Recebi hoje por e-mail (de uma pessoa muito querida) a indicação de um curta-metragem intitulado Sociedade Secreta (2008, 28 min), co-dirigido pelo cineasta Kayky Avraham. Repasso a vocês! De acordo com reportagem da Folha Online "Avraham entrou na equipe do documentário após receber uma câmera dos diretores do filme, os então estudantes Juliana Vettore e Murillo Camarotto, formandos em jornalismo da PUC-SP. Na época, 2007, Avraham nunca havia participado de um filme. Era usuário do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) da rua Itapeva, na região central de São Paulo, onde até hoje passa por tratamento para controlar um quadro de distúrbio bipolar com traços de esquizofrenia. Com a câmera entregue pela equipe, Avraham começou a registrar cenas dentro do Caps e acabou como codiretor e protagonista do filme, que retrata as mudanças no sistema de saúde mental após a reforma psiquiátrica de 2001, que tem a intenção de substituir os antigos manicômios por atendimento extra-hospitalar". Em outra reportagem (intitulada "Paciente produz e dirige documentário; ator cria blog contra preconceito" e publicada no dia 4 de Julho de 2009) a Folha apresenta o excepcional trabalho de dois artistas em prol dos direitos humanos - sobre um deles já tratei neste blog, aqui e aqui. Reproduzo abaixo a breve reportagem:
O ator global Bruno Gagliasso, 27, não conhece o cineasta Kayky Avraham, 40, mas os dois usam a arte como forma de combater a loucura. Diagnosticado com distúrbio bipolar e traços de esquizofrenia, em 2007 Avraham codirigiu o filme "Sociedade Secreta", sobre as mudanças no atendimento à saúde mental desde a reforma psiquiátrica de 2001. O cineasta frequenta o Centro de Atenção Psicossocial Itapeva, no centro de São Paulo, e diz que a arte melhorou inclusive sua saúde. Já Bruno Gagliasso, que interpreta o personagem esquizofrênico Tarso na novela "Caminho das Índias", usa a arte para contar que problemas como o preconceito sofrido por Avraham continuam parte da rotina dos doentes mentais. "O preconceito contra essas pessoas é imenso. Um paciente com esquizofrenia me disse que nem queria ter os direitos dos "normais", só queria ser visto da mesma forma que um deficiente físico". Walter Ferreira de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, tem opinião semelhante: "Basta a pessoa chegar perto de um hospital psiquiátrico que fica estigmatizada, é vista como improdutiva". No ano passado, Gagliasso percorreu o Brasil com a peça "Um Certo Van Gogh", na qual interpretava o pintor holandês, que sofria de ataques psicóticos e delírios e experimentou seu período mais criativo em um sanatório na França (veja quadro ao lado). O ator criou um blog que fala sobre doença mental, no qual sugere leituras sobre loucura e dialoga com os fãs, inclusive pacientes. Gagliasso conta que seu taxista tinha medo de levá-lo para os ensaios de uma banda formada por profissionais e pacientes, no Rio. "Eu o convidei a entrar. Apontei para um deles, todo mundo dançando e cantando, e perguntei para o taxista "esse aí é louco'? "Claro que é, olha a cara dele", ele respondeu. Era um dos terapeutas. Na saída, ele disse que não trabalharia mais naquele dia, para preservar a emoção que sentiu."
Como não consegui ter acesso ao URL do video (restrito aos assinantes UOL) para disponibilizá-lo neste blog, peço que cliquem na imagem acima (ou aqui) para assistí-lo.