Um dos livros mais interessantes que li nos últimos tempos (juntamente com O valor do amanhã, do economista Eduardo Giannetti) é
O paradoxo da escolha: porque mais é menos (Ed. Girafa, 2007), escrito por Barry Schwatz, psicólogo e professor de Teoria Social e Ação Social da Faculdade Swarthmore, na Filadélfia. O que o autor defende neste brilhante livro, pode ser resumido nos seguintes pontos, extraídos do prefácio (p. 20):
1- Sentir-nos-íamos mais felizes se aceitássemos determinadas restrições voluntárias à nossa liberdade de escolha, em vez de nos revoltarmos contra elas;
2- Sentir-nos-íamos mais felizes se buscássemos aquilo que fosse "suficientemente bom" em vez de buscar o melhor (você já ouviu algum pai dizendo "quero apenas o que for 'suficientemente bom' para os meus filhos"?);
3- Sentir-nos-íamos mais felizes se baixássemos as expectativas quanto ao resultado das nossas decisões;
4- Sentir-nos-íamos mais felizes se as decisões que tomássemos fossem irreversíveis;
5- Sentir-nos-íamos mais felizes se nos importássemos menos com o que as pessoas ao nosso redor fazem.
Segundo Schwartz "essas conclusões desafiam o bom senso convencional, que diz que quanto mais opções as pessoas têm mais felizes se sentem, que a melhor maneira de obter bons resultados é tendo padrões muito elevados e que é sempre melhor poder voltar atrás de uma decisão. Espero demonstrar que o bom senso convencional está errado, ao menos no que se refere àquilo que nos satisfaz em nossas decisões" (p. 21).
O psicanalista Contardo Caligaris (autor do brilhante "Cartas a um jovem terapeuta") diz o
seguinte sobre o livro:
Schwartz opõe dois tipos subjetivos: os "maximizadores" e "os que se contentam com algo suficientemente bom". Os maximizadores querem absolutamente fazer a escolha certa; os outros sabem se satisfazer sem ter que alcançar a certeza de que fizeram o melhor negócio. Ora, constata Schwartz com razão, o maximizador não é nunca feliz: ele é corroído pelo remorso e pela dúvida (será que examinou efetivamente todas as possibilidades). Schwartz chega a imaginar que a epidemia de depressão das últimas décadas tenha uma relação com a multiplicação das escolhas possíveis e, portanto, com a insatisfação crônica de nosso lado maximizador. Obviamente, os que sabem se satisfazer vivem melhor. Conclusão de Schwartz: o excesso de liberdade nem sempre é bom.
Tudo bem. Mas vamos aplicar a visão de Schwartz ao campo amoroso. É claro que, se a tradição nos obrigasse a nos casar com a moça escolhida pelos anciões de nossa aldeia, a vida amorosa seria mais fácil. A liberdade para se juntar com quem quisermos é, de fato, uma complicação: para ter a certeza de que Fulano é meu homem fatal, com quantos Sicranos deverei compará-lo? Por outro lado, se adotarmos a sabedoria dos que sabem se contentar com o que lhes agrada, nossos parceiros e parceiras não vão gostar. Em geral, preferimos ser amados por quem acha que somos a melhor escolha possível, em absoluto. Ou seja, na vida amorosa, os maximizadores sofreriam como sempre, enquanto os que "se contentam" seriam detestados por parceiros e parceiras. Como fica? Pois é, talvez a vida amorosa seja um bom exemplo para descobrir os limites das idéias de Schwartz, porque, nela, a liberdade certamente não consiste em poder escolher o amado numa lista de pretendentes. Amar tem mais a ver com "encontrar" do que com "escolher". O livro de Schwartz é ótimo e divertido sem contar que pode ajudar todas as pessoas que se inibem diante da multiplicidade dos possíveis. Mas Schwartz parte de um pressuposto, que está implícito desde seu primeiro exemplo (o dos jeans): ele considera a pluralidade das escolhas possíveis como o índice da liberdade. Quando constata que essa liberdade é fonte de tormentos, ele conclui que talvez seja melhor sermos menos livres e mais felizes. Ora, a visão que Schwartz tem da liberdade é parasitada pelo próprio modelo do consumo, cujos impasses ele castiga.
Ser livre não significa poder escolher entre os objetos disponíveis nas prateleiras do supermercado; ser livre significa saber criar o que queremos e encontrá-lo, mesmo e sobretudo quando não está em lista alguma de liquidações e promoções. Certo, o mal-estar do maximizador é uma patologia da liberdade de escolha. Mas a liberdade de escolher entre as ofertas que estão nos cardápios é, por sua vez, uma deformação da verdadeira liberdade - a de inventar.
Abaixo uma palestra de Schwartz (legendada em inglês) :