sexta-feira, 16 de julho de 2010

Psicólogos picaretas

O texto abaixo foi publicado em junho no blog CloacaNews. Infelizmente não posso discordar...

Zero hora usa alguns psicólogos picaretas para linchar dunga

O tablóide gaúcho Zero Hora, braço impresso da corporação mafio-midiática RBS, fez jus, em sua edição de ontem, 23, ao epíteto de jornalixo, carinhosamente cunhado por este blog. Em texto assinado por um certo Itamar Melo, a gazetinha alinhou-se incondicionalmente à sórdida campanha difamatória movida pelas Organizações Globo contra o técnico Dunga, da seleção brasileira de futebol. Sob o título “Psicanalistas analisam destemperos do técnico Dunga”, Zero Hora vale-se dos pareceres de “especialistas” para pespegar no treinador as pechas de “neurótico” e “paranóico”, entre outras patologias. Na verdade, foram ouvidos dois picaretas que, no afã de conseguir seus minutinhos de glória, não hesitaram em mandar às favas o Código de Ética Profissional do Psicólogo. O documento, exarado em 2005, no XIII Plenário do Conselho Federal de Psicologia, em Brasília, diz o seguinte em seu Artigo 2 , alínea “q”: “Ao psicólogo é vedado: realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações". Esperar o que de um veículo que costuma basear suas reportagens em fontes cultivadas nos latões de lixo?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Lançamento: O trabalho do Psicólogo no Brasil



Este livro, recém-lançado pela editora Artmed, é o resultado de um abrangente estudo sobre a formação e o exercício profissional da Psicologia no Brasil. A última grande pesquisa sobre os psicólogos brasileiros foi realizada há mais de 20 anos e resultou no clássico livro Quem é o psicólogo brasileiro? (lançado em 1988 pela Edicon, atualmente esgotado na editora, mas disponível na íntegra aqui). A nova pesquisa - e o livro - foram coordenados pelos psicólogos-pesquisadores Antonio Virgílio Bittencourt Bastos e Sônia Maria Guedes Gondim, ambos da Universidade Federal da Bahia (UFBA). De acordo com o site TramaWeb (link): "O livro apresenta reflexões teóricas que apontam a realidade e os principais desafios da profissão de psicólogo. Entre eles destacam-se o crescimento acentuado em todas as regiões associado a uma interiorização (presença cada vez maior fora das capitais dos Estados), as condições ainda adversas de inserção no mercado de trabalho, com indicadores de precarização muito evidentes, especialmente para o jovem recém-formado e a existência de pouca inovação em termos de atividades desenvolvidas, mesmo com a diversificação de contextos de trabalhos. A autora [Gondim] revela mais: 'uma formação com muitas deficiências, especialmente em competências que rompam a atuação em nível dos indivíduos e atuem em nível de grupos, organizações e outras unidades sociais mais complexas é outra revelada pela pesquisa detalhada no livro'. 'Trata-se de uma obra que envolveu o empenho e esforço de um grande número de pesquisadores, espalhados por programas de pós-graduação de diversas instituições de diversos estados brasileiros. A pesquisa conduzida foi bastante complexa e abrangente, ampliando de forma significativa a compreensão dos problemas que ainda permanecem no exercício da profissão', resume Bastos". Saiba mais sobre este novo e importante livro clicando aqui. Para comprá-lo clique aqui. Eu acabei de encomendar o meu...

A gente não quer só comida

Rótulos


Fonte: Remédios

Lançamento: Cinema e Loucura

Saiba mais aqui.

O imperativo da felicidade


Fonte: Remédios

Procrastinação - Parte 2


Para ver a primeira parte clique aqui.

Catarse


Fonte: Remédios

Relacionamentos modernos - Parte 14


Fonte: Dosis Diarias (adaptado e traduzido pelo Chongas)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Os psicólogos e o Caso Bruno

