sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Psicologia Cristã - O eterno retorno


Passados dois anos da aplicação pelo CFP da censura pública à "psicóloga missionária" Rozângela Justino por defender publicamente e atuar no "tratamento" de homossexuais (saiba mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), mais uma polêmica relacionada à uma psicóloga cristã e homofóbica vêm à tona. A "psicóloga" da vez é M. L., criadora do site Psicologia Cristã, autora dos livros "Psicopatas da fé", "Entrevista motivacional: uma abordagem cristã" e "Auto-sugestão divina" e organizadora da Expocristo. Segundo o referido site, M. "é uma Psicóloga Clínica, formada em 1996, pela universidade Tuiuti do Paraná. Pós graduada em saúde mental, com curso de extensão em sexualidade humana, dependência química, cursos de entrevista motivacional, psicossomática, psicodiagnóstico, psicoterapia breve, arte terapia, bibliodrama aconselhamento Pastoral e Teologia. Estagiou, a convite do Governo dos Estados Unidos, na Mont Sinai Hospital, em New York, na Divisão Internacional de Atenção Primária a Saúde. Ministra cursos e palestras e possui experiência de mais de 13 anos em clinica e dependência química". Currículo admirável, não? Mas na seção "Quem sou eu" de seu blog, fica evidente que, antes de tudo, ela é cristã. E é este cristianismo, ao que tudo indica, que guia sua "teoria" e sua prática. Em uma entrevista, M. chega a dizer que tudo em sua vida "está subordinado á palavra de Deus inclusive minha profissão, creio ser por isso que sou, graças a Deus, bem sucedida".

Bem, a polêmica começou com uma carta que M. escreveu ao deputado Marco Feliciano (que é pastor e filiado ao PSC) questionando o apoio do Conselho Federal de Psicologia ao Kit Anti-homofobia. Segue um trecho desta carta, que pode ser lida na íntegra aqui.

"Uma coisa é aceitar a pessoa como ele é outra coisa é eu ser obrigado a ser como ele, para não me taxarem de homo fóbico. Se começarmos ficar refém dessas atitudes desrespeitosa com receio de perdermos voto, vamos transformar nosso país em um BRASIL amoral, sem lei, sem regras sem princípios e sem ética. Tudo em nome de um prazer seja ele qual for isso é muito sério". (Está exatamente assim na carta, com os erros de português e tudo mais. E eu retirei este trecho do blog dela, não de um outro site que poderia alterar o conteúdo da carta para prejudicá-la. Ok, eu questiono a norma culta, mas em uma carta aberta endereçada a um deputado, um mínimo de cuidado é necessário. Ou não?)

Nos comentários à carta em seu blog, algumas pessoas criticaram sua posição. Segue uma de suas geniais respostas (e percebam que os erros de português permanecem):

"Quero dizer aos psicólogos que me afrontam, que a partir do momento, que ENTRAM aqui, para dar sua ridícula opinião, se mostram preconceituosos com minha crença, minha Fé, portanto se me acham antiético, VOCÊS são porque estão SAÍNDO em defesa de UMA causa, que nem sabe direito qual é. CRITICAM-ME PORQUE ODÉIAM CRENTES, E PORQUE OS CONSULTÓRIOS DE PSICÓLOGOS QUE SE MOSTRAM CRISTÃOS, ESTÃOS CHEIOS ENQUANTO OS DOS SENHORES ESTÃOS AS MOSCAS,TENDO QUE TRABALHAR NO SERVIÇO PÚBLICO, O DIA INTEIRO PARA GANHAREM UMA MERECA RSS. Essa é a diferênça de Servir a Deus, ele nos prospera e nos honra, Nunca disse que sou homofóbica.vocês estão dando diagnóstico, isso é anti ético hemmm, moçada , cresçam, to nem aí pra vcs , pegaram a pessoas errada, naõ dependo da psicologia para viver. Graças a Deus" (Eu simplesmente copiei e colei. Está exatamente assim, confiram aqui. Só não entendi uma coisa: se o consultório dela está sempre cheio, por que, afinal, ela agradece a deus por não depender da psicologia para viver? E qual seria o problema, então, em ter o registro profissional cassado pelo CFP? A única explicação que encontro é que, ao afirmar-se psicóloga, ela acaba por ganhar de seus fiéis uma maior autoridade, pretensamente científica, para expressar suas idéias, basicamente religiosas. Por fim, chamo a atenção de vocês para a louvável atitude cristã que M. demostra ao rir daqueles psicólogos que "ganham uma merreca" e não estão tão prósperos como ela. Muito bonito isso...).

O advogado Tiago Morini rebateu, escrevendo uma carta aberta criticando M. Não tenho como discordar dele! Leia na íntegra aqui. Segue um trecho em que ele comenta a afirmação dela, transcrita acima:

"Eu particularmente li esse trecho algumas vezes e conferi para ter certeza de que foi escrito por uma psicóloga. Sua afirmação beira o absurdo – caso não tenha ultrapassado tal linha. Como eu mencionei anteriormente, todos os “privilégios” concedidos àqueles que forem discriminados ou sofrerem preconceito por sua opção sexual – inclusive os HETEROssexuais – com a PLC122, seriam postos no mesmo patamar dos religiosos que sofrerem com tais injustiças por serem religiosos. Uma psicóloga que teme, infundadamente, ser obrigada a se tornar homossexual porque pessoas lutam contra serem ofendidas e humilhadas diariamente é quase uma piada da qual não disponho senso de humor para rir".

