segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Muito além da realidade: uma breve análise da série "Bom dia, Verônica"

Depois de ler Uma mulher no escuro, do Raphael Montes (que gostei muito), decidi assistir a série Bom dia, Verônica, que é baseada em um livro do autor com a criminóloga Ilana Casoy. Como comentei nas redes sociais, achei o primeiro episódio sofrível, mas segui adiante e assisti toda a primeira temporada. E de fato minha avaliação da série melhorou um pouco: foi de terrível para ruim. Primeiro vamos aos pontos positivos: a trama é instigante, a fotografia é bonita (lembra a da série CSI) e o final traz um gancho bem sólido para uma segunda temporada. Mas os pontos negativos colocam tudo isso por terra: o roteiro é muito fraco, os diálogos são sofríveis e terrivelmente didáticos, os personagens são rasos e as atuações absurdamente artificiais - assim como os cenários, americanizados demais. Os atores bem que tentam dar algum peso às atuações mas jamais conseguem sair da caricatura - eu não os culparia, contudo, e sim o roteiro (exceto no caso da inexpressiva atriz principal). E isto me traz a um outro ponto negativo: a série se vende como uma obra de denúncia dos abusos e violências contra as mulheres, mas eu me questiono até que ponto retratar uma situação tão extrema de fato contribui para a causa. Se retratasse um marido babaca, opressor e violento como tantos que existem por aí, certamente a série estaria mais próxima da realidade que pretendia representar. Mas a série decidiu retratar um sujeito que não é "apenas" um marido opressor e sim um psicopata serial killer que parece ter saído do filme Jogos mortais - e isto deixa a trama pouco crível e distante da realidade. Outro ponto terrivelmente negativo está na forma como a narrativa vincula o comportamento do assassino a certos rituais de "magia negra" que só estigmatizam ainda mais as já estigmatizadas religiões de matriz africana. E o que falar do discurso - totalmente afinado com o bolsonarismo - de que se a justiça não funciona e as instituições estão corrompidas o jeito é fazer justiça com as próprias mãos? Essa representação/defesa do justiçamento não acrescenta em nada às discussões que a série pretende trazer. Enfim, uma série ruim, narrativa e eticamente. Na minha opinião, claro...

Texto escrito originalmente para meu perfil pessoal no Instagram - me segue lá: @felipestephan
Comentários
1 Comentários

Um comentário:

Jéssica Flausino disse...

Eu achei bem chato... concordo com você em certos pontos, mas sofri para terminar a série.