terça-feira, 5 de maio de 2015

"Entre abelhas": uma metáfora da depressão

"Entre abelhas" é um filme muito interessante - e não leia o restante deste post caso não queira saber pormenores da trama. Quem olha seu cartaz, que tem o Fábio Porchat segurando uma cadeira vermelha, e vê que o diretor é o Ian SBF, um dos principais diretores do Porta dos Fundos, logo pensa que se trata de uma comédia. Assim eu pensava quando entrei na sala de cinema. Eu não podia estar mais enganado. "Entre abelhas" é um drama, um interessante drama com pitadas de suspense, escrito numa parceria entre Ian e Fábio.
Sem revelar nada muito significativo, o filme conta a história de Bruno, um editor de videos recém separado que subitamente passa a ser acometido por uma estranha "síndrome" que o faz deixar de ver algumas pessoas - elas se tornam literalmente invisíveis para ele. Embora se assemelhe a "Ensaio sobre a cegueira" em alguns aspectos (uma síndrome misteriosa desencadeia uma cegueira), "Entre abelhas" segue por um outro caminho: não se trata de uma praga que se espalha, mas de um problema que acomete única e exclusivamente Bruno. Só ele deixa de ver. E somente algumas pessoas. A partir daí o protagonista, interpretado por um excelente e surpreendente Fábio Porchat, passa a investigar o que pode estar acontecendo. Para tanto procura a ajuda de médicos e psicólogos que, como tantas vezes acontece na vida real, não conseguem identificar e entender o que ele tem.

Sem entrar em pormenores, considero o filme uma interessante metáfora da depressão, condição (prefiro não chamar de doença) no qual o sofrimento por vezes torna-se tão intenso que é como se o mundo e as pessoas não mais existissem. Imerso em seu próprio sofrimento, o depressivo não consegue olhar além de si. Este é exatamente o caso de Bruno. Recém-separado de sua esposa, com quem viveu alguns anos, o personagem encontra-se num doloroso processo de luto. E é justamente no meio deste turbilhão que tem início a sua cegueira. A situação de Bruno também pode ser interpretada como uma metáfora da solidão nas (grandes ou pequenas) cidades, nas quais as pessoas são, de certa maneira, invisíveis umas para as outras - o filme argentino Medianeras também trata desta questão com muita sensibilidade. 

Posso estar viajando, mas vejo múltiplas interpretações para o enredo do filme. E quando isto acontece é ótimo. "Entre abelhas" não é um filme para as massas, exatamente por deixar abertas muitas questões (inclusive seu final) e por conduzir a história de uma forma muito mais lenta que a usual no cinema comercial brasileiro. Li relatos de que muitas pessoas saíram no meio do filme, absolutamente decepcionadas, e acho este um ótimo sinal de que se trata de um filme atípico - e que, justamente por isso, merece ser visto. Filmes nos quais as pessoas saem no meio são muitas vezes aqueles que geram algum incômodo e que trazem alguma reflexão para além do entretenimento momentâneo. "Entre abelhas", apesar de não ser propriamente uma obra-prima, faz pensar. E só por isso, merece muitos elogios. 
Comentários
39 Comentários

39 comentários:

Juliane de Araujo disse...

Ainda não assisti, mas já li diversas resenhas e comentários sobre esse filme. Desde a sinopse até os comentários decepcionados sobre a trama (muitos relatando que o filme é péssimo e que não entenderam nada), foi inevitável associar Entre Abelhas com Ensaio Sobre a Cegueira. Pelo nível de complexidade do enredo, não é um filme de "fácil degustação e digestão", nem um filme comercial. É sim um filme reflexivo, que necessita de um olhar diferenciado e sensível para entender as metáforas e nuances.
Perdoem-me o texto enorme, mas realmente estou empolgada com esse filme e a cada resenha ou comentário, seja ele positivo ou não, aumenta mais minha vontade de assistí-lo.

Unknown disse...

Grato

Cálcio disse...

Como dito no texto, o enredo não se preocupa em apresentar soluções aos problemas. Ou, ao problema principal da trama. Como na cena do acidente, por exemplo, ou andar na rua sem que nada aconteça. A grande maioria das pessoas realmente não gosta de algo que não seja claro; eu mesmo ainda estou lutando para conseguir achar um sentido em ter visto o filme. O que, de fato, pensavam o Porchat e o Ian quando escreveram. De qualquer forma, não acho que foi um tempo perdido. Pode servir de discussões posteriores. E até aceitaria a falta de respostas facilmente, se não tivessem levantado mais uma logo no final.

