Em meu projeto de ler mais ficção, descobri no final do ano passado o livro "O peso do pássaro morto", da escritora brasileira Aline Bei, e o li integralmente de uma só vez, em apenas uma tarde. Com relação à forma, achei o livro bastante peculiar pois ele é uma espécie de romance em formato de poesia ou um romance-poético - ou eu poderia chamar simplesmente de poesia? Não sei - prefiro deixar estas definições para os especialistas em literatura. Já com relação ao conteúdo é possível dizer, sem revelar nada de significativo, que ele trata da vida de uma mulher desde sua infância até a idade adulta. Narrado pela própria protagonista, o livro trata de temas difíceis e dolorosos como a morte, o estupro, a rejeição, o desamor, a solidão e o esquecimento. Se você busca um livro alto-astral com um olhar positivo ou otimista sobre o mundo e a vida, fuja desse. Mas se você estiver disposto ou disposta a um olhar duro e melancólico sobre a vida (e sobre a morte) este livro é, certamente, uma boa pedida. Pessoalmente, gostei muito do livro, embora tenha ficado muito triste ao terminá-lo. Não é definitivamente um livro fácil - não devido ao estilo da autora, mas sim devido aos temas que trata. De toda forma, recomendo muito sua leitura.
Trecho do livro:
“Na escola
em casana cozinha
perguntei pra minha mãe:
– o que é morrer?
ela estava fritando bife pro almoço.
– o bife
é morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que farão com a sua carne.
quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos, mas tentamos.
almoçamos a morte e foi calado.
enquanto minha mãe lavava louça fui até a casa do seu luís às escondidas, mas não exatamente
acho que minha mãe ouviu
a porta batendo e que era eu
saindo com os meus 8 anos atravessando a rua olhando
pros 2 lados que meu pai me ensinou Cuidado
e batendo na casa do seu luís
pra perguntar. minha mãe deixou eu ir, deve ser
porque morreu uma menina de oito anos e isso
transformou ter a minha idade em ser adulta”