Tem sido cada vez mais comum encontrar em sites, revistas e livros voltados para o público leigo, expressões que antropomorfizam o cérebro como “o cérebro escolhe”, “o cérebro faz”, “o cérebro pensa”, “o cérebro aprende”, etc, como se o cérebro tivesse vida própria e tomasse as próprias decisões, a despeito de seu “dono”; ou então expressões como "cérebro criativo", "cérebro apaixonado" ou "cérebro feminino", etc. Pois é, toda vez que alguém se utiliza de expressões como essas, comete a chamada falácia mereológica. Esta expressão, utilizada pelos filósofos Peter Hacker e Max Bennett no livro Fundamentos filosóficos da neurociência, aponta justamente para o equívoco de atribuir a uma parte (o cérebro) predicados ou características que dizem respeito ao todo (a pessoa, o organismo). Não é o cérebro que pensa, sente ou escolhe, mas sim a pessoa como um todo. Não é o cérebro que é criativo, apaixonado ou feminino, mas sim as pessoas. Nenhum cérebro sozinho, isolado de um corpo, é capaz de pensar, sentir, escolher ou aprender.
Não acredita? Então faça o seguinte experimento: chame uma pessoa que você goste - e acredite: ela precisa gostar muito de você para topar uma coisa dessas - e peça para ela se deitar; pegue uma serra e corte o crânio dela; em seguida retire seu cérebro e tente estabelecer um diálogo com ele. Não conseguiu? Então pegue esse cérebro e coloque dentro de um aparelho de ressonância magnética funcional e veja se ainda há alguma atividade nele? Não? Então despeça-se da pessoa (ou melhor, de seu cérebro), trabalhe seu luto e fuja ou então ligue para a polícia, pois você acabou de assassinar alguém...
Brincadeiras à parte, o que essa macabra história aponta é que cérebros, ao contrário de pessoas, não pensam, não sentem, não dialogam, não se apaixonam, não escolhem, não são femininos, masculinos, heterossexuais ou homossexuais. Como bem aponta Peter Hacker, em outro livro, "Um cérebro não pode falar, não porque seja um imbecil, mas porque não faz sentido dizer – 'meu cérebro está falando'. Eu posso ser um tagarela. Meu cérebro não pode. Cérebros não utilizam linguagem. Eles não tem opiniões, não argumentam, não levantam hipóteses, nem fazem conjecturas. Somos nós que fazemos essas coisas todas". Na mesma direção, o neurocientista Steven Rose, em um capítulo do livro Critical Neuroscience, aponta que “não são os cérebros que tem conceitos ou adquirem conhecimento ou têm ‘livre-arbítrio’, são as pessoas, usando seus cérebros”. Segundo o autor, dizer que o "cérebro pensa" é equivalente a dizer "a perna anda", como se o cérebro e a perna tivessem autonomia com relação à pessoa como um todo. Para Rose, somos nós que pensamos através do cérebro, assim como andamos com nossa perna. Atribuir a uma parte aquilo que diz respeito ao todo, equivalendo a mente ao cérebro, é entendido pelo autor como uma forma de reducionismo.
Segundo ele, dizer que o cérebro pensa ou aprende, assim como falar em “cérebro esquizofrênico”, “cérebro feminino” ou “cérebro adolescente”, pode até ser entendido como um atalho linguístico conveniente. No entanto, tal atalho não é inocente porque molda os nossos pensamentos e as nossas práticas, inclusive as teorias e práticas científicas. Portanto, da próxima vez que ler ou escutar alguém dizendo que o cérebro faz isso ou faz aquilo lembre-se de que na verdade são as pessoas que fazem tudo isso. Os cérebros, por mais complexos que sejam, não possuem tais capacidades.
Não acredita? Então faça o seguinte experimento: chame uma pessoa que você goste - e acredite: ela precisa gostar muito de você para topar uma coisa dessas - e peça para ela se deitar; pegue uma serra e corte o crânio dela; em seguida retire seu cérebro e tente estabelecer um diálogo com ele. Não conseguiu? Então pegue esse cérebro e coloque dentro de um aparelho de ressonância magnética funcional e veja se ainda há alguma atividade nele? Não? Então despeça-se da pessoa (ou melhor, de seu cérebro), trabalhe seu luto e fuja ou então ligue para a polícia, pois você acabou de assassinar alguém...
Brincadeiras à parte, o que essa macabra história aponta é que cérebros, ao contrário de pessoas, não pensam, não sentem, não dialogam, não se apaixonam, não escolhem, não são femininos, masculinos, heterossexuais ou homossexuais. Como bem aponta Peter Hacker, em outro livro, "Um cérebro não pode falar, não porque seja um imbecil, mas porque não faz sentido dizer – 'meu cérebro está falando'. Eu posso ser um tagarela. Meu cérebro não pode. Cérebros não utilizam linguagem. Eles não tem opiniões, não argumentam, não levantam hipóteses, nem fazem conjecturas. Somos nós que fazemos essas coisas todas". Na mesma direção, o neurocientista Steven Rose, em um capítulo do livro Critical Neuroscience, aponta que “não são os cérebros que tem conceitos ou adquirem conhecimento ou têm ‘livre-arbítrio’, são as pessoas, usando seus cérebros”. Segundo o autor, dizer que o "cérebro pensa" é equivalente a dizer "a perna anda", como se o cérebro e a perna tivessem autonomia com relação à pessoa como um todo. Para Rose, somos nós que pensamos através do cérebro, assim como andamos com nossa perna. Atribuir a uma parte aquilo que diz respeito ao todo, equivalendo a mente ao cérebro, é entendido pelo autor como uma forma de reducionismo.
Segundo ele, dizer que o cérebro pensa ou aprende, assim como falar em “cérebro esquizofrênico”, “cérebro feminino” ou “cérebro adolescente”, pode até ser entendido como um atalho linguístico conveniente. No entanto, tal atalho não é inocente porque molda os nossos pensamentos e as nossas práticas, inclusive as teorias e práticas científicas. Portanto, da próxima vez que ler ou escutar alguém dizendo que o cérebro faz isso ou faz aquilo lembre-se de que na verdade são as pessoas que fazem tudo isso. Os cérebros, por mais complexos que sejam, não possuem tais capacidades.