Baseado em fatos reais, "Pacarrete" - filme brasileiro dirigido por Allan Deberton - conta a história de uma mulher sexagenária, moradora da cidade de Russas, no Ceará, que sonha em apresentar para a população local um número de balé do espetáculo O lago dos cisnes. Professora e bailarina quando jovem, Pacarrete, como é chamada, mora com a irmã, também idosa, e cuida dela com muito zelo. Mas todo o tempo que pode, se dedica a sonhar com sua apresentação de balé e a se preparar para ela. A grande questão do filme, e da história real que o inspirou, é que Pacarrete é louca - ou assim é vista pela população de Russas. Sabe aquele "doidinho" que todo mundo conhece, que faz e fala um monte de coisas (aparentemente) sem sentido, e que já faz parte da vida da cidade? Pois Pacarrete é justamente a "doidinha da cidade", aquela pessoa que todo mundo conhece e que, em geral, é motivo de piada por sua forma exótica (e por vezes inconveniente) de falar e se comportar. Algumas pessoas podem enxergar a maneira como Pacarrete é tratada por parte da população como uma forma de exclusão - e eu não me oporia totalmente a esta visão. No entanto vejo que Pacarrete está, de alguma forma, incluída em sua cidade. Muito comumente pessoas como ela são (e foram) excluídas da vida social e trancadas, e dopadas, e maltratadas, em hospitais psiquiátricos. Não Pacarrete. Embora ela seja motivo de piadas e tenha sua apresentação de balé constantemente negada pela prefeitura, ela faz parte da vida social de Russas. Como ela própria afirma em certo momento para a funcionária da prefeitura: "Eu também faço parte dessa cidade!". E de fato Pacarrete pertence à cidade, assim como todos os chamados "loucos" também deveriam pertencer. Ninguém deveria ser excluído e afastado da vida social por não se encaixar nos tais "padrões de normalidade". Esta é, para mim, uma das muitas lições deste sensível e magnífico filme.