Unknown disse...

Eu vi o filme e achei várias interpretações para ele também.Achei ele triste e é exatamente o que ele quer passar para nós. Não pensei como se fosse cegueira,mas algo que ele passou a sentir depois de terminar seu relacionamento com sua namorada,pensei que você um nível de tristeza extremo tipo "não quero ver mais ninguém".Pensei também que poderia ser a falta de pessoas importantes na vida dele,pessoas que não se importavam com ele iam sumindo e ele mesmo ia descartando da vida.Ou até mesmo a realidade do mundo atual,a falta de comunicação das pessoas com as pessoas.O nome retrata bem o filme,como se ele fosse sozinho em uma colméia de abelhas.Ninguém o entendia.Abelhas com seres humanos não se entendem.

Unknown disse...

Eu vi o filme e achei várias interpretações para ele também.Achei ele triste e é exatamente o que ele quer passar para nós. Não pensei como se fosse cegueira,mas algo que ele passou a sentir depois de terminar seu relacionamento com sua namorada,pensei que você um nível de tristeza extremo tipo "não quero ver mais ninguém".Pensei também que poderia ser a falta de pessoas importantes na vida dele,pessoas que não se importavam com ele iam sumindo e ele mesmo ia descartando da vida.Ou até mesmo a realidade do mundo atual,a falta de comunicação das pessoas com as pessoas.O nome retrata bem o filme,como se ele fosse sozinho em uma colméia de abelhas.Ninguém o entendia.Abelhas com seres humanos não se entendem.

Unknown disse...

Acabei de assistir e recomendo, para essa sociedade mesquinha e vazia... excelente filme! deixa no ar varias interpretações...

Unknown disse...

ótimo filme recomendo para essa sociedade mesquinha e vazia...

Anônimo disse...

Eu sou ator e estou começando na carreira de escritor de peças teatrais, assisti o filme é confesso que realmente tem uma mensagem por trás de toda a dramaturgia que nos é apresentada. Também sem contar que vemos um Fábio Porchat diferente. Mostrando uma outra faceta como ator.
Realmente filmes assim nos fazem refletir em relação a vida.
Até porque eu também estou meio que passando por uma situação quase que parecida com a do personagem. Tirando o fato de que eu ainda vejo as pessoas e que meu relacionamento não terminou por conta nem do meu querer e nem do querer da minha namorada. Mas por querer de terceiros. Daí eu vi esse filme e comecei a refletir sobre meu próprio problema.

Unknown disse...

Filme estranho, meio sem sentido, mas que fica totalmente ruim quando no final ele vê uma dançarina de boite...muito ruim!

Unknown disse...

O final é típico de filme francês... não curto!

Anônimo disse...

O final é igual a muito filme francês... Ou seja, cada um entende do jeito que quiser e fica com cara de fuééé... não curto!

Unknown disse...

O filme e muito bom!! No filme Fábio Porchat tem uma atuação surpreendente!!

Unknown disse...

Acabei de assistir o filme algora a pouco,estava anciosa para ver porque li muitos comentarios negativos a respeito do filme e eu me senti na necessidade de assistir para entender o porque de tanta revolta,o filme é muito reflexivo e triste ao mesmo tempo,juro que me segurei para não chorar em algumas partes ,acredito que como eu de alguma forma algumas pessoas se relacionaram com o filme e com tudo que estava subentendido,acho que com todo aquele turbilhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo e ele fazendo de tudo para conseguir reatar com a ex mulher ele foi esquecendo de todos e foi sendo esquecido tambem,aos poicos ele ficava cego por enxergar e focar apenas em Regina ,e no final depois de estar la só e com toda aquela solidão ele viu a menina stripper que gostou dele desde o ínicio porque ele se deu uma chance de desviar o olhar de Regina e enxergar outra pessoa ,por isso ele conseguiu ve-la e falar com ela...
Acho que cada um levou um pouco dessa historia pra si ,amei o filme.

Unknown disse...

muito bom

Thiago Lavigne disse...

