terça-feira, 14 de julho de 2009

Christiane F. 30 anos depois

Complementando o último post de Felipe Epaminondas (do blog Psicológico), encontrei a seguinte notícia no Portal Terra:

Após 30 anos, Christiane F. ainda luta contra vício 
Christiane Vera Felscherinow ainda não se livrou da guerra particular iniciada em 1975 contra as drogas. Aos 43 anos, a alemã chegou a um estado que alguns médicos consideram "irreversível": sofre de hepatite tipo C e de graves problemas circulatórios. A senhora Felscherinow é, para o mundo, Christiane F., drogada e prostituída aos 13 anos. Seu drama de vício da heroína virou best seller e filme cultuado na década de 80. Hoje, 27 anos depois do livro, Christiane é um retrato, ainda vivo, do poder destruidor das drogas. Apenas em dezembro de 2005, o serviço público de saúde alemão registrou duas internações da paciente, que há anos passa por inúmeros tratamentos de desintoxicação. Todos, invariavelmente, não a livraram do uso de heroína. A iminência de um "colapso circulatório com potencial risco às funções vitais" é descrita em pelo menos um relatório médico. Christiane tem de passar regularmente por sessões de hemodiálise. Mas além das agulhas e injeções hospitalares, ela sempre recorreu ao "pico" da heroína. Sem emprego fixo, Christiane sobrevive dos royalties das obras às quais empresta sua história. A vendagem de livros e a exibição do filme, porém, têm sido cada vez mais escassos. Sua situação financeira é limítrofe: vive com dois tios e o filho de 9 anos, Jan-Nicklas, num apartamento modesto em Berlim. É seu sétimo endereço em 15 anos. Desde que se tornou famosa ao ser "descoberta" por dois jornalistas alemães, que publicaram suas memórias em série na prestigiosa revista Stern, em 1979, Christiane tentou reconstruir a vida, sem sucesso. Chegou a anunciar que estava "limpa", livre das drogas. Anos depois, admitiu que isso nunca ocorreu, a não ser por um período máximo de cinco meses. Fez curso de contabilidade, mas quando começou a trabalhar num escritório acabou presa por posse de droga, em 1983. Depois, tentou ser vendedora de livros: durou três semanas na profissão. Christiane brincou de atriz (interpretou uma dançarina de boate num filme B) e foi cantora de banda punk. Nada sério. Convicta, ela sempre diz que não se considera uma vítima das drogas. Pelo contrário, garante que faz tudo de forma absolutamente consciente. Em entrevista ao semanário holandês De Limburger, em 2005, Christiane deu um recado às milhares de pessoas que se chocam (mas que também admiram) com a sua história. "Eu nunca quis ser exemplo de nada a ninguém, acho que cada um deve saber o que está fazendo. Eu, pelo menos, sei o que faço".


Divórcio dos pais

O inferno de Christiane Vera Felscherinow começou em 1973, quando seus pais se divorciaram. Freqüentadora da discoteca Sound, conheceu Detlef, que se tornaria seu namorado. Viciado em heroína e garoto de programa, Detlef introduz Christiane na "gangue do Zôo", grupo de jovens berlinenses que usavam drogas numa famosa estação de metrô da cidade alemã. No local, ela se prostituiu dos 13 aos 15 anos, necessitando de três "picos" (doses da droga) por dia na reta final. No início, fazia programas para completar o valor do "pico". Ela dizia que só admitia sexo oral ou masturbação nos clientes. Dizia ser "seletiva", repelia os "nojentos", levava uma tarde inteira pra aceitar um cliente. Depois, mudou, aceitava o primeiro que aparecia, tinha relações dentro de carros. Os jornalistas Kai Herman e Horst Rieck, da revista Stern, notaram a presença da garota durante uma reportagem e escreveram uma série de reportagens na publicação. Foi a origem do livro. O ex-namorado Detlef ainda está vivo e mora em Berlim. Com filho e mulher, ele se diz limpo.



Triste, muito triste! Esta notícia, porém, só evidencia o que os profissionais que trabalham na área já estão carecas de saber: que é muito difícil superar a dependência de drogas. Obviamente não é impossível - inúmeros casos e estatísticas atestam isso -, mas convenhamos que é muito doloroso encarar a realidade de frente, sem ilusão. Isto é difícil para todos nós, imagine para os dependentes, que conheceram de perto o "fantástico" mundo da consciência alterada. Voltar à realidade e colocar novamente os pés no chão não é nada fácil. Ouvi certa vez e concordo: no tratamento da dependência de drogas o mais importante não é como tirar a droga, mas o quê colocar no lugar. Por experiência própria (como psicólogo!) percebo que muitos só abandonam a ilusão das drogas substituindo-a por outra ilusão. Comumente migram para (ou re-descobrem) a religião. Já está mais do que provado que praticar a religião (só falar que tem uma não basta!) é um importante fator de proteção ao uso, abuso e dependência de drogas, mas cabe a pergunta: não estará a pessoa substituindo uma ilusão por outra - trocando as drogas por Deus? Acredito que sim e esta é somente uma crença que nunca vou poder provar (sim, um ato de fé!). Concordo com quem afirma que a religião é muito menos danosa do que as drogas. Certamente! Mas, como as drogas, grande parte das religiões (o Budismo talvez seja uma exceção) fazem crer em um mundo imaginário para além do mundo cotidiano, uma vida para além da vida. Se isto é bom ou ruim não vem ao caso pois a crença em Deus e no além vai continuar existindo - queira ou não Richard Dawkins - como sempre existiu (assim como as drogas). O que me questiono com frequência é se não é possível viver só de realidade? Serão as ilusões necessárias para o ser humano? Para Christiane F. certamente é...
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