Lendo o interessante livro "Contra a perfeição: ética na era da engenharia genética", escrito pelo filósofo Michael Sandel (autor do bestseller "Justiça"), me deparei com o seguinte trecho:
"Psicólogos especializados em educação relatam que cada vez mais pais os procuram querendo que seu filho, aluno do ensino médio, seja diagnosticado com alguma deficiência de aprendizagem apenas para ter direito a mais tempo para responder ao exame [Sandel se refere aos exames admissionais para o ensino superior nos Estados Unidos, que correspondem ao Enem no Brasil]. Essa 'compra de diagnósticos' aparentemente foi desencadeada pela declaração em 2002 do College Board (entidade responsável por exames de admissão nos Estados Unidos) de que não mais colocaria um asterisco ao lado da pontuação dos alunos que receberam mais tempo para responder ao exame por ter alguma deficiência de aprendizagem. Os pais pagam aos psicólogos até US$2,4 mil por avaliação e US$250 por hora de serviço para que eles testemunhem em favor do aluno diante da escola e do Educational Testing Service, que elabora o exame de admissão da universidade. Se um psicólogo se recusar a fornecer o diagnóstico desejado, eles procuram outro" (página 67)
Fiquei pensando: será que isso acontece no Brasil? Sinceramente não sei - e se alguém souber, por favor comente abaixo. Mas que pode acontecer, não duvido nada pois, desde 2012 o Enem permite que alguns inscritos obtenham tempo adicional nas provas. Como é possível ler no Edital 2014 do Enem (especificamente no item 2.2.1.1), é possível solicitar atendimento especializado pessoas portadoras das seguintes condições: baixa visão, cegueira, deficiência física, deficiência auditiva, surdez, deficiência intelectual (mental), surdocegueira, dislexia, déficit de atenção, autismo, discalculia, dentre outras. Pessoas que se encaixem nestes diagnósticos podem solicitar tempo adicional para a realização das provas. No entanto o Inep, organizador do Enem, exige a apresentação de alguns documentos comprobatórios - mas não aponta especificamente quais (imagino que o parecer de um psicólogo possa valer em alguns casos).
Sobre esta possibilidade de ceder mais tempo para algumas pessoas na realização das provas considero algo justo e necessário, pois não há nada mais desigual do que tratar as pessoas como se fossem todas iguais - elas não são e nunca serão. Tratar diferentemente os diferentes é um princípio básico de toda proposta que se queira inclusiva. No entanto, uma possível consequência ruim desta regra é que ela abre margem para que estudantes que não sejam portadores de tais transtornos, se utilizem dessa possibilidade para tirar vantagem dos demais. Nesse caso, de posse de um documento comprado que ateste que o sujeito é portador de TDAH ou de dislexia, alguns sujeitos podem conseguir mais tempo para realizar a prova, ampliando suas chances de obter uma nota melhor. E não duvido que tenha muito psicólogo e psiquiatra por aí disposto a vender diagnósticos para quem deseja comprar.
Fiquei pensando: será que isso acontece no Brasil? Sinceramente não sei - e se alguém souber, por favor comente abaixo. Mas que pode acontecer, não duvido nada pois, desde 2012 o Enem permite que alguns inscritos obtenham tempo adicional nas provas. Como é possível ler no Edital 2014 do Enem (especificamente no item 2.2.1.1), é possível solicitar atendimento especializado pessoas portadoras das seguintes condições: baixa visão, cegueira, deficiência física, deficiência auditiva, surdez, deficiência intelectual (mental), surdocegueira, dislexia, déficit de atenção, autismo, discalculia, dentre outras. Pessoas que se encaixem nestes diagnósticos podem solicitar tempo adicional para a realização das provas. No entanto o Inep, organizador do Enem, exige a apresentação de alguns documentos comprobatórios - mas não aponta especificamente quais (imagino que o parecer de um psicólogo possa valer em alguns casos).
Sobre esta possibilidade de ceder mais tempo para algumas pessoas na realização das provas considero algo justo e necessário, pois não há nada mais desigual do que tratar as pessoas como se fossem todas iguais - elas não são e nunca serão. Tratar diferentemente os diferentes é um princípio básico de toda proposta que se queira inclusiva. No entanto, uma possível consequência ruim desta regra é que ela abre margem para que estudantes que não sejam portadores de tais transtornos, se utilizem dessa possibilidade para tirar vantagem dos demais. Nesse caso, de posse de um documento comprado que ateste que o sujeito é portador de TDAH ou de dislexia, alguns sujeitos podem conseguir mais tempo para realizar a prova, ampliando suas chances de obter uma nota melhor. E não duvido que tenha muito psicólogo e psiquiatra por aí disposto a vender diagnósticos para quem deseja comprar.