quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Por que os argentinos amam psicanálise?



Recentemente, foi publicado no blog Mind Hacks o seguinte post (traduzido de forma amadora por mim):

Argentinos tem uma relação de amor com a psicanálise

O Street Journal publicou um artigo revelador sobre porque a Argentina tem a maior concentração de psicólogos em todo o mundo e porque tem uma longa fascinação cultural com a psicanálise.

A psicanálise é um conjunto de teorias psicológicas e uma forma de psicoterapia fortemente baseados nas idéias de Freud. Buenos Aires é um dos centros mundiais da psicanálise e o tem sido desde os primórdios da obra de Freud.

Ao contrário de muitos países, onde a psicanálise foi e continua a ser uma psicologia para os ricos, a prática decolou na Argentina durante os anos 1960 até o ponto onde hoje é comum para as camadas populares encontrar um analista. O WSJ cita um estudo recente que sugere que 32% dos argentinos fizeram análise em algum momento de suas vidas.

A argentina também é conhecida como um centro de psicanálise lacaniana, baseada no trabalho do psiquiatra francês Jacques Lacan. Se você puder, imagine um francês pós-moderno apropriando-se de Freud. Se não puder, ler Lacan é improvável que ajude, porque é uma reinterpretação quase impenetrável do que já era um conjunto de teorias razoavelmente arraigadas (loopy) em diversos lugares.

Mas a psicanálise é mais do que uma prática psicológica na Argentina, é uma parte central da cultura e o artigo do WSJ explora um pouco de sua popularidade:

A psicanálise está incorporada na geografia de Buenos Aires, onde muitos analistas estão agrupados em um bairro conhecido popularmente como Villa Freud.

O pensamento freudiano permeia o noticiário político. O semanário Noticias recentemente convidou para um painel 10 psicanalistas para explicar o comportamento do ex-presidente Néstor Kirchner, que está roubando os holofotes políticos de sua esposa, Cristina, a atual presidente.

Uma revista pergunta: O que fazer com a afirmação da Sra. Kirchner de que o marido dorme em posição fetal?

Enquanto isso, na TV, uma série dramática chamada "Tratame Bien" ( "Trate-me bem"), centra-se nas agruras de José e Sofia, marido e mulher, cada um com um analista. Diante de uma crise de meia-idade, os dois tomam uma decisão importante: manter um terceiro analista para que possam fazer juntos uma terapia de casal.

Curiosamente, grande parte da America Latina ainda é fortemente influenciada pela psicanálise, provavelmente devido às influências históricas dos E.U.A. no Norte e da Argentina no Oeste. [link]

Entretanto, desde que trabalho aqui, eu percebi que fazer uma psicologia e psiquiatria baseadas em evidências é muito mais difícil em países com recursos limitados.

Acesso às evidências é caro (graças ao uso restritivo dos direitos autorais e dos excessivos preços dos jornais/ revistas científicos) e a pesquisa é difícil quando há pouco tempo livre e poucas oportunidades de financiamento.

No entanto, isso não se configura como um problema para os psicanalistas, porque suas maiores fontes de informação são a sua própria experiência, insights e o trabalho com o paciente, além de discussões em um conjunto limitado de revistas.

Em outras palavras, é muito mais fácil cumprir os requisitos do que se espera de um bem informado e competente psicanalista do que o que se espera de um psicólogo orientado cientificamente e baseado em evidencias (scientifically-oriented evidence-based psychologist). [link]

Isso, eu suspeito, é uma das muitas razões pela quais a psicanálise continua a ser popular na América Latina.

Psicanalistas e psicólogos latino-americanos, durmam com essa...

Comentários
6 Comentários

6 comentários:

Carlos disse...

Muito bom post. Interessante o dado que 32% dos argentinos já tiveram contato com um analista. E ser psicólogo baseado em evidências de eficácia faz com que se perca muito do 'fascínio poético' que tem a psicanálise.

Alessandro Vieira dos Reis disse...

Ótima sua tese!

É realmente mais fácil basear-se em metapsicologia do que em evidências.

Marcus disse...

Boa teoria, e talvez justamente por isso a psicologia científica tem se fortalecido aos poucos no Brasil. Com o avanço da tecnologia há também a necessidade de uma psicologia que consiga dialogar com outras áreas.

Outro ponto pode ser lembrado, há na área de humanas nos países latino-americanos uma necessidade muito grande de se aproximar ao estilo francês e pós-moderno de pensamento. Isso pode vir de diversos fatores, claro, inclusive a busca pelo confirmação do rótulo de intelectual, humanista e sensível com as peculiaridades dos homens.

Dan disse...

E quanto às influências e derivações clínicas, também inquestionavelmente importantes, de autores como Bion, Winnicott e Ferenczi, há espaço e acolhimento na Argentina para elas?

Anônimo disse...

E depois de tantas análises, os argentinos vem saborear o sol e o povo malhado,moreno e gostoso do Brasil? Uau ! E viva o Brasil, terra de morenas gostosas, de psicanalistas incríveis e da busca da privacidade dos casais...Brasil, Brasil, Brasil!

Os argentinos devem ter lido muito Simone de Beauvoir e sua decadente obra existencialista, expondo a finitude de seu companheiro.

Anônimo disse...

Não concordo que todas as pessoas que buscam o conhecimento ,gostem de ser rotuladas de intelectuais, humanistas ou sensíveis. Há pessoas que SÃO e outras que gostam de ROTULÁ-LAS EM TUDO.