A mídia já tem um novo Caso Nardoni para focar todas as suas atenções. É o "Caso Bruno". Os jornalistas, ávidos por notícias e imagens exclusivas, cercam o Caso como urubus ao redor de uma carniça. Repórteres ficam de plantão 24 horas na porta das delegacias, helicópteros acompanham a transferência dos acusados, reportagens investigativas tentam ir além do trabalho que a polícia vem fazendo (não por altruísmo, óbvio, mas para lucrar em cima do caso), etc. E junto com os jornalistas carniceiros vêm os "especialistas de plantão". Psicólogos e psiquiatras são chamados a dar suas opiniões "cientificamente embasadas" sobre o caso e os acusados. Fazem, então, análises psicológicas “profundas” a partir de notícias vinculadas nos jornais ou na TV. Não têm, em nenhum momento, qualquer contato com os analisados. Analisam de fora, de longe, superficialmente... Entendo que a mídia também possa deturpar a fala destes profissionais, mas considero-os equivocados a partir do momento que aceitam ceder entrevistas desta natureza. Penso o seguinte: uma coisa é você falar o que acha, dar sua opinião pessoal sobre o Caso com parentes e amigos em uma situação informal; outra, muito diferente, é você dar sua opinião "profissional", publicamente em um órgão de imprensa, sobre alguém que você não conhece a partir da posição de especialista, de expert em determinado assunto. Leiam abaixo algumas opiniões dos nossos colegas psicólogos sobre Bruno:

Jornal do Brasil - Manchete "Psicóloga diz que Bruno é psicopata" - Bruno Fernandes das Dores de Souza, o goleiro Bruno, é um psicopata, na opinião da psicóloga jurídica e perita V. [Não quero confusão, por isso retirei o nome] – Ele tem noção de tudo o que fez, não demonstrou em nenhum momento culpa ou remorso. Essas pessoas sabem o que é certo e errado. V. explica, que, para a Justiça, é mais difícil julgar esse tipo de caso. – O doente mental mata quando surta, e o Bruno, em todos os momentos, foi dissimulado, o que caracteriza o transtorno de conduta – observa psicóloga. – Em uma das entrevistas, ele disse que torcia para que Elisa aparecesse. V. frisou que é importante fazer um estudo da vida do jogador. – Ele tem um histórico de abandono aos 3 anos de idade. A relação mãe e bebê nos primeiros anos de vida é imprescindível para uma boa formação de caráter. Ídolo do clube mais popular do Brasil, Bruno colecionava títulos e era referência para muitas crianças e adolescentes. Na opinião da psicóloga clínica M., a infância e a adolescência são propensas a confusões sobre o que é certo e o que não é. – Algumas crianças têm clareza do que está acontecendo, outras não – pondera – A adolescência, principalmente, é uma fase difícil, de questionamentos, em que a pessoa quer quebrar todas as regras. E, então, pode ocorrer uma deturpação. De acordo com o advogado criminalista A., é comum personagens do futebol se envolverem em transgressões. – Eles ganham dinheiro muito rápido e muitos não têm suporte familiar para saber como se portar. Esse jogador não tem nenhum respeito pela vida humana, nem por mulheres.
SRZD - Manchete "Frieza de Bruno pode ser característica de imaturidade ou psicopatia, diz psicólogo"Capitão de um dos maiores clubes de futebol do Brasil, ídolo de milhões de torcedores, teve uma infância pobre, cresceu na vida com o talento e ganhou notoriedade e dinheiro repentinamente. No auge da carreira, Bruno Souza tem o nome envolvido em um crime bárbaro que chocou o país e repercutiu internacionalmente. Essa poderia perfeitamente ser a história de um filme de suspense, mas não é. O agora ex-goleiro do Flamengo é um dos suspeitos da morte da ex-namorada e mãe de um possível filho seu, Eliza Samudio. Para o psicólogo M., dificilmente o jogador vai conseguir recuperar uma imagem de confiança junto ao público, independentemente do desfecho do crime. "Indepen- dentemente de ser uma pessoa famosa ou não, qualquer pessoa fica estigmatizada e dificilmente vai conseguir reconquistar uma imagem de confiança junto ao público, mesmo que ele não seja condenado. Vai ficar com a imagem arranhada, não tem jeito", disse M. O crime vai sendo desvendado e alguns detalhes chocam. Apesar de não ser acusado de executar o crime, Bruno é suspeito de ser o mandante de um sequestro à moça. Analisando de longe o caso, M. diz que aparentemente, o jogador tem a personalidade fria, o que pode caracterizar duas possibilidades: imaturidade ou psicopatia. "Um psicopata se caracteriza pela frieza, falta de solidariedade. Ele deu uma entrevista dizendo que queria que ela aparecesse logo, que torcia para que ela estivesse viva, mas com certeza sabia o que tinham feito com a mulher, sabia que ela estava morta. Na delegacia, preso, ele conseguiu pensar na convocação para a Copa de 2014, quer dizer, demonstrou muita frieza. Em relação a imaturidade, ele pode ter se deixado levar pelo que os outros diziam. A menina tava enchendo o saco dele, e falaram para ele acabar com ela", analisou. As boas atuações defendendo o gol do clube com a maior torcida do país rendeu ao Bruno além da idolatria de crianças e adolescentes, uma linha personalizada de produtos, fabricados pela marca esportiva Olympikus. O psicólogo explica que é importante os pais orientarem e desconstruírem a imagem de ídolo em uma situação como essa. "É preciso transformar a idolatria positiva em uma idolatria negativa. Os pais devem trabalhar no modelo a não ser seguido, mostrar as coisas que ele perdeu fazendo isso, como o fim da carreira", contou, lembrando que Bruno foi afastado do Flamengo e teve o contrato de patrocínio com a Olympikus suspendido.

