segunda-feira, 4 de abril de 2022

Por que estamos tão cansados? Uma resenha do livro "Não aguento mais não aguentar mais"

Para muito além das afirmações genéricas do filósofo Byung-Chul Han na obra Sociedade do cansaço, a jornalista Anne Helen Peterson explica e analisa em detalhes, neste livro sensacional, os motivos pelos quais estamos tão cansados - especialmente, mas não exclusivamente, os chamados Millenials ou geração Y, que nasceram entre 1981 e 1995 (meu caso) e que a autora toma como foco de sua análise. Na visão de Peterson, os motivos para tal cansaço são múltiplos e incluem desde a demolição do Estado de Bem-estar social e a precarização/terceirização/uberização do trabalho até a onipresença das mídias digitais. Em cada um dos capítulos a autora analisa um amplo processo social iniciado ou intensificado pelas gerações dos nossos pais que construiu as bases do mundo que herdamos e que temos contribuído para piorar. E embora ela enfoque a situação dos Estados Unidos, grande parte de sua análise acaba sendo válida também para a realidade brasileira. A grande sacada da autora, e que a diferencia dos infinitos livros de autoajuda lançados todos os dias, é que tanto as explicações que ela apresenta quanto as possíveis soluções não são individuais, mas coletivas. Não se trata, portanto, de pensar como eu, individualmente, posso lidar com o cansaço que me acomete dia após dia, mas como podemos lidar com isso coletivamente, de forma que os trabalhadores em geral não sejam tão explorados e não se sintam, por conta disso, tão cansados. Como Peterson afirma na conclusão do livro, "podemos reconhecer que não é suficiente tentar melhorar as coisas para nós mesmos. Temos que melhorar as coisas para todos. E é por isso que mudanças significativas e verdadeiras precisam vir do setor público" Interessante perceber, nessa direção, que a autora se utiliza da expressão burnout não como um diagnóstico médico - que como todo diagnóstico se foca no indivíduo - mas como um elemento da cultura. É a forma como estruturamos nossa sociedade, em seus variados aspectos, que gera todo esse cansaço, sentido de forma mais ou menos intensa por cada um de nós. Enfim, recomendo fortemente este livro maravilhoso e necessário!

Trecho do livro: "Não temos que valorizar a nós mesmos e os outros pela quantidade de trabalho que fazemos. Não temos que nos ressentir dos nossos pais ou avós por terem vidas mais fáceis que as nossas. Não temos que nos submeter à ideia de que o racismo e o machismo estarão presentes sempre. Podemos chegar à espetacular e radical conclusão de que temos valor, cada um de nós, simplesmente por existirmos. Podemos nos sentir muito menos solitários, muito menos exaustos, muito mais vivos. Mas é necessário bastante esforço pra compreender que a forma de alcançar isso tudo não é, na verdade, trabalhando mais".
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