sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Por que agimos como agimos? Breves reflexões a partir da minissérie "A mente do assassino"

A questão de porque agimos como agimos é uma das mais complexas - senão a mais complexa - da psicologia. A minissérie A mente do assassino: Aaron Hernandez, recém-lançada pela Netflix, é um interessante estudo de caso sobre essa questão. Sua proposta é tentar entender os motivos que teriam levado o megaastro do futebol americano Aaron Hernandez a se tornar um assassino de, supostamente, três pessoas. Por que um sujeito com a vida ganha, com dinheiro e fama, arriscaria perder tudo o que conquistou matando outras pessoas? E as respostas dadas pela série são bastante complexas - e, como já era de se esperar, inconclusivas. O que leva um indivíduo a agir de determinada forma em determinado momento está sempre relacionado a uma miríade de fatores. No caso de Aaron a série traz relatos que apontam para uma homossexualidade reprimida, para problemas familiares - incluindo a possibilidade de abuso sexual, para uma doença cerebral (ETC) ocasionada por repetidas batidas na cabeça relacionadas à sua prática como jogador de futebol americano, para o uso abusivo de maconha, dentre outras coisas. Mas a grande questão, não tocada pela série, é que nada disso é ou seria suficiente para explicar o comportamento assassino de Aaron. Muitas pessoas reprimem a propria sexualidade, fumam maconha, desenvolvem doenças cerebrais e/ou tem problemas familiares, mas pouquíssimas delas matam outras pessoas. Porque algumas o fazem é um mistério que dificilmente terá alguma resposta satisfatória ou conclusiva. Qualquer explicação será apenas uma hipótese dentre tantas outras. É possivel dizer que um sujeito assassina outro porque tem uma genética favorável à isso, ou porque tem uma configuração cerebral "assassina" ou porque foi abusado na infância, ou porque sofreu bullying na adolescência, ou porque estava quente demais naquele dia, ou porque ele comeu açúcar demais naquela semana, ou porque séries do Netflix glamourizam histórias de assassinato, etc, mas nenhuma explicação ou pseudoexplicaçâo - e nem mesmo um conjunto de explicações- jamais será suficiente para explicar (e muito menos justificar) determinado comportamento. Este me parece ser um dos limites do conhecimento humano.