Há tempos venho observando, com preocupação, um movimento crescente que tem buscado fundir a Psicologia com a Religião, em especial com o cristianismo. Durante a graduação tive contato - para meu total espanto na época - com a revista Psicoteologia, publicada pelo Corpo de Psiquiatras e Psicólogos Cristãos (CPPC). E como, felizmente, nunca perdi a capacidade de me espantar com notícias espantosas, foi exatamente esta minha reação ao ler a seguinte nota no blog da revista Viver Mente e Cérebro:
Dia 29 de maio (sexta-feira) o Conselho Federal de Psicologia deve julgar o caso da psicóloga Rozângela Alves Justino, que trabalha no Rio de Janeiro e presta serviço a pessoas que querem deixar de ser homossexuais. A representação foi movida pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), tendo como base a resolução CPF 01/99 do Código de Ética Profissional do Psicólogo, que veda este tipo de atendimento. Segundo representantes da GLBT, a psicóloga é evangélica, se esforçaria para estabelecer associações entre a homossexualidade, prática de abuso sexual e pedofilia, recorrendo a argumentos de fundo religioso. Ainda segundo a entidade, também tem sido notória a atuação militante da psicóloga contra o projeto de lei nº. 122/2006, que criminaliza a discriminação por gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero, atualmente em pauta para ser votado no Senado Federal. A associação pede a cassação do registro profissional de Rozângela e conta com o apoio formal de 71 psicólogos ligados a Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs).
Digitando o nome da "psicóloga" no Google, encontrei vários textos no mínimo curiosos sobre a questão. O primeiro, do site Jornada Cristã, cita um e-mail enviado por um leitor do site que diz o seguinte sobre Rozângela:
Mais uma vítima da perseguição da Gaystapo. Acessem o blog da psicóloga Rozangela Justino para se informarem melhor acerca do assunto (rozangelajustino.blogspot.com). Recomendo que apóiem e divulguem o quanto for possível, para dar a conhecer ao maior número de pessoas os perigos da “Ditadura Gay” que aos poucos está sendo implantada nesta Terra de Santa Cruz – e que corre o seríssimo risco de ser oficializada no país através do PLC 122/2006 (a famigerada “Lei da Mordaça Gay”) que está sendo avaliada no Congresso Nacional.
E o site continua:
Pequeno comentário: o “crime” da psicóloga é ajudar pessoas que queiram, por livre e espontânea vontade, abandonar o vício do homossexualismo. Por agir assim, corre o risco de ter seu registro profissional cassado. Não há nada pior para um “gay” que um… “ex-gay”. “Traidor do movimento!”, bradam aos quatro ventos. A modernidade é isso: perda completa do direito de escolher o próprio caminho. A identidade de um grupo, ainda que seja uma mera construção social, se sobrepõe à liberdade do indivíduo e de sua própria consciência. Agora, o que você faz na cama, algo que pertence à sua vida privada e à sua intimidade, dá a você “direitos”; o vício torna-se virtude, pela simples vontade e capricho de alguns. E ai de quem for contra… É silenciado pela força, sem chance de expor sua discordância através de um debate. Isso é ou não uma ditadura?
