sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Reavaliando a frenologia à luz do século XXI

Franz Joseph Gall apalpando o crânio de uma pessoa
Concebida pelo médico, anatomista e fisiologista alemão Franz Joseph Gall (1758-1828), a frenologia foi uma teoria muito popular entre cientistas e leigos na primeira metade do século XIX. Sua principal intenção (da teoria e de Gall) era estabelecer ligações entre as funções ou faculdades mentais, as áreas cerebrais e a superfície do crânio. Tendo como ponto de partida sua enorme coleção de crânios, iniciada em 1792, Gall desenvolveu, ainda nesta década, uma técnica de medição sistemática das protuberâncias e reentrâncias do crânio - chamada por ele de cranioscopia - que serviu de base para o desenvolvimento da teoria frenológica. Batizada inicialmente por Gall de organologia e renomeada posteriormente de frenologia por seu assistente e mais famoso discípulo Johann Gaspar Spurzheim (1776 -1832), esta  teoria possuía cinco princípios fundamentais: 1) o cérebro é o órgão da mente; 2) a mente é composta por um grande número de funções ou "faculdades" inatas, sendo algumas intelectuais e outras afetivas; 3) cada faculdade possui sua própria região específica, ou "órgão", no córtex cerebral; 4) certas pessoas são mais dotadas do que outras de certas faculdades e, com isso, apresentam mais tecido cerebral nos locais correspondentes do que as menos dotadas; 5) como o formato do crânio reproduz a superfície do córtex, podemos inferir a intensidade de diversas faculdades do indivíduo analisando a parte externa do crânio. 

Mapa frenológico com 35 faculdades mentais
Ao longo de sua vida e obra, Gall identificou 27 faculdades mentais que teriam localizações precisas no córtex cerebral e, consequentemente, no crânio (veja abaixo) - posteriormente, esta lista foi aumentada por Spurzheim para 35, número comumente encontrado nos chamados mapas frenológicos (em outros é possível encontrar até 50). Tais faculdades, cabe reforçar, estariam espalhadas pelo córtex cerebral - isto é, pela "superfície" do cérebro - e transpareceriam também no crânio da pessoa. Um frenologista experiente, apalpando a cabeça do indivíduo, poderia identificar certas saliências e reentrâncias de seu crânio que revelariam sua dominância em certas faculdades mentais e sua deficiência em outras. Por mais estranho que isso possa parecer atualmente, esta curiosa técnica de investigação da personalidade se tornou extremamente popular no início dos anos 1800. Em pouco tempo se espalharam pela Europa e pelos Estados Unidos "consultórios frenológicos", que ofereciam "leituras" de crânio da mesma forma que ainda hoje quiromancistas oferecem "leituras" de mão. Como aponta Hugh Aldersey-Williams no livro Anatomias - Uma história cultural do corpo humano, no início do século XIX "sociedades frenológicas surgiram por toda parte. Virou moda fazer com que apalpassem nossas protuberâncias. Todas as farmácias vendiam bustos frenológicos. Começaram a se multiplicar periódicos científicos dedicados à frenologia, que tinham suas páginas cheias de análises detalhadas dos famosos e dos mal-afamados, com base em medições do crânio ou de moldes da cabeça". A parte mais complicada disso tudo era a crença de que o exame frenológico poderia ser usado não só para avaliar a personalidade e a inteligência da pessoa - e não coincidentemente, negros e mulheres eram considerados menos capazes do que homens brancos - mas também para definir sua profissão, a seleção em determinado trabalho e até mesmo a pessoa com quem deve ou não se casar - um uso semelhante ao que ainda ocorre, infelizmente, com a astrologia.