Dá pra ver uma pequena diferença entre os psicólogos entrevistados. A primeira psicóloga me parece  mais direta e acusatória: “Ele tem noção de tudo o que fez”. Ou seja, ele fez o que falam que ele fez e o fez consciente. Ele é culpado, portanto. Já o psicólogo da segunda reportagem é um pouco mais comedido, mas ainda sim acusatório. Em certos momento fala que o Bruno PODE ter se deixado levar pelo que os outros diziam, mas em outros é taxativo: ele “com certeza sabia o que tinham feito com a mulher”. O mais perigoso da fala deste psicólogo, na minha opinião, é quando ele (supostamente) diz que Bruno vai “ficar com a imagem arranhada, não tem jeito”, sugerindo que não há como se mudar um estigma, mesmo que ele venha a se mostrar falso. Ou seja, Bruno está condenado para sempre, mesmo que venha a ser provada sua inocência. Culpado ou não, Bruno já foi condenado. Pela mídia e por especialistas como estes que deviam, ao invés de acusar e diagnosticar (estigmatizando ainda mais os acusados), questionar estas análises superficiais e distantes, recusando-se a opinar sobre a vida alheia gratuita e indiscriminadamente. Às vezes o silêncio é a atitude mais sensata...

terça-feira, 6 de julho de 2010

Overanalizing


Fresquinho, direto do sensacional Stuff No One Told Me (Coisas que ninguém me disse). Traduzido e adaptado por mim mesmo.

Profecia auto-realizadora - parte 2

A tirinha é do genial Ricardo Tokumoto da Ryotiras, mas descobri no interessante blog Penso, logo sinto.

Psicólogo Xicovate - Terça Insana



Criado pelo ator Guilherme Uzeda, Xicovate (nome provavelmente inspirado no psiquiatra e terapeuta Flávio Gikovate) é um psicólogo, digamos, hippie - espécie rara hoje em dia, infelizmente (os psicólogos estão cada vez mais "caretas", conservadores e parecidos com médicos!). Acho esta esquete, como a maioria das esquetes da Terça Insana, muito engraçada. E fica ainda mais engraçada ao descobrirmos que o próprio ator é formado em psicologia, tem especialização em Psicodrama (fonte), atuou por um tempo como psicólogo clínico (fonte) e que, além disso, é filho de uma psicóloga e de um psiquiatra (provavelmente, pela minha pesquisa, Pedro Paulo Uzeda, um dos precursores do psicodrama no Brasil). Ou seja, o cara conhece o mundo psi e pode fazer graça dele! Hoje Uzeda não atua mais como terapeuta, tendo optado pela carreira de ator de um dos mais bem-sucedidos grupos de humor do país. Para quem se interessar em conhecer melhor o trabalho da trupe criada pela talentosa atriz Grace Gianoukas (já vista neste blog aqui), recomendo os DVDs "Terça Insana" (2004) e "Terça Insana - Ventilador de Alegria" (2008), cujas esquetes também estão disponíveis no Youtube (link).