Nos comentários, M. responde Tiago, partindo para o ataque:

"Você é um ignorante, eu disse que não faço tratamento para mudar orientação de ninguém, mas no twitter , não podemos escrever uma carta não é mesmo. Vocês sim são preconceituosos , olha o que fazem comigo, estão invadindo minhas redes, eu não invado a de vocês. Mas sou forte decidida, não tenho medo de ninguém, o conteúdo do Kit, é péssimo, então questiono sim o CFP, minha opinião, meu direito ainda que me cassem .. e você um aproveitador está pegando carona, ótimo estão só me promovendo a mim e ao Deputado @marcofeliciano que tive a honra de conhecer. NÃO SOU HOMOFÓBICA, mas tenho verdadeira vergonha de pessoas que fazem o que fazem, ódio está do lado de vocês não do meu, não aceitam uma critica, bem vindo ao mundo das igualdades é assim mesmo. cresçam somos todos iguais" (Adorei, especialmente, a frase: "estão só me promovendo a mim") 

E a guerra continua... de que lado você está? Mantenho minha opinião e minhas dúvidas, que expressei há dois anos sobre o caso Rozângela Justino: "A Psicologia brasileira vem lutando a décadas para ser encarada pela sociedade como uma profissão séria e 'científica', muito embora inúmeros profissionais insistam em contrariar isso, inserindo em suas práticas diversos procedimentos místicos e religiosos. Só que se fossemos levar à cabo a cientificidade da Psicologia e eliminar tudo o que não é científico, certamente não ia sobrar muita coisa. A psicanálise, inclusive, estaria fora. O que fazer? Como distinguir as práticas científicas das alternativas? E, mais importante, o que fazer com esta distinção? Eliminar tudo o que não seja científico ou aceitar a não-cientificidade da maioria das práticas psicológicas? Pra variar, não tenho respostas, só perguntas.O CFP, como entidade representativa dos psicólogos, ao contrario destes individualmente, deve ter uma posição clara a respeito deste e de outros assuntos polêmicos. Ficar em cima do muro não ajudaria em nada. E o fato é que o CFP é dominado pelos sócio-históricos, psicólogos marxistas de esquerda. E isto é um elogio! E os psicólogos-sócio-históricos-do-CFP tem uma posição clara a respeito do assunto: o psicólogo não pode e não deve trabalhar na "conversão" de homossexuais [e nem discriminá-los de nenhuma forma, acrescento]. E ponto final! Foi uma decisão baseada na perspectiva dos direitos humanos e contra a homofobia. Apoio totalmente o CFP nesta empreitada contra a discriminação, seja ela qual for. E esta é uma posição política, não científica!". Ao mesmo tempo, aceito que, em última instância, ao lutar contra o preconceito, exercemos preconceito contra o preconceituoso, chegando, às vezes, a sentir ódio daqueles que odeiam. É paradoxal! E isto aponta para a impossíbilidade de consenso, nesta e em outras questões polêmicas. Mas isso não impede de continuarmos lutando por aquilo que acreditamos. E eu luto contra a homofobia!


Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Anônimo disse...

Antes de comentar, NÃO sou evangélico nem GLS. Parece haver extrapolações dos dois lados.

Seria muito bom se a psicologia levasse mais racionalidade e senso de responsabilidade aos grupos religiosos, pois a maioria deles está precisando urgente. Infelizmente, eles preferem fazer um self-service da psicologia.

Como todo cidadão, um psicólogo pode ter suas convicções pessoais sobre qualquer assunto e divulgá-las. Mas deve separar bem (1) as ocasiões em que fala como representante da psicologia (2) das ocasiões em que defende suas ideias particulares.

Por outro lado, parece ser um caso de "dois pesos e duas medidas". Há muitos que se autodenominam "psicólogos budistas", "psicólogos espíritas", "psicólogos marxistas", "psicólogos feministas", etc. e não há alarde. Por que essa diferença?

O Alessandro do Olhar Beheca fez diversas postagens sobre ateísmo e budismo neste blog, que é para divulgar o behaviorismo.

Você mesmo escreveu "E o fato é que o CFP é dominado pelos sócio-históricos, psicólogos marxistas de esquerda. E isto é um elogio!"

Em menor grau, é o mesmo que a Marisa Lobo fez.

Direitos e deveres iguais!

Unknown disse...

As pessoas estão muito preocupadas em denegrir a imagem das outras, mas não olham para seus próprios erros... Por que ela é psicologa não pode ser Evangélica ou mesmo expressar opiniões contrárias ao conselho.
Não me leve a mal mas preste atenção e verá que seu dedo está apontado para você mesmo!!!