Em relativamente pouco tempo após ser concebida, esta teoria - apesar ou em função de sua popularidade e a despeito de toda a "parafernália" de ciência legítima (publicações, sociedades, conferências) - foi alvo de duras críticas por parte de muitos cientistas (e também de religiosos, em função de sua perspectiva essencialmente materialista) e acabou, ainda no século XIX, relegada ao lixo da história, passando a ser considerada uma pseudociência - e Gall, um charlatão. Muito embora as noções frenológicas de que o cérebro é a sede das faculdades mentais (materialismo) e de que as funções mentais estão, de alguma forma, relacionadas a áreas específicas do cérebro (localizacionismo) tenham prevalecido e ainda vigorem na neurociência contemporânea, a frenologia, sem dúvida alguma, foi abandonada - em especial a noção de que seria possível identificar as funções mentais dominantes do indivíduo pela análise das irregularidades de seu crânio. De toda forma, até bem recentemente a frenologia não tinha sido avaliada à luz das modernas técnicas de neuroimagem. Pois isso ocorreu somente no início do ano de 2018 com a publicação do importante artigo An empirical, 21st century evaluation of phrenology na prestigiosa revista Córtex. Neste artigo, os autores relatam os resultados de uma avaliação das principais hipóteses frenológicas realizada a partir dos dados disponibilizados pelo maior estudo de imagens corporais da atualidade, o UK Biobank Imaging Study, que pretende coletar informações detalhadas dos órgãos vitais de 100 mil pessoas - especificamente para esta análise eles levaram em conta dados e imagens cerebrais de 5724 sujeitos. Em síntese, o objetivo dos pesquisadores foi investigar, através de métodos científicos disponíveis no século XXI, as principais alegações feitas pelos frenologistas no século XIX. Como afirmam na introdução do artigo, "acreditamos que é importante que os cientistas testem idéias, mesmo que elas estejam fora de moda ou sejam ofensivas, e não se contentem em descartá-las de imediato". A primeira alegação investigada por eles é de que a "morfologia" (isto é, a forma) do crânio reflete a morfologia do cérebro da pessoa. Já a segunda alegação é de que as a superfície do crânio refletiria as faculdades mentais descritas por Gall. Cada uma destas alegações foi investigada de uma maneira.

Sem entrar nos complexos detalhes metodológicos, é possível dizer que a primeira alegação foi avaliada através de uma comparação entre os contornos da cabeça, do crânio e do cérebro dos sujeitos (veja imagem ao lado). E como já esperavam, os pesquisadores não encontraram qualquer correlação entre o formato do cérebro e o formato do crânio e da cabeça. A primeira alegação da frenologia se mostrou, deste modo, falsa. Agora analisemos a segunda, cuja avaliação foi bem mais complexa. Os pesquisadores agiram, neste caso, da seguinte forma: para avaliar a ideia de que a morfologia do crânio de alguma forma refletiria cada uma das 27 faculdades identificadas por Gall, eles primeiro "transformaram" tais faculdades em características que poderiam ser objetivamente avaliadas - e eles só conseguiram fazer isso com 23 das 27 faculdades. Por exemplo, a faculdade da "amorosidade" (que diz respeito ao impulso para a procriação) foi avaliada pela quantidade de parceiros sexuais que a pessoa já teve; já a faculdade da "filoprogenitalidade" (que diz respeito ao amor e cuidado parental) foi avaliada pela quantidade de filhos que a pessoa tem; muitas outras faculdades foram avaliadas levando-se em conta a profissão da pessoa -  imaginou-se, por exemplo, que cientistas teriam mais desenvolvida a faculdade da "destreza" ao passo que matemáticos teriam maior dominância na faculdade da "numerosidade". Certamente não é nada simples e exato transformar conceitos abstratos e pouco objetivos, como as faculdades identificadas por Gall há dois séculos, em características que pudessem ser avaliadas objetivamente; no entanto, não há uma maneira perfeita e infalível de se avaliar cientificamente tais faculdades. Escolhas precisam ser feitas e os pesquisadores, na minha visão, fizeram o melhor que puderam com os dados que tinham à disposição. Mas prossigamos: após avaliarem as pessoas de acordo com as faculdades identificadas por Gall eles analisaram se a proeminência em certas faculdades teria relação com certas protuberâncias em seus crânios, naquelas regiões específicas apontadas por Gall. Em resumo: o que eles fizeram foi verificar se, por exemplo, uma pessoa com dominância na faculdade de "numerosidade" teria alguma protuberância no crânio na área supostamente relacionada a esta faculdade. E eles não encontraram, novamente, qualquer correlação significativa. "Nenhuma região da cabeça se correlacionou com qualquer das faculdades que testamos", afirmaram. E isto significa, por sua vez, que a segunda alegação dos frenologistas também é falsa.  De uma forma suscinta os autores descreveram os resultados da pesquisa em uma única frase: "Não foram encontrados efeitos estatisticamente significativos para a análise frenológica". Enfim, este importante estudo coloca por terra algumas das principais alegações da teoria frenológica. Se ela não morreu totalmente no século XIX e conseguiu chegar, como um zumbi, no século XX (a Sociedade Frenológica Britânica, por exemplo, só foi encerrada no ano de 1967!) talvez, no século XXI, tenha chegado a hora de enterrar de uma vez por todas esta equivocada teoria. 