Nos comentários ao texto dois supostos ex-gays deixaram seus depoimentos. Cito um:
Concordo plenamente com o colega Claudemiro Soares [que defendeu o texto e a "psicóloga"], pois também estive homossexual por um período de 4 anos, tinha passado a curtir momentos de sexo homo, fiquei tão viciado que só procurava homens para transas, gostava de penetrá-los ativamente. Certo dia pude perceber que quanto mais praticava mais ficava insaciável, então, parei e pensei em resolver essa questão tão esquisita. O estilo de vida gay é pura ilusão, um mundo de fantasia passageiro, angustiante, insaciável, um mundo “cão”, onde ninguém confia em ninguém, tudo é muito perigoso em todos os sentidos e aspectos. O melhor que fiz deixar esse vício pecaminoso e resgatar minha verdadeira sexualidade sadia: Heterossexualidade Masculina. Tenho um exemplar do livro “Homossexualidade Masculina: Escolha ou Destino?”…
Em outro site, intitulado Monergismo, a própria "psicóloga" escreve o seguinte num texto intitulado "Os Movimentos Pró-Gay e Neonazista":
O movimento pró-gay (movimento sócio-político-cultural empenhado na transformação do mundo em gay) está mudando os costumes brasileiros. Filmes e novelas já mostram cenas de relações entre casais que “estão” homossexuais, tanto masculinos quanto femininos. Há revistas que exaltam a “beleza” do “tipo gay”. As passeatas gays estão se transformando em festa folclórica brasileira. Como o movimento de defesa das mulheres e de crianças e adolescentes tem trabalhado contra o “marketing” do cenário brasileiro associado às “mulatas rebolantes”, devido ao tráfico e à prostituição, as passeatas gays se transformaram na bola da vez para atrair o turista nacional e internacional. Famílias levam seus filhos para se divertirem às custas da miséria humana, embora os ativistas gays acreditem que as passeatas sejam medidas efetivas para uma melhor aceitação social de sua condição.
Para mim, a questão central de toda esta polêmica não é se é possível transformar um homossexual em um heterossexual (o que duvido muito!), mas se queremos e devemos apoiar tais práticas, sejam elas efetivas ou não. É uma decisão política, não científica, afinal, cientificamente, não há como afirmar categoricamente que tal "conversão" seja impossível. O fato de eu e muita gente não acreditar nisso não significa que estejamos certos. Podemos estar errados! Se uma pessoa falar para mim que deixou de ser gay, eu tenho todos os motivos do mundo para duvidar dela, mas não tenho como penetrar em seus desejos mais profundos para desmentí-la. Só o que tenho são suas palavras contra minhas crenças. O que fazer? Sinceramente não sei.
Outra questão é que não podemos proibir uma pessoa de, por livre e espontânea vontade (se isto for possível, questionariam os behavioristas), buscar a "conversão" em uma Igreja ou consultório psicológico. As pessoas podem fazer o que bem entendem de suas próprias vidas desde que não afetem outras pessoas, não é mesmo? Se ela quiser deixar de ser gay, esteja ela certa ou errada, não posso proibí-la, no máximo tentar dissuadí-la. E se ela quiser mesmo "transformar-se" em hetero, o que posso eu fazer? O que questiono é o psicólogo participar disso.
É uma questão muito complexa! A Psicologia brasileira vem lutando a décadas para ser encarada pela sociedade como uma profissão séria e "científica", muito embora inúmeros profissionais insistam em contrariar isso, inserindo em suas práticas diversos procedimentos místicos e religiosos. Só que se fossemos levar à cabo a cientificidade da Psicologia e eliminar tudo o que não é científico, certamente não ia sobrar muita coisa. A psicanálise, inclusive, estaria fora. O que fazer? Como distinguir as práticas científicas das alternativas? E, mais importante, o que fazer com esta distinção? Eliminar tudo o que não seja científico ou aceitar a não-cientificidade da maioria das práticas psicológicas? Pra variar, não tenho respostas, só perguntas.
O CFP, como entidade representativa dos psicólogos, ao contrario destes individualmente, deve ter uma posição clara a respeito deste e de outros assuntos polêmicos. Ficar em cima do muro não ajudaria em nada. E o fato é que o CFP é dominado pelos sócio-históricos, psicólogos marxistas de esquerda. E isto é um elogio! E os psicólogos-sócio-históricos-do-CFP tem uma posição clara a respeito do assunto: o psicólogo não pode e não deve trabalhar na "conversão" de homossexuais. E ponto final! Foi uma decisão baseada na perspectiva dos direitos humanos e contra a homofobia. Apoio totalmente o CFP nesta empreitada contra a discriminação, seja ela qual for. E esta é uma posição política, não científica!
OBS: já discuti a questão da homofobia neste blog diversas vezes (ver aqui, aqui, aqui e aqui).
UpDate (23/06/09): segundo o site Mix Brasil, o julgamento da "psicóloga" Rozângela Alves Justino foi adiado para o dia 31 de Julho...
Dia 29 de maio (sexta-feira) o Conselho Federal de Psicologia deve julgar o caso da psicóloga Rozângela Alves Justino, que trabalha no Rio de Janeiro e presta serviço a pessoas que querem deixar de ser homossexuais. A representação foi movida pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), tendo como base a resolução CPF 01/99 do Código de Ética Profissional do Psicólogo, que veda este tipo de atendimento. Segundo representantes da GLBT, a psicóloga é evangélica, se esforçaria para estabelecer associações entre a homossexualidade, prática de abuso sexual e pedofilia, recorrendo a argumentos de fundo religioso. Ainda segundo a entidade, também tem sido notória a atuação militante da psicóloga contra o projeto de lei nº. 122/2006, que criminaliza a discriminação por gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero, atualmente em pauta para ser votado no Senado Federal. A associação pede a cassação do registro profissional de Rozângela e conta com o apoio formal de 71 psicólogos ligados a Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs).
Digitando o nome da "psicóloga" no Google, encontrei vários textos no mínimo curiosos sobre a questão. O primeiro, do site Jornada Cristã, cita um e-mail enviado por um leitor do site que diz o seguinte sobre Rozângela:
Mais uma vítima da perseguição da Gaystapo. Acessem o blog da psicóloga Rozangela Justino para se informarem melhor acerca do assunto (rozangelajustino.blogspot.com). Recomendo que apóiem e divulguem o quanto for possível, para dar a conhecer ao maior número de pessoas os perigos da “Ditadura Gay” que aos poucos está sendo implantada nesta Terra de Santa Cruz – e que corre o seríssimo risco de ser oficializada no país através do PLC 122/2006 (a famigerada “Lei da Mordaça Gay”) que está sendo avaliada no Congresso Nacional.
E o site continua:
Pequeno comentário: o “crime” da psicóloga é ajudar pessoas que queiram, por livre e espontânea vontade, abandonar o vício do homossexualismo. Por agir assim, corre o risco de ter seu registro profissional cassado. Não há nada pior para um “gay” que um… “ex-gay”. “Traidor do movimento!”, bradam aos quatro ventos. A modernidade é isso: perda completa do direito de escolher o próprio caminho. A identidade de um grupo, ainda que seja uma mera construção social, se sobrepõe à liberdade do indivíduo e de sua própria consciência. Agora, o que você faz na cama, algo que pertence à sua vida privada e à sua intimidade, dá a você “direitos”; o vício torna-se virtude, pela simples vontade e capricho de alguns. E ai de quem for contra… É silenciado pela força, sem chance de expor sua discordância através de um debate. Isso é ou não uma ditadura?
Nos comentários ao texto dois supostos ex-gays deixaram seus depoimentos. Cito um:
Concordo plenamente com o colega Claudemiro Soares [que defendeu o texto e a "psicóloga"], pois também estive homossexual por um período de 4 anos, tinha passado a curtir momentos de sexo homo, fiquei tão viciado que só procurava homens para transas, gostava de penetrá-los ativamente. Certo dia pude perceber que quanto mais praticava mais ficava insaciável, então, parei e pensei em resolver essa questão tão esquisita. O estilo de vida gay é pura ilusão, um mundo de fantasia passageiro, angustiante, insaciável, um mundo “cão”, onde ninguém confia em ninguém, tudo é muito perigoso em todos os sentidos e aspectos. O melhor que fiz deixar esse vício pecaminoso e resgatar minha verdadeira sexualidade sadia: Heterossexualidade Masculina. Tenho um exemplar do livro “Homossexualidade Masculina: Escolha ou Destino?”…
Em outro site, intitulado Monergismo, a própria "psicóloga" escreve o seguinte num texto intitulado "Os Movimentos Pró-Gay e Neonazista":
O movimento pró-gay (movimento sócio-político-cultural empenhado na transformação do mundo em gay) está mudando os costumes brasileiros. Filmes e novelas já mostram cenas de relações entre casais que “estão” homossexuais, tanto masculinos quanto femininos. Há revistas que exaltam a “beleza” do “tipo gay”. As passeatas gays estão se transformando em festa folclórica brasileira. Como o movimento de defesa das mulheres e de crianças e adolescentes tem trabalhado contra o “marketing” do cenário brasileiro associado às “mulatas rebolantes”, devido ao tráfico e à prostituição, as passeatas gays se transformaram na bola da vez para atrair o turista nacional e internacional. Famílias levam seus filhos para se divertirem às custas da miséria humana, embora os ativistas gays acreditem que as passeatas sejam medidas efetivas para uma melhor aceitação social de sua condição.
