frases – “coisas que costumam ser ditas sobre os gays e as lésbicas, que algumas pessoas acreditam e outras não” –solicitando-se a cada entrevistado que manifestasse seu grau de concordância ou de discordância com as mesmas. (Gráfico 3)


Gráfico 3

A frase epígrafe “Deus fez o homem e a mulher com sexos diferentes para que cumpram seu papel e tenham filhos” tem a concordância, em algum grau, de 92% (sendo 84% totalmente), contra apenas 5% que discordam; e concordam que a “homossexualidade é um pecado contra as leis de Deus” 66% (58% totalmente), contra 22% que discordam (17% totalmente) –dados que revelam o tamanho da colaboração religiosa para a intolerância com a diversidade sexual. E a contribuição do discurso médico não fica muito distante: 40% concordam (29% totalmente) que “a homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada” embora 48% discordem (41% totalmente).

São claras as expressões de preconceito também as concordâncias majoritárias com a idéia de que “as pessoas bissexuais não sabem o que querem, são mal resolvidas” (57% concordam, sendo 44% totalmente, contra 27% de discordância), e com a afirmação de que “quase sempre os homossexuais são promíscuos, isto é, têm muitos parceiros sexuais” (45% concordam, contra 36% que discordam). Há ainda o apoio a potenciais medidas discriminatórias, manifestadas nas frases: “casais de gays ou de lésbicas não deveriam andar abraçados ou ficar se beijando em lugares públicos” (64% de concordância, sendo 52% totalmente, contra 27% de discordância), e “casais de gays ou de lésbicas não deveriam criar filhos” (47% concordam, 38% totalmente; 44% discordam, 35% totalmente). Por fim, 37% concordam que “a homossexualidade é safadeza e falta de caráter” e 34% que “os gays são os principais culpados pelo fato de a aids estar se espalhando pelo mundo”.

Em suma, a primeira leitura desta pesquisa dá números ao que já se suspeitava: por trás da imagem de liberalidade que o senso comum atribui ao povo brasileiro, particularmente em questões comportamentais e de sexualidade há graus de intolerância com a diversidade sexual bastante elevados – coerentes, na verdade, com a provável liderança internacional do Brasil em crimes homofóbicos. O que indica que há muito por fazer, em termos de políticas públicas, para tornar realidade o nome do programa da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, criado em 2004, Brasil sem Homofobia – ele mesmo, segundo a pesquisa, conhecido por apenas 10% da população (2% dizem conhecê-lo e 8% já ouviram falar).

Outros temas foram abordados no levantamento, inclusive de políticas contra a discriminação LGBT para as áreas de educação, saúde, emprego, justiça, cultura e direitos humanos, mas não há espaço aqui para tratá-las. Se lembrarmos ainda que os resultados gerais aqui expostos (médias nacionais) podem acobertar contrastes importantes num país como o nosso, atravessado por desigualdades de classe social, de gênero, raciais e regionais, fica o convite aos interessados para aprofundarem a análise desta introdução, buscando mais dados da pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil, em breve disponíveis no portal da FPA e em futura publicação da Editora da FPA.

*Gustavo Venturi, doutor em Ciência Política e mestre em Sociologia pela USP, é coordenador do NOP e diretor da Criterium Assessoria em Pesquisas


Notas:
(1) Colaboraram Rita Dias e Vilma Bokany, analistas do Núcleo de Opinião Pública (NOP) da Fundação Perseu Abramo.

(2) Levantamento quantitativo (survey) com amostragem probabilística nos primeiros estágios (sorteio de municípios, setores censitários e domicílios) e controle de cotas de sexo e idade (IBGE) para a seleção dos indivíduos (estágio final). Total de 2.014 entrevistas com população acima dos 15 anos de idade (todas as classes sociais), disper sa nas áreas urbanas de 150 municípios (pequenos, médios e grandes), em 25 UFs, nas cinco macrorregiões do país (Sudeste, Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste). Abordagem domiciliar, com aplicação de questionários estruturados (versões A e B, aplicados a duas sub amostras espelhadas), somando 92 perguntas distintas (cerca de 250 variáveis), com duração média das entrevistas em torno de uma hora. Margens de erro de até ± 3 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. Coleta dos dados entre 7 e 22 de junho de 2008.