 
PÓS-ESCRITO: Em sua obra mais célebre, intitulada On the functions of the brain and of each of its parts [Sobre as funções do cérebro e de cada uma de suas partes, disponível na íntregra aqui], Gall identificou 27 faculdades mentais. São elas (e entre parênteses eu acrescento um sinônimo ou uma breve explicação, fornecidos por este artigo): 1) Amorosidade (impulso à procriação); 2) Filoprogenitalidade (amor parental); 3) Adesão (amizade, fidelidade); 4) Combatividade (disposição para auto-defesa); 5) Destrutividade (tendência ao assassinato e à alimentação carnívora); 6) Destreza (esperteza); 7) Aquisitividade (desejo de possuir coisas); 8) Auto-estima (orgulho, arrogância); 9) Necessidade de aprovação (ambição, vaidade); 10) Cautela (circunspecção); 11) Educabilidade (memória de coisas, fatos); 12) Localidade (senso de localização); 13) Memória de pessoas; 14) Memória de palavras; 15) Linguagem; 16) Coloração (sentido das cores); 17) Afinação (sensação dos sons, talento musical); 18) Numerosidade (habilidade para calcular e manipular números); 19) Construtividade (habilidade para construir); 20)  Comparação (habilidade para comparar); 21) Causalidade (sentido da metafísica); 22) Alegria (senso da graça); 23) Idealismo (talento poético); 24) Benevolência (senso moral, compaixão); 25) Mimetismo (talento para imitar); 26) Senso de Deus e religião; 27) Perseverança (firmeza de propósito, obstinação). Importante ressaltar que para Gall as primeiras 19 faculdades estariam presentes também, em alguma medida, nos animais; já as faculdades de 20 a 27 seriam exclusivas do ser humano.

PÓS-ESCRITO 2: Nesta fantástica cena do filme Django Livre, do diretor Quentin Tarantino, o fazendeiro escravagista Calvin Candle (Leonardo DiCaprio) explica e exemplifica os princípios da frenologia e demonstra como ela foi utilizada para justificar o racismo e a escravidão. Veja só!



Saiba mais no post Imagens da frenologia

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Divertida Mente: "filosofia do eu" para crianças

Compartilho abaixo a tradução que fiz do excelente artigo Inside Out: a crash course in PhD philosophy of self that kids will get first, escrito pelo jornalista e filósofo britânico Julian Bagginie e publicado no jornal The Guardian em 27 de Julho de 2015.  

Quando você vai assistir a um filme da Pixar, sabe que vai ver algo inteligente, engraçado e inventivo. O que você não espera, entretanto, é ver um tratamento extraordinariamente inteligente para uma das questões filosóficas mais complicadas e confusas de todas: o "eu" [no original: self].

Eu escrevi uma tese de doutorado sobre isso e posteriormente um livro [The ego trick: what does it mean to be you], e sempre que eu falo sobre essa questão, eu aponto que a teoria mais confiável e amplamente aceita (entre filósofos, pelo menos) é contraintuitiva e difícil de entender. E aí surge um desenho animado que torna os pontos-chave desta teoria inteligíveis para as crianças. Divertida Mente [no original Inside Out] virou meu mundo de cabeça para baixo.

O filme nos leva para dentro da mente de uma garota de 11 anos, Riley, onde cinco homúnculos - Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo - estão literalmente pressionando todos os seus botões. A maioria dos analistas se concentrou em como esse dispositivo engenhoso ensina lições difíceis sobre maturidade emocional, especialmente sobre como você não pode ser feliz o tempo todo e sobre como a tristeza também tem seu papel a desempenhar.

Isso é verdade. Mas, embora de forma esquemática e simplificada, o filme também reflete sobre algumas das mais importantes verdades sobre o que significa ser uma pessoa individual.

A primeira delas é que não existe um "você" único e unificado. Seu cérebro não é um pequeno mundo cheio de criaturas antropomórficas, é claro. Mas é composto de vários impulsos diferentes, muitas vezes concorrentes. "Você" é simplesmente como tudo se junta, a soma de suas partes psíquicas.

