segunda-feira, 13 de abril de 2020

Entre o otimismo e o ufanismo neurocientífico: breves reflexões sobre o documentário I am human

Muito interessante o documentário "I am human", recém-incluído no catálogo do Amazon Prime Video. O filme retrata os avanços, as possibilidades, as dificuldades e os limites das chamadas interfaces cérebro-máquina. O documentário apresenta, em especial, três casos de pessoas com certas doenças ou incapacidades (um sujeito tetraplégico, outro cego e uma mulher diagnosticada com Parkinson) que foram beneficiadas por implantes cerebrais. E de fato a possibilidade de que certas tecnologias invasivas (caso da Estimulação Cerebral Profunda) ou não-invasivas (caso da Estimulação Magnética Transcraniana) auxiliem pessoas com doenças ou incapacidades graves é real e certamente avançará muito no futuro - assim eu espero. Minha crítica com relação ao filme diz respeito ao seu exagerado "ufanismo neurocientifico" (expressão criada pelo antropólogo Rogério Azize), isto é, à visão excessivamente deslumbrada de que um dia (sempre um dia) as neurociências entenderão completamente a mente e o cérebro humanos e resolverão todos os nossos problemas. Este otimismo exacerbado com relação às possibilidades da ciência - em especial das neurociências - leva alguns entrevistados do filme a imaginarem um cenário implausível no qual todas as doenças mentais serão irremediavelmente curadas (como se elas se relacionassem apenas ao funcionamento cerebral e como se o cérebro não tivesse qualquer relação com o resto do corpo e com o mundo) e as pessoas se comunicarão umas com as outras "telepaticamente" através de interfaces cérebro-máquina. Tais visões excessivamente (às vezes alucinadamente) otimistas das possibilidades e potencialidades das intervenções tecnológicas no cérebro e na mente humanos tornam o filme uma mistura de documentário e ficção científica. Enquanto documentário é excelente, enquanto ficção científica é otimista demais - e ficção científica e otimismo definitivamente não combinam.
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