O filme merece sim ser assistido, sabemos que ainda não seja um filme comercial(que é ótimo) merece toda atenção, provavelmente as pessoas que não gostaram ou não conseguiram ver além do filme prefere filmes produzido por Hollywood, filmes brasileiros com putaria e palavrão!

Para min a interpretação é livre Porchat e Ian não estão preocupados em fazer com que as pessoas entenda o filme, mas sim fazer com que elas pensem e reflitam sobre o filme.

É possível a partir desse ponto tirar varias e varias interpretações. Sejam livres e interprete o filme, solte a sua imaginação!

Unknown disse...

Final súbito e muito reflexivo sobre a vida, por menos que vc acredite, as pessoas que menos vc espera são as que mais querem estar com VC, por isso ele só viu a menina da foto, porque ela que queria estar com ele.

Unknown disse...

Pra mim o final do filme é muito claro, e ele viu na foto a única pessoa que por incrível que pareça queria estar com ele. O resto não importava. E ele sentiu quando encontra ela novamente ele senti isso. Por isso o final daquela maneira.

Unknown disse...

Assisti e considero que perdi 1:40 da minha vida. Ridículo.

Unknown disse...

Gostei do filme também , e pra mim era como se ele fosse apagando as pessoas que já não acrescentavam mais nada a ele , as pessoas não param ouvir as outras, já tem soluções e respostas prontas , acho que ele buscava alguém que compreendesse e respeitasse sua dor sem querer empurrar soluções vazias , ele foi mais pressionado ainda por todos de uma forma ou de outra , simplesmente apagou aquelas abelhas , e no final a unica pessoa que ele enxergou foi a garçonete da boate que foi a unica que não invadiu seu momento e não impôs nada a ele , cansou do próprio mundo dos amigos da mãe do barulho nas ruas. No final passa a impressão de um recomeço.

Unknown disse...

Eu tive a sorte de assistir esse filme livre de críticas e sem expectativa. Acabei achando muito bom. O texto final resume a ideia do filme, as pessoas que foram sumindo são aquelas que não tinham importância ou estavam impedindo de seguir com sua vida. SPOILER no final ele poder ver a moça era porque ela tinha lhe oferecido a chance de recomeçar e pelo menos pra mim o filme passar a mensagem que devemos esquecer não nos satisfaz pra seguir em frente

Shi disse...

Achei o filme maravilhoso longe dos habituais clichés cinematográficos

Laila disse...

Não entendi o final, pq ele consegue ver ela ? E pq vai atrás dela ?

Laila disse...

Não entendi o final, pq ele consegue ver ela ? E pq vai atrás dela ?

Laila disse...

Não entendi o final, pq ele consegue ver ela ? E pq vai atrás dela ?

Anônimo disse...

Nao creio que ele cansou ate da mae, ate pq ela foi quem mais tentou ajudá-lo, e ele sofreu com sua morte, ainda mais pq quem sabe poderia ter feito algo para salva—la se a enxergasse. E depois do luto, ja em isolamento no ape,o amigo mandava vídeos e mensagens para ajudá-lo mesmo que de uma maneira mais distante digamos assim. Creio que a questão da cegueira tenha mais a ver com o afeto, o conseguir dar para receber, Bruno não parecia estar aberto para as pessoas, com a separação me parece q surge uma "depressão" e receio do abandono, sendo preferível não enxergar mais para não sofrer, tanto é que, ele não enxergou sua própria mãe morta... mas claro que esse mecanismo de defesa é inconsciente, e quando ele alcança a solidão total, sem enxergar ninguém, sem conseguir permitir—se enxergar, sente a grande dor da existência, a de que não existimos sos,e volta a enxergar, a permitir seus afetos de amar,de perceber o outro para ser percebido.

Unknown disse...

Achei o filme com um bom roteiro, mas acredito que a maioria das pessoas qdo assistem à um filme querem ver um final, final onde também não deixemos de refletir . No caso desse filme existe uma história, uma separrde um casal onde o esposo sofre, fixa depressivo e....? Não têm uma real resposta no final.

Unknown disse...

Achei o filme com um bom roteiro, mas acredito que a maioria das pessoas qdo assistem à um filme querem ver um final, final onde também não deixemos de refletir . No caso desse filme existe uma história, uma separrde um casal onde o esposo sofre, fixa depressivo e....? Não têm uma real resposta no final.