Esta, no entanto, é apenas a primeira rachadura no mito do "eu" duradouro e unificado. O que o filme também mostra é que cada uma dessas partes é impermanente. A personalidade de Riley é representada por uma série de ilhas que refletem o que mais importa para ela: amizade, honestidade, família, bobeira e hockey. Mas, à medida que a vida se torna mais complexa, cada uma delas, por sua vez, ameaça desmoronar. E é assim que funciona no mundo real: à medida que crescemos e mudamos, e a vida cobra seu preço, algumas das coisas que mais importam para nós irão perdurar, outras irão desaparecer e novas irão surgir em seus lugares.

O terceiro elemento-chave na compreensão do "eu" é que o que mantém tudo isso junto é memória. A princípio, parece que o filme vai simplificar demais isso, apresentando memórias como pequenos filmes, experiências que são capturadas, armazenadas e reproduzidas. Mas à medida que avança, fica mais complicado. Torna-se claro que não apenas muitas memórias se perdem - mesmo aquelas que antes eram preciosas - mas também que outras mudam suas caraterísticas, como nós pŕoprios. Para que as memórias façam seu trabalho, elas precisam ser nutridas e compreendidas. 

Tudo isto se soma à criação de uma imagem do "eu" como algo coerente a uma única narrativa, mas que não tem nada de permanente e imutável em seu núcleo. Estamos sempre em fluxo, sempre no processo de crescer a partir do que fomos para o que vamos ser.

Acho que a razão pela qual isso pôde ser transmitido em um filme infantil é que, em muitos aspectos, as crianças são mais receptivas a essa mensagem do que os adultos. As crianças mudam tão rapidamente que podem entender a idéia de impermanência mais facilmente do que os adultos, cuja autoconcepção muitas vezes ossifica. As crianças não têm problemas para imaginar que elas podem crescer para serem bem diferentes, ao passo que os adultos assumem que estão presos às pessoas que acabaram sendo.

Os melhores filmes infantis costumam ter um duplo propósito. Eles ajudam as crianças a desenvolver, mas também lembram os adultos do que perderam fazendo isso. Divertida Mente atinge de forma brilhante ambos os objetivos.

OBS: assista à palestra TED "Existe um verdadeiro você?", do autor deste artigo, clicando aqui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Top 12 - Filmes e séries sobre transplantes ou transferências de cabeça, cérebro, mente ou alma



Um tema extensamente explorado pela ficção científica contemporânea é a transferência da mente ou do cérebro de um corpo para outro ou de um corpo para uma máquina. Especificamente sobre a questão da transferência da mente para uma máquina (também chamada de upload mental), já tratei extensamente em um post recente, denominado Em busca da imortalidade da mente. No presente post eu gostaria de trazer uma lista de filmes e séries, do pior ao melhor (na minha humilde opinião), que tratam das possibilidades de transferência ou transplante de cabeça, cérebro, mente/consciência ou alma. Optei por ignorar nesta lista todo o enorme e lucrativo filão dos filmes de troca de corpo (ou troca de mente) como Se eu fosse você, Sexta-feira muito louca, Coisas de meninos e meninas, De repente 30, Garota veneno, Eu queria ter a sua vida, dentre muitos outros. E o motivo é que nestes casos a "troca" é apenas temporária, não constituindo propriamente um transplante ou uma transferência de mente ou consciência - além disso, a maioria destes filmes é de qualidade muito duvidosa. Da mesma forma ignorei produções nas quais há uma transferência momentânea da mente para determinados fins, como é  caso dos filmes Avatar, Substitutos e Contra o tempo, nos quais os personagens controlam "avatares" reais ou virtuais à distância - mas podem regressar ao próprio corpo quando desejarem. Nestes casos tratam-se "apenas" de tecnologias de interface cérebro-máquina e não, propriamente de transferências ou transplantes. Tendo tudo isso em vista, segue a minha lista.

12- Transcendence: A revolução (2014) - Tema: Transferência de mente

Comentário: Neste filme terrível, dirigido por Wally Pfister, em sua estreia na direção, acompanhamos o cientista Will Caster (Johnny Depp) transferir a própria mente para um computador quântico e, com isso, se tornar incrível e exageradamente poderoso. A ideia era boa, o resultado foi catastrófico. Na minha singela opinião, o pior filme já feito sobre o tema.

