quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Quando o cérebro falha: uma resenha do livro No labirinto do cérebro

Li esta semana o livro No labirinto do cérebro, recém-lançado pela editora Companhia das Letras. Achei bom, não excelente. Escrito pelo neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho (filho do também neurocirurgião Paulo Niemeyer e sobrinho do famoso arquiteto Oscar Niemeyer) este livro tem um duplo objetivo: divulgar para um público amplo o conhecimento atual do sistema nervoso humano e, ao mesmo tempo, relatar situações vividas pelo autor em seus muitos anos como neurocirurgião. Quando se foca na divulgação científica o livro não empolga (ou melhor, não me empolgou), pois traz informações já exaustivamente tratadas em inúmeros outros livros de neurociência - pense, por exemplo, nas clássicas histórias dos pacientes HM, Phineas Gage, etc. Por outro lado, o filé mignon do livro são seus relatos de doença e cirurgia que, infelizmente, ocupam, se muito, 10% das páginas. Uma pena, já que o que eu esperava de um livro escrito por um neurocirurgião seriam histórias de sua prática - tal qual fez com brilhantismo o neurocirurgião inglês Henry Marsh na já clássica obra "Sem causar mal: histórias de vida, morte e neurocirurgia", lançada no Brasil em 2016 (e sobre a qual já escrevi anteriormente). Em comparação com o livro de Marsh, falta também à Paulo Niemeyer profundidade emocional em seus relatos. Em geral as histórias clínicas são contadas de forma muito rápida e objetiva, sem que o autor relate sua própria vivência. Ainda assim - o que considero um ponto positivo - Niemeyer relata não apenas casos "bem sucedidos" mas também "fracassos", isto é, casos que não resultaram em melhora ou, pelo contrário, que resultaram em piora ou morte. De uma forma geral considero uma boa obra, que ao mesmo tempo informa sobre a estrutura e o funcionamento cerebral e ainda traz relatos do autor, um experiente neurocirurgião.

Trecho do livro: "Os cirurgiões parecem ter chegado ao limite do que é possível, com uma técnica baseada no conhecimento anatômico e na habilidade manual. Hoje, já não existem áreas do cérebro que sejam inalcançáveis. Podemos atingir qualquer ponto, o que não significa que possamos remover ou corrigir todas as lesões. Os limites agora são características biológicas das doenças. Como curar um tumor maligno que infiltra o cérebro? Certamente, não será pela cirurgia".

Texto escrito originalmente para meu perfil pessoal no Instagram - me segue lá: @felipestephan
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