(3) Idosos no Brasil, Desafios e Expectativas na Terceira Idade (2006, em parceria com os Sesc-SP e Nacional), Perfil da Juventude Brasileira (2003, em parceira com o Instituto Cidadania), Discriminação Racial e Preconceito de Cor no Brasil (2003, em parceira com a Rosa Luxemburg Stiftung) e A Mulher Brasileira nos Espaços Público e Privado (2001). Para resultados, ver www.fpabramo.org.br e respectivas publicações da Editora Fundação Perseu Abramo.

domingo, 31 de agosto de 2008

Psicologia da tortura



Assustadora a notícia publicada hoje no JB Online:

A Psicologia da tortura nas prisões

Desde a Primeira Guerra Mundial a Associação Americana de Psicólogos (APA, na sigla em inglês) mantém um relacionamento muito próximo com as Forças Armadas americanas.
Entre suas diversas funções, psicólogos americanos foram pioneiros em desenvolver e padronizar técnicas agressivas de interrogatórios, como o isolamento prolongado, a privação de sono e o afogamento simulado – técnicas inicialmente desenvolvidas para fortalecer mentalmente os militares americanos em treinamento, mas que passaram a ser largamente utilizadas no presídio ultramarino de segurança máxima em Guantánamo, o que vem gerando críticas e condenações da ONU e de algumas das agências humanitárias mais influentes do mundo, que consideram estas técnicas como tortura.
– A tortura está acontecendo em Guantánamo e psicólogos estão participando disso – denunciou Bryant Welch, membro da APA e autor do livro State of confusion: political manipulation and the assault on the american mind.
Em seu relatório deste ano, descrevendo o atual estado dos direitos humanos em âmbito global, a ONG Anistia Internacional chegou a exigir o fechamento da base naval de Guantánamo:
“Os EUA deveriam fechar Guantánamo e outras prisões secretas, conceder aos detentos direito a julgamentos justos ou senão libertá-los, rejeitando sempre e de forma inequívoca o uso da tortura e dos maus-tratos”, diz o relatório.
Em função de denúncias recorrentes de torturas em Guantánamo, alguns psicólogos da APA querem acabar com a velha política de cooperação com as Forças Armadas, que entendem encorajar uma cumplicidade promíscua com militares em interrogatórios suspeitos.
Durante a última conferência anual da APA, realizada em Boston no dia 16 de agosto, seus membros apresentaram ao conselho o primeiro referendo da história da organização, pedindo a proibição de contratos de cooperação entre psicólogos e as Forças Armadas em prisões militares que violem direitos humanos assegurados em leis internacionais. O resultado do referendo só será divulgado no fim de setembro.
– Os regulamentos gerados pelo governo Bush foram projetados para coagir e torturar prisioneiros – ressaltou Welch. – Psicólogos não devem participar de tal processo.
Opositores da medida, contudo, acreditam que ela ameaça limitar de forma significativa o âmbito das atividades dos psicólogos, cujo trabalho em hospitais psiquiátricos, prisões estaduais, e diversos outros cenários opressivos tem função importante na sociedade.
Robert Resnick, psicólogo e porta-voz dos que se opõem ao referendo, acredita que a linguagem do documento é ambígua por citar como parâmetros as “leis do direito internacional”, mas sem definir a quais tratados ou corpos legislativos do volátil sistema internacional se refere. Segundo Resnick, isso deixará psicólogos inocentes suscetíveis a processos frívolos e custosos.
– A APA nunca disse que a tortura é apropriada - acrescentou Resnick durante o recente programa Talk of the Nation da rádio pública americana, NPR.
–Temos dispositivos em nosso Código de Ética proibindo psicólogos de participarem no planejamento de quase duas dúzias de técnicas. Se adicionarmos o referendo, estaremos condenando locais específicos, como Guantánamo, em vez de comportamentos.
Resnick e seus simpatizantes justificam a presença de psicólogos em interrogatórios ligados à segurança nacional como uma forma de garantir que as técnicas utilizadas pelos militares não ultrapassem a fronteira do ético. Insistem que restringir a participação de psicólogos tornará os interrogatórios mais perigosos para os presos.
Há duas semanas, a recusa de uma psicóloga militar de depor no caso de Mohammad Jawad – afegão de 23 anos que alega ter sido torturado em 2003 por seus interrogadores em Guantánamo, alegadamente com o incentivo da terapeuta – serviu para incendiar ainda mais esse debate polêmico que está polarizando a APA.
Para se esquivar da audiência, a psicóloga recorreu a uma lei militar equivalente à Quinta Emenda da Constituição Americana: o privilégio de permanecer calada para evitar a auto-incriminação.
Se aprovado, o que necessita a obtenção de mais de 50% dos votos, o referendo irá proibir que psicólogos estejam na folha de pagamento do Exército. A proibição não valeria para os profissionais contratados por agências humanitárias ou até mesmo pelos próprios detentos.
– Tanto Guantánamo quanto os chamados “sítios negros” da CIA são propositalmente lugares extremamente inacessíveis, para assim evitar o alcance de algumas de nossas leis e dificultar que informações vazem – afirmou Bob Olson, psiquiatra da Universidade de Northwestern, e um dos líderes do referendo. – É impossível saber o que acontece por lá.
Não é de hoje que psicólogos se envolvem em atividades escusas. Outro dia, no livro Ministério do Silêncio do jornalista Lucas Figueiredo, li que muitos psicólogos contribuíram, durante a ditadura militar brasileira, no treinamento de agentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (SNI, hoje Abin) que espionavam e deduravam para o DOI-CODI (órgão repressor do exército) indivíduos supostamente subversivos. Muitos destes corajosos rebeldes foram torturados e vários mortos. E nós demos a nossa contribuição para isso...