11 - Vigilante do amanhã: Ghost in the Shell (2017) - Tema: transplante de cérebro



Comentário: Nesta insossa refilmagem da clássica animação japonesa Ghost in Shell, lançada em 1995, temos como protagonista a agente Major (Scarlett Johansson), que é uma cyborg, mistura de cérebro real com corpo artificial - aliás, no mundo retratado tanto pela animação original quanto por este filme, quase todas as pessoas são parcialmente (ou totalmente) máquinas. O título original de ambas produções, Ghost in shell ou "fantasma na concha", remete à ideia de "fantasma na máquina" introduzida pelo filósofo Gilbert Ryle (veja mais aqui) para criticar a visão dualista de Descartes segundo o qual nossa alma (fantasma) habita um corpo (concha/máquina).

10 - Sem retorno (2015) - Tema: transferência de mente



Comentário: Neste interessante mas não memorável filme do diretor Tarsem Singh, cujo título original é Self/less (que poderíamos traduzir por Eu/menos ou Sem um eu), acompanhamos Damian (Ben Kingsley), um rico empresário que está com câncer terminal e, por isso, decide se submeter a um procedimento de transferência de sua mente/consciência para um corpo artificial jovem e saudável (Ryan Reynolds). A grande questão é que após tal transferência ser realizada ele descobre que o corpo para o qual sua mente foi realocada era de uma pessoa real, e com isso ele se vê envolvido em uma complexa trama. Um bom filme, mas que poderia ser muito melhor.

9- O cérebro que não queria morrer (1962) - Tema: transplante de cabeça


Comentário: Lançado em 1962, este bizarro e já clássico filme trash conta a história do experiente e obsessivo cirurgião Bill Cortner em sua saga para transplantar a cabeça viva de sua noiva. Já analisei anteriormente este filme, assim como a proposta real de transplante de cabeça feita em 2017 pelo neurocirurgião italiano Sérgio Canavero - veja aqui. OBS: uma refilmagem deste filme já foi gravada e está em fase de pós-produção - a previsão de lançamento é para 2018. Veja fotos dos bastidores e informações detalhadas sobre a produção e o elenco  neste link.

8- Soldado do futuro (2013) - Tema: transferência de mente  
 
Comentário: Nesta fascinante produção britânica, que também fez parte de nosso Top 10 - Filmes e séries sobre Inteligência Artificial, acompanhamos o cientista Vincent McCarthy no processo de transferência da mente de Ava (Caity Lotz) para um corpo artificial, de forma a transformá-la em uma poderosa máquina de guerra - não por acaso, o título original do filme é The machine.  

7-  Advantageous (2015) - Tema: transferência de mente



Comentário: Nesta interessante produção de ficção científica feminista - escrita, dirigida e protagonizada por mulheres - acompanhamos Gwen (Jacqueline Kim), uma mulher de cerca de 40 anos, mãe solteira de uma garota e funcionária de um laboratório farmacêutico, que é demitida e, por estar "velha demais" para regressar ao mercado de trabalho (e com medo de não ter como sustentar sua filha) acaba por se submeter a um procedimento experimental de transferência de sua mente para um corpo mais jovem. Veja duas ótimas análises deste filme aqui e aqui.  
 
6- O homem com dois cérebros (1983) - Tema: transplante de cérebro


Comentário: Neste bizarro e hilário filme dirigido pelo cineasta Carl Reiner, acompanhamos o neurocirurgião Michael Hfuhruhurr (intepretado pelo genial Steve Martin) em sua busca por um corpo para "alojar" o cérebro sem corpo de uma mulher por quem ele se apaixonou perdidamente e com o qual se comunica telepaticamente. Já analisei este filme em um outro post - veja aqui.

5 - Black Mirror (2017/2018) - Tema: transferência de mente


Comentário: A fantástica série de ficção científica Black Mirror, que já analisei em outras ocasiões (ver aqui e aqui, por exemplo), tratou do tema da transferência da mente em pelo menos três episódios: White Christimas, San Junipero e Black Museum. No primeiro deles a transferência (na verdade, uma cópia da mente) é feita para um dispositivo eletrônico que pretende controlar toda a tecnologia da casa da pessoa; no segundo caso, a mente da pessoa é transferida, após sua morte, para um dispositivo que cria uma realidade virtual; finalmente, no terceiro, a consciência da pessoa é transferida para um boneco de pelúcia. Assustador!

