sexta-feira, 6 de março de 2020

Sex education e a importância da psicoterapia

Assisti a primeira temporada da série Sex education, produzida pela Netflix, e gostei muito. Para além dos dramas e romances adolescentes, já extensamente retratados em outras produções, a série foca sua atenção na questão sexual - e o faz com uma naturalidade e uma honestidade impressionantes. Para quem não assistiu ainda, Sex education tem como protagonista o jovem Otis, cuja mãe é uma experiente terapeuta sexual, e que passa a atuar em sua escola, ele próprio, como uma espécie de terapeuta sexual amador. A questão é que Otis tem uma série de dificuldades na esfera sexual - ele não consegue se masturbar, por exemplo - mas apesar ou em decorrência de seus problemas ou limites pessoais, ele consegue, de fato, ajudar seus colegas com suas dificuldades sexuais e amorosas. Enquanto psicólogo, percebo que a série ilustra muitíssimo bem o peso das palavras (ditas e ouvidas), e, de uma forma mais específica, a importância da terapia. Muito embora o que Otis faça não seja propriamente uma terapia - está mais um processo de orientação - todos os principais elementos de uma psicoterapia estão presentes em seus atendimentos: uma escuta atenta, uma abordagem empática, a busca por soluções e orientações personalizadas, etc. Da mesma forma, a série expõe a importância de tais atendimentos para as pessoas que passam por dificuldades - e que vivenciam e tentam lidar com seus problemas muitas vezes sozinhas, especialmente no que diz respeito à sexualidade - e também o peso e a importância que as palavras do terapeuta tem na vida das pessoas que são por ele atendidas. Suas palavras não apenas confortam mas também ajudam as pessoas a tomarem decisões e mudarem os rumos da própria vida. "As palavras importam", a série parece dizer todo o tempo. Enfim, para além de trazer à tona toda a complexidade da vida afetiva e sexual das pessoas, não apenas dos adolescentes, e ainda tratar de temas difíceis como o aborto com grande naturalidade e honestidade, a série ainda acaba por se constituir, sem que talvez pretenda, como uma obra em defesa da psicoterapia - ou, mais amplamente, da escuta e da empatia- para o crescimento das pessoas, seja na esfera sexual seja em outras esferas da vida.
Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário: