Foi lançado recentemente um livro que parece ser muito interessante: Para sempre Alice (ed. Nova Fronteira, 2009, R$34,90), da neurocientista Lisa Genova. O livro, segundo seu site oficial, conta a seguinte história: "Aos 50 anos, Alice começa a esquecer. No início, coisas sem importância, como o lugar em que deixou o celular, até que, um dia, ela se perde a caminho de casa. O diagnóstico inesperado de sua doença altera para sempre sua vida e sua maneira de se relacionar com a própria família e o mundo. E, quando não há mais certezas possíveis, só o amor sabe o que é verdade. De alguma forma e apesar de tudo, Alice é para sempre". Alice desenvolve o "Mal de Alzheimer", doença degenerativa, até o momento incurável e que foi descrita pela primeira vez no início do século XX pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, de quem herdou o nome.
Segundo interessante reportagem da revista Época desta semana, a neurocientista decidiu escrever o livro após conviver com um caso de Alzheimer na família: "Minha avó teve Alzheimer aos 85 anos, e eu vi a doença desarmá-la aos pouco", diz. "Como neta, fiquei desolada. Como neurocientista, no entanto, fiquei fascinada". Segundo a reportagem Lisa "notou que as pesquisas científicas de ponta se preocupavam mais com a descoberta de uma droga eficaz que compreender o sofrimento do paciente e sua luta inicial contra a perda de personalidade. Lisa escolheu o romance por ser o único gênero que permite entrar na mente do personagem e viver sua experiência".
De acordo com a mesma reportagem "curiosamente, o mal de Alzheimer tem sido pouco explorado pelos ficcionistas. Talvez porque lhes falte o conhecimento suficiente sobre o tema. Ou porque não haja mistério envolvido (...) Ao contrário do autismo, em que a doença esconde uma realidade interna potencialmente fantástica que o leitor pode desvendar, o Alzheimer parece apagar a complexidade – e isso dificulta o trabalho literário".
Realmente... na literatura não conheço (ou melhor não conhecia até "Para sempre Alice") um livro que tratasse do Mal de Alzheimer não enquanto categoria nosológica, mas enquanto experiência subjetiva. Na contramão, o cinema já retratou esta realidade de forma belíssima em Longe Dela (2007) e Íris (2001), mas também, secundariamente, em O filho da noiva (2001), A Familia Savage (2007) e Diário de uma Paixão (2004). Outros transtornos psi já mereceram maior destaque tanto na literatura quanto no cinema. Por exemplo, o autismo (e sua "versão mais branda", a Síndrome de Asperger) já gerou os seguintes livros: a ficção O estranho caso do cachorro morto (Mark Raddon, 2003), bem como as auto-biografias Nascido em um dia azul (Daniel Tammet, 2006) e Olhe nos meus olhos - Minha vida com Síndrome de Asperger (John Elder Rodison, 2007). No cinema, só para ficar em dois filmes, o autismo já rendeu o clássico Rain Man (1988) e o estranho Loucos de Amor (2005), sobre o amor entre dois portadores da Síndrome de Asperger.