Estou finalizando a leitura do recém-lançado livro Gênero e os nossos cérebros, da neurocientista Gina Rippon e, ao invés de fazer uma resenha deste livro específico (que achei sensacional!) pensei em indicar algumas obras que tratem da questão do neurossexismo - veja imagem ao lado. Este termo, criado pela psicóloga Cordelia Fine e utilizado inicialmente em sua clássica obra Delusions of Gender (lançada em 2010 e traduzida para o português como Homens não são de Marte, mulheres não são de Vênus) diz respeito às interpretações dos achados neurocientíficos que explicam ou justificam os estereótipos de gênero, socialmente construídos. Todos os livros aqui indicados trazem importantes e bem fundamentadas criticas às teorias e interpretações supostamente científicas que explicam as diferenças de gênero recorrendo apenas ou fortemente à Biologia. Segundo tais teorias, homens e mulheres seriam essencialmente diferentes por terem genes e cérebros completamente distintos, e mesmo opostos, desde a concepção - o que explicaria os diferentes comportamentos e aptidões entre os gêneros. As autoras dos livros indicados se opõem com veemência à esta interpretação, mostrando, com muitos dados científicos, que se homens e mulheres são diferentes isto não se deve a diferenças essenciais/biológicas, mas às diferentes experiências generificadas a que homens e mulheres estão expostos desde o nascimento - e até mesmo antes, basta prestar atenção nos tais "chás de revelação". O conceito de neuroplasticidade é fundamental nesta nova interpretação dos dados científicos por apontar justamente para o fato de os cérebros (e, mais amplamente, as pessoas) serem formados no e pelo mundo - e se o mundo divide desde brinquedos até profissões em função do gênero, a tendência é que as pessoas acabem seguindo e perpetuando tais divisões. Como bem afirma Gina Rippon "precisamos examinar com muita atenção o que acontece tanto fora quanto dentro da cabeça. Não podemos mais engessar o debate sobre as diferenças sexuais entre natureza versus criação - precisamos reconhecer que a relação entre um cérebro e seu mundo não é uma via de mão única mas um fluxo de tráfego constante em mão dupla".
OBS: eu também trato desta questão do neurossexismo nos meus dois livros. No primeiro, "O cérebro vai à escola" eu aponto, no terceiro capítulo, para a forma essencialista como os livros sobre neurociência voltados para educadores tratam do tema das diferenças de gênero. Já no Você não é seu cérebro!, há um capítulo intitulado "Desconstruindo Marte e Vênus: reflexões sobre neurossexismos e neurofeminismos", no qual eu tento resumir toda esta discussão.