sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O holocausto brasileiro: a loucura da razão


O jornal Tribuna de Minas publicou esta semana uma série de reportagens intitulada Holocausto brasileiro: 50 anos sem punição, escrita pela premiada jornalista Daniela Arbex, cujo objetivo foi trazer à tona,  através do depoimento de sobreviventes e testemunhas, as  atrocidades ocorridas no interior do Hospital Colônia de Barbacena. Este verdadeiro campo de concentração para "loucos" (conceito que incluía homossexuais, militantes políticos, alcoolistas, mendigos, etc) foi transformado, na década de 80, no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), ainda em funcionamento. O local abriga também o Museu da Loucura, inaugurado em 1996. As reportagens da Tribuna são ricamente ilustradas por fotos incríveis e chocantes retiradas na década de 60 pelo fotógrafo Luiz Alfredo, na época da revista "Cruzeiro". Segue um trecho da primeira reportagem e, abaixo, algumas imagens feitas por Alfredo no interior da Colônia. Que elas sirvam de lembrete para que erros como esses não sejam cometidos novamente...

"Não se morre de loucura. Pelo menos em Barbacena. Na cidade do Holocausto brasileiro, mais de 60 mil pessoas perderam a vida no Hospital Colônia, sendo 1.853 corpos vendidos para 17 faculdades de medicina até o início dos anos 1980, um comércio que incluía ainda a negociação de peças anatômicas, como fígado e coração, além de esqueletos. As milhares de vítimas travestidas de pacientes psiquiátricos, já que mais de 70% dos internados não sofria de doença mental, sucumbiram de fome, frio, diarréia, pneumonia, maus-tratos, abandono, tortura".

















Para ver outras fotos clique aqui.
Comentários
7 Comentários

7 comentários:

nanda fox disse...

Você deveria vir aqui no Recife no Hospital da Tamarineira, não é muito diferente não, nos anos 80 aqui era assim também.

Felipe Stephan Lisboa disse...

Eu acredito Nanda. E ainda hoje, depois de tantos anos do início da luta antimanicomial, é possível encontrar locais assim. Há pouco tempo, durante minha graduação, fiz estágio num hospício como esse. Em pleno século XXI...

Lais Rocha disse...

São imagens fortes. É triste saber que ainda existem lugares onde o tratamento oferecido é bem parecido, praticamente não vejo humanidade para com essas pessoas. Infelizmente.

Carlos Ramos disse...

Infelizmente o link com os documentos foi proibido.. tem um aviso do fbi de pirataria.... sic

waldemir araujo disse...


O livro escrito pela jornalista mineira Daniela Arbex - Holocausto Brasileiro - honra o jornalismo brasileiro, hoje tomado por picaretas que vivem da fofoca "internética" e certamente envergonha os herdeiros dos médicos e políticos da época, sem cuja conivência os crimes mostrados na obra não teriam ocorrido.

Patricia Alves disse...

Acabei de ler o livro e concordo tototalmente com seu comentário.

Paola Oliveira disse...

Lendo o livro me veio à pergunta: “como pode uma sociedade ser capaz de atos tão miseráveis e covardes”? O abandono e o descaso são muito assustadores e é triste saber que o poder publico estava envolvido e que realmente existiu na historia brasileira. Oficiais de justiça que deviam “cuidar”, Zelar a proteção das pessoas, enviavam muitas pessoas para a colônia mesmo sem motivos, mesmo sem razões. E os médicos em vez de cuidar da saúde que é direito a todos, mandavam seus pacientes para “morte”. É desesperador saber que não foi tomada nenhuma medida antes da morte de milhares de pessoas. Ignorância da população, pois estava sendo marginalizada pelos poderes públicos por décadas sem vez, sem voz. O livro acaba cicatrizando uma ferida que não é sua, mas de todos. Difícil não se comover com a leitura do livro e com a leitura dos depoimentos, com cada historia. A primeira reação da leitura que eu tive foi pensar porque ninguém na época fez nada, exatamente uma pagina negra na historia do Brasil.
Outro ponto que destaco do livro é a maneira forçada de internação, só uma indicação e a pessoa já era internada, ou em outras palavras um encarceramento. O livro Holocautos mostrou uma das piores facetas humanas.