Em homenagem a este supersticioso dia, sugiro a todos a leitura de um artigo fabuloso, intitulado Sob o encanto da lua, publicado na revista Mente & Cérebro de Setembro. Os autores mostram como a idéia de influência lunar tem sido utilizada no decorrer da história e nas mais diversas culturas para explicar comportamentos humanos e sobre como estas concepções, à luz da ciência moderna, não passam de "fóssil cultural". Um trecho:
"Por pelo menos três motivos, essa teoria [da influência lunar] pode “ir por água abaixo”. Primeiro, os efeitos gravitacionais da Lua são muito pequenos para causar qualquer alteração significativa na atividade cerebral, que dirá, então, no comportamento. Como notou o astrônomo George Abell, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, um mosquito pousado em nosso braço exerce uma força gravitacional mais potente do que o satélite. Em segundo lugar, a força gravitacional da Lua afeta apenas corpos de água abertos, como oceanos e lagos, mas não fontes contidas, como o cérebro humano. E, por último, o efeito gravitacional é tão forte durante a lua nova – quando ela é invisível para nós – quanto durante a fase cheia (quando se acredita que seu poder místico esteja mais intenso).
E, ainda, o problema mais grave para os crentes fervorosos no efeito lunar: não há nenhuma evidência de que ele exista. O psicólogo James Rotton, da Universidade Internacional da Flórida, o psicólogo Ivan W. Kelly, da Universidade de Saskatchewan, e o astrônomo Roger Culver pesquisaram ampla e profundamente a existência de efeitos comportamentais consistentes causados pela lua cheia. Em todos os casos, eles saíram de mãos vazias. Esses pesquisadores combinaram resultados de múltiplas investigações, tratando-os como um único grande estudo – procedimento estatístico chamado meta-análise – e descobriram que a lua cheia não tem correlação alguma com eventos hostis, incluindo crimes, suicídios, problemas psiquiátricos e aumento das chamadas dos serviços de emergência. No artigo “Muito tumulto por causa da lua cheia”, publicado no periódico Boletim de Psicologia, Rotton e Kelly, com bom humor, deram adeus às pesquisas sobre o efeito da lua cheia e concluíram que não eram necessários estudos mais profundos.
Outra sugestão é a mini-série Inimigos da razão (cujo primeiro episódio, disponível abaixo, intitula-se Escravos da Superstição), do biólogo, polemista e ateu militante Richard Dawkins. Tenho muitas críticas a ele e ao video, mas vale a pena assistir, nem que seja somente para criticá-lo. Abaixo a primeira parte (de um total de cinco):
Para assistir as demais partes clique aqui, aqui, aqui e aqui.
OBS: Dawkins também escreveu um texto brilhante (extraído de seu livro Desvendando o Arco-Íris), intitulado "A caixa de Skinner", em que ele explica, a partir da perspectiva behaviorista, a formação do comportamento supersticioso. Para ler este texto, clique aqui ou aqui.