E lá vamos nós para mais uma lista. Desta vez selecionei 6 livros críticos à chamada "psiquiatria oficial" (veja imagem ao lado). Em todas estas obras encontramos importantes e bem embasadas críticas tanto à abordagem diagnóstica descritiva da psiquiatria contemporânea - materializada nos cada vez mais volumosos e abrangentes manuais oficiais de transtornos mentais - quanto à sua abordagem biologicista - que compreende os transtornos mentais como transtornos cerebrais causados por supostos desequilíbrios químicos e que tem na psicofarmacologia a base fundamental do seu tratamento. Importante apontar que estas duas abordagens até o momento não se integraram, como muitos adeptos da psiquiatria biológica gostariam. Tanto é que após o lançamento do DSM-5, em 2013, surgiram uma série de críticas de que continuava faltando a este manual um maior embasamento na biologia, em especial nas neurociências. E o motivo para esta "falta imperdoável" é que apesar de todo o investimento em pesquisas cerebrais desde a década de 1990, até o momento não encontraram sequer um marcador biológico confiável para qualquer transtorno mental - o que significa dizer que não identificaram qualquer característica ou alteração no funcionamento e na estrutura cerebrais comuns a todos os portadores de determinado transtorno. A consequência disso é que o grande sonho dos psiquiatras biológicos de ter exames objetivos que os auxiliem no processo de diagnóstico - como ocorre em outras áreas da medicina - não apenas não se concretizou como está muito longe de se concretizar. Parece que quanto mais tentam eliminar a psiquê da PSIquiatria mais essa subjetividade "incômoda" insiste em se fazer presente. Da mesma forma, o sonho de uma pílula mágica também não se concretizou. Por mais que os psicofármacos representem um inegável avanço aos tratamentos utilizados anteriormente na psiquiatria, ainda assim essas medicações estão longe de serem panacéias inofensivas como muitos ainda acreditam. A cada dia surgem mais e mais pesquisas apontando para inúmeros prejuízos de curto e longo prazo relacionados ao uso de certas medicações - sobre isso recomendo a leitura fundamental do livro Anatomia de uma epidemia. Uma questão importante sobre os livros selecionados para esta lista é que eles foram escritos não apenas por críticos "de fora" da psiquiatria, mas também por críticos "de dentro" - este é o caso, por exemplo, do Voltando ao normal, escrito pelo psiquiatra Allen Frances, que foi "simplesmente" o coordenador da força-tarefa do DSM-IV; mas também é o caso do Medicalização em psiquiatria, co-escrito pelo psiquiatra Paulo Amarante e do Psiquiatria no divã, escrito pelo psiquiatra Adriano Aguiar. E estas críticas internas apontam para o fato de a abordagem "oficial" da psiquiatria não ser a única, mas apenas uma dentre tantas. Enfim, caso tenha interesse por esta problemática recomendo fortemente todos esses livros.
quinta-feira, 15 de abril de 2021
1 Comentários
Um comentário:
- Digimario disse...
-
Caraca! Eu visitava esse blog no meu ensino médio. É gratificante ver que ele ainda está ativo. Hoje sou farmacêutico e as discussões sobre psicofarmacos ainda é a mesma. Sempre que um cliente me dá abertura em indico procurar ajuda psicologíca, para melhor a ação psiquiatrica, e vice-versa, mas infelizmente nem sempre isso é uma opção. Continue com seu excelente conteúdo, tentarei le-lo com mais frequência
- 8 de junho de 2021 às 19:20
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