4- Altered Carbon (2018) - Tema: transferência de mente


Comentário: Esta belíssima série, lançada pelo Netflix, retrata uma sociedade na qual o upload mental é absolutamente comum. Neste mundo, as pessoas, ou melhor, suas mentes, não morrem jamais: quando o corpo perece, um disco rígido com o conteúdo de sua mente é simplesmente realocado em um novo corpo ou "capa" (que pode ser de um outro gênero, idade ou etnia) e a vida continua indefinidamente - como afirma o protagonista, você troca de capa como uma cobra muda de pele. Já escrevi sobre esta série em outro post - veja aqui.

3 - Corra! (2017) - Tema: transplante de cérebro

Comentário: Neste assustador filme, que concorreu ao Oscar de Melhor filme e venceu o de Melhor Roteiro Original em 2018, acompanhamos o jovem fotógrafo negro Chris (Daniel Kaluuya) durante uma visita aos pais, brancos, de sua namorada. Muito embora a temática do racismo e das relações raciais sejam centrais, o filme retrata ainda a possibilidade de transplante de cérebro (e eu não vou revelar de que forma para não estragar o final do filme).

2- Transfers (2017) - Tema: transferência de mente

Comentário: Esta excelente série francesa, lançada em 2017 e recentemente incluída no catálogo da Netflix, retrata uma sociedade na qual a transferência de mentes para outros corpos é comum, ainda que ilegal. A história central da série gira em torno de um marceneiro que se afoga e tem sua mente ilegalmente transferida para o corpo de um policial que trabalha justamente no combate à transferência ilegal de mentes. A série explora muitíssimo bem os impactos individuais, sociais e religiosos da possibilidade de transferência de mente - tal qual a série Humans faz com a temática da inteligência artificial - e traz uma série de questionamentos muito pertinentes sobre a relação da mente/alma com o corpo e o cérebro. Excelente!

1- Almas à venda (2009) - Tema: transplante de alma


Comentário: Neste bizarro e pouco conhecido filme da diretora Sophie Barthes acompanhamos o talentoso ator Paul Giamatti, que aqui interpreta a si próprio - ou melhor, uma versão de si próprio, já que ninguém pode, digamos, se auto-interpretar. Pois bem, na louca trama deste filme, originalmente denominado Cold souls (Almas frias), Giamatti se encontra em meio a uma crise existencial e criativa, não conseguindo se separar do personagem que está ensaiando para interpretar no teatro (Tio Vânia, personagem concebido pelo escritor e dramaturgo russo Anton Tchekov). E para sanar este problema ele decide procurar uma empresa especializada na extração e depósito de almas (que quando são extraídas tomam a forma de uma pequena ervilha que representa a glandula pineal, uma pequena glândula localizada no meio do cérebro que para o filósofo René Descartes era a sede da alma no corpo). E assim ele o faz e, sem o peso de sua alma, ele se sente muito mais leve e menos angustiado. Por outro lado ele não consegue mais interpretar o personagem - afinal, como interpretar sem alma? Aí ele decide, então, experimentar a alma de um poeta russo, mas logo percebe que esta alma é nobre e complexa demais e acaba por rejeitá-la. Por fim ele decide re-implantar sua própria alma. O problema é que ela foi roubada e enviada para a Rússia - e transplantada em uma bela atriz russa - através de um complexo esquema de tráfico de almas (que envolve, dentre outras coisas, "mulas" de almas, que são mulheres "desalmadas" que levam, dentro do próprio cérebro, almas roubadas dos Estados Unidos para a Rússia). Só por esta breve descrição dá para perceber a loucura e a genialidade deste filme, que tem início com uma citação atribuída ao livro Paixões da alma, de Descartes: "A Alma localiza-se em uma pequena glândula no centro do nosso cérebro" (a citação correta e completa, na verdade é: "a parte do corpo em que a alma exerce imediatamente suas funções não é de modo algum o coração, nem o cérebro todo, mas somente a mais interior de suas partes, que é uma glândula muito pequena situada no meio de sua substância"). Um filme imperdível para quem se interessa pelas discussões sobre a relação entre mente/alma e cérebro/corpo e também por filmes estranhos e originais como Quero ser John Malkovich e Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Veja uma ótima análise do filme Almas à venda aqui.

Pós-escrito: além dos filmes e séries acima, indico ainda um curta-metragem fantástico que trata do tema do upload mental: The final moments of Karl Brant. Assista o filme abaixo.