Unknown disse...

adorei o filme. Muito bem montado
só não intendi o final
Alguem poderia me explicar
fiquei muito curioso

Unknown disse...

Não entendi o numero de telefone da menina na testa dele!

Unknown disse...

Assisti ao filme, quando acabei de ver fiquei decepcionado, mas parando pra analisar vejo que é um filme muito interessante, e que merece ser visto mais de uma para ser entendido. Ao meu ver o filme retrata a sociedade atual que vivemos, cada vez mais conectada com a internet, e usando o celular para fazer de tudo, e esquecendo que existe um mundo ao redor. As coisas passam a ser mais importantes que as pessoas.

Unknown disse...

Eu assisti em casa e gostei!Sim,é para os que tem estômago e mente aberta para reflexão e na possibilidade de olhar para si e entender a sua vulnerabilidade num momento difícil seja qual for ele, caso a separação conjugal,dói,porém olhar para a dor ajuda a enfrentar o luto como consequência te levará a outro entendimento de si e dos que estão ao seu redor,ou seja,sair da alienação e limitação que se encontrava, é uma jornada de volta para você!

Unknown disse...

Filme muitíssimo interessante que fala da depressão,sem exatamente falar sobre depressão. Existem muitas pessoas passando por isso. Na verdade é uma metáfora sobre vários tipos de depressão,sem que a pessoa entenda que está passando por esse processo.

Buena Cristina disse...

Pensei a mesma coisa...

Unknown disse...

Exatamente, acredito que o enredo mostra uma condição psicologica quem muitas vezes nos submetemos apos um acontecimento traumatico.
O final é que ele descobre que não foi todo mundo que "desapareceu". A moça do bar ainda aparecia na foto, ela ainda nao havia sumido.

Diogo da Luz disse...

Concordo com sua resposta. Esquecer não é o suficiente para melhorar.

kal disse...

Vejo muitas semelhanças entre filmes de drama nacionais e os franceses.

Unknown disse...

Acabei de vê-lo no corujão e ao pesquisar sobre o filme vim parar aqui. Achei muito interessante. Em momentos de tristeza ou profunda tristeza (que pode ser ocasionada por uma separação) podemos nos tornar um tanto quanto egoistas na busca de prazeres que amenizem a dor ainda que momentaneamente. Por isso ele via a cadeira que seria dada a ex mulher mas não via a mãe morta. Por isso enxergou a mulher na boate no final do filme. Sua existência estava tão pesada que ele precisava dessas ilhas de prazer. Na verdade só enxergava isso e nada mais a sua volta.

Unknown disse...

Iguais muitas pessoas que li nos comentários vi o filme no Corujão e também fiquei sem entender o final (confesso que peguei já na metade do filme) todos nós buscamos entender o final pesquisando ele na internet então não tem como falar que o filme é ruim. Vi inúmeras opiniões e entendo que realmente o filme trata sobre depressão e de como as pessoas ficam imersas nos seus problemas. O fato da mãe dele sumir minutos antes da mesma morrer, significa que até o final da vida dela ela se importava com ele, da mesma forma que Regina também se importava. O próprio psicanalista por questão financeira também tinha o interesse em ajudar ele, no caso, a menina stripper da boate era alguém que gostou dele (deixou claro que queria beijar desde que viu ele naquela noite) Creio que a crítica seja direta sobre as relações vazias que criamos, o melhor amigo dele (representado por Marcos Vera) fala mais sobre os problemas dele do que realmente se importava com os problemas do Bruno (Fábio Porchat) ou seja, ele via somente as pessoas que por algum motivo gostavam da presença dele e se importavam de fato com ele. Creio que um final seja a expectativa de um recomeço, talvez a ex mulher dele depois desse tempo todo já não pensava mais nele e em ajuda-lo e por isso a única pessoa que estava querendo dar atenção a ele fosse a moça da boate. Sinto que a mensagem que o filme passa, é que o amor puro, ingênuo, pode salvar e o resto das relações por interesses são supérfluas. Cada abelha faz sua função e o ser humano igual, obcecado pela sua própria função na sociedade acaba não se importando com ninguém ao seu redor, só consigo mesmo.

Anônimo disse...

Juliane, seis anos depois desse seu comentário, você ainda acha que esse pedido de desculpas era necessário?