Para mim, a questão central de toda esta polêmica não é se é possível transformar um homossexual em um heterossexual (o que duvido muito!), mas se queremos e devemos apoiar tais práticas, sejam elas efetivas ou não. É uma decisão política, não científica, afinal, cientificamente, não há como afirmar categoricamente que tal "conversão" seja impossível. O fato de eu e muita gente não acreditar nisso não significa que estejamos certos. Podemos estar errados! Se uma pessoa falar para mim que deixou de ser gay, eu tenho todos os motivos do mundo para duvidar dela, mas não tenho como penetrar em seus desejos mais profundos para desmentí-la. Só o que tenho são suas palavras contra minhas crenças. O que fazer? Sinceramente não sei.
Outra questão é que não podemos proibir uma pessoa de, por livre e espontânea vontade (se isto for possível, questionariam os behavioristas), buscar a "conversão" em uma Igreja ou consultório psicológico. As pessoas podem fazer o que bem entendem de suas próprias vidas desde que não afetem outras pessoas, não é mesmo? Se ela quiser deixar de ser gay, esteja ela certa ou errada, não posso proibí-la, no máximo tentar dissuadí-la. E se ela quiser mesmo "transformar-se" em hetero, o que posso eu fazer? O que questiono é o psicólogo participar disso.
É uma questão muito complexa! A Psicologia brasileira vem lutando a décadas para ser encarada pela sociedade como uma profissão séria e "científica", muito embora inúmeros profissionais insistam em contrariar isso, inserindo em suas práticas diversos procedimentos místicos e religiosos. Só que se fossemos levar à cabo a cientificidade da Psicologia e eliminar tudo o que não é científico, certamente não ia sobrar muita coisa. A psicanálise, inclusive, estaria fora. O que fazer? Como distinguir as práticas científicas das alternativas? E, mais importante, o que fazer com esta distinção? Eliminar tudo o que não seja científico ou aceitar a não-cientificidade da maioria das práticas psicológicas? Pra variar, não tenho respostas, só perguntas.
O CFP, como entidade representativa dos psicólogos, ao contrario destes individualmente, deve ter uma posição clara a respeito deste e de outros assuntos polêmicos. Ficar em cima do muro não ajudaria em nada. E o fato é que o CFP é dominado pelos sócio-históricos, psicólogos marxistas de esquerda. E isto é um elogio! E os psicólogos-sócio-históricos-do-CFP tem uma posição clara a respeito do assunto: o psicólogo não pode e não deve trabalhar na "conversão" de homossexuais. E ponto final! Foi uma decisão baseada na perspectiva dos direitos humanos e contra a homofobia. Apoio totalmente o CFP nesta empreitada contra a discriminação, seja ela qual for. E esta é uma posição política, não científica!
OBS: já discuti a questão da homofobia neste blog diversas vezes (ver aqui, aqui, aqui e aqui).
UpDate (23/06/09): segundo o site Mix Brasil, o julgamento da "psicóloga" Rozângela Alves Justino foi adiado para o dia 31 de Julho...