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Relacionamentos modernos - Parte 11

I.A. = Internautas Anônimos

Adolescência



Contardo Caligaris

ABBY SUNDERLAND nasceu na Califórnia, em outubro 1993. A família vivia num barco, ao longo da costa do Pacífico. O irmão mais velho de Abby, Zac, aos 17 anos, tornou-se o mais jovem velejador a circum-navegar a Terra sozinho. O recorde de Zac não resistiu muito tempo: logo, Michael Perham, um adolescente inglês um ano mais jovem que Zac, completou sua volta solitária ao mundo. Note-se que Perham, aos 14 anos, já tinha atravessado o Atlântico sozinho. Abby também, desde seus 13 anos, sonhava em circum-navegar a Terra. No começo deste ano, aos 16, sozinha, ela largou as amarras de seu veleiro de 12 metros e desceu o Pacífico Sul. Passou o Cabo Horn, atravessou o Atlântico e passou o Cabo de Boa Esperança, lançando-se no Oceano Índico. Entre a África e a Austrália, Abby encontrou uma tempestade à qual o mastro de seu barco não resistiu. No sábado passado, depois de dois dias à deriva num mar infernal, ela foi resgatada. Pela internet afora e na imprensa dos EUA, os pais de Abby estão sendo criticados por um coro indignado: como vocês puderam deixar uma menina de 16 anos errar sozinha pelo mar e pelos portos? Fora tsunamis e tempestades, o que dizer dos meses insones espreitando o mar e o vento a cada meia hora, da solidão, do trabalho incessante, do frio, do desconforto de uma navegação solitária ao redor do mundo? E os piratas ao sul da Malásia? Por qual permissividade maluca vocês aceitaram que Abby se lançasse numa aventura que seria arriscada para gente grande? Já a bordo do barco que a resgatou, Abby escreveu no seu blog: "Há uma quantidade de coisas que as pessoas podem estar a fim de culpar pela minha situação: minha idade, a época do ano e muito mais. A verdade é que passei por uma tempestade, e você não navega pelo Oceano Índico sem entrar em, no mínimo, uma tempestade. Não foi a época do ano, foi apenas uma tempestade do Oceano Sul. As tempestades fazem parte do pacote quando você veleja ao redor do mundo. No que concerne à idade, desde quando a mocidade do velejador cria ondas gigantescas?". Se você duvida que Abby tivesse a maturidade necessária para sua empreitada, leia o diário da viagem (www.soloround.blogspot.com) -sobretudo as notas de Abby durante a interminável navegação no Atlântico Sul. Os que censuram os pais de Abby afirmam que nunca autorizariam seus rebentos a velejar sozinhos ao redor do mundo porque, aos tais rebentos, falta seriedade e falta experiência. Eles devem ter razão -afinal, eles conhecem seus filhos. Mas cabe perguntar: essa falta de seriedade e experiência é efeito de quê? Da simples juventude? Duvido: La Pérouse, o navegador francês, aos 17 anos, em 1758, já estava combatendo os ingleses ao largo de Terra Nova. Então, efeito de quê? Pois é, provavelmente, os mesmos pais que se indignam com a "irresponsabilidade" dos genitores de Abby permitem a seus filhos, mais jovens que Abby, de sair em baladas nas quais os únicos adultos são os que vendem drogas e bebidas. Será que a volta para casa de madrugada, num carro dirigido por amigos exaustos, exaltados ou sonolentos, é menos perigosa do que a circum-navegação do mundo num veleiro pilotado por Abby, animada há anos por um desejo intenso e focado? E, de qualquer forma, qual das duas experiências você prefere para seus filhos? O fato é que muitos pais preferem que os filhos errem como baratas tontas, de festinha em festinha. Por quê? Simples: assim, os filhos ficam infinitamente mais dependentes. E os pais modernos, em regra, querem os filhos por perto; eles adoram que os filhos demonstrem que eles não são suficientemente maduros para sair pelo mundo e para correr os riscos que o desejo acarreta. Não deveríamos nos perguntar qual é a loucura dos pais que empurraram Zac, Abby e Michael mar adentro, mas qual é a loucura dos pais que preferem largar seus filhos nas noites, em que vodca, cerveja, maconha, ecstasy e papo furado servem para convencer os próprios adolescentes de que ainda não começaram a viver e, portanto, vão precisar dos adultos por muito tempo. Comentando a aventura de Abby, um pai me disse: "Nunca deixaria minha filha navegar sozinha, eu não quero perdê-la". Pois é, "não quero perdê-la" em que sentido?