Um primeiro apontamento do autor é que o tédio seria, em sua visão, um fenômeno moderno. Para Svendsen "o tédio só passou a ser um fenômeno cultural central há cerca de dois séculos. É impossível, claro, determinar quando ele surgiu. Ademais, naturalmente teve precursores. Mas ele se destaca como um fenômeno típico da modernidade". Não é muito difícil entender o porquê. O tédio, tal como ele se manifesta em cada um de nós, tem relação com o excesso de opções e estímulos típico da vida moderna. Em contextos mais simples, menos agitados e estimulantes - tente imaginar, por exemplo, a vida de um agricultor na zona rural de uma pequena cidade do interior - é provável que as pessoas experimentem o sentimento de tédio com menor frequência e intensidade do que aquelas que vivem em contextos mais atribulados e frenéticos, como aqueles típicos das grandes cidades modernas. E o motivo é que a relação com o tempo, nos dois casos, é completamente diferente. No primeiro caso, não há a cobrança - e a autocobrança - de que todo o tempo seja utilizado de uma maneira significativa e útil. Um certo ócio contemplativo após o período de trabalho é visto como algo saudável e mesmo necessário. O passar do tempo, nesse caso, tende a ser experimentado de forma mais lenta - sem que isso seja visto como algo incômodo e entendiante. Já no segundo caso, isto é, no contexto de frenesi que muitos de nós vivemos, há a cobrança - e a autocobrança - de que todo o tempo seja utilizado de uma maneira útil. O ócio e a contemplação, de uma forma geral, são vistos como empecilhos para uma vida significativa. O problema é que é muito difícil utilizar todo o tempo que dispomos de um forma significativa e útil - e o tédio costuma aparecer justamente quando não conseguimos ver sentido, significado e utilidade naquilo que estamos fazendo em determinado momento. O tédio normalmente se manifesta quanto temos muitas opções de coisas para fazer mas não queremos fazer nada - ou melhor, não vemos sentido em nada. Como afirma Svendsen, o tédio deve ser entendido basicamente como uma ausência, "uma ausência de significado pessoal". Quando estamos entediados, nada faz sentido, nem as opções que temos diante de nós e nem a própria vida.
Mas a grande questão é saber se esta busca por novidades e atividades de fato funciona para se fugir do tédio - ou se, pelo contrário, não há fuga possível e estamos fadados a voltar ao tédio tal qual Sísifo acaba por sempre retornar à base da montanha. E a resposta mais plausível é que, de forma temporária, é sim possível escapar do tédio. Quando nos envolvemos em determinadas atividades - ou mais precisamente naquilo que Svendsen chama de "corrida desordenada às diversões e ao lazer" - conseguimos às vezes e por algum tempo escapar do vazio e da falta de sentido que caracterizam o tédio - como afirma o psicanalista Erich Fromm no livro Do amor à vida (1986), "podemos temporariamente varrer o nosso tédio para debaixo do tapete tomando um tranquilizante, ou bebendo, ou indo ao coquetel após o outro, ou brigando com nossas mulheres, ou recorrendo aos meios de comunicação de massa em busca de diversão, ou devotando-nos à atividade sexual". Mas a questão é que não conseguimos e não conseguiremos escapar definitivamente do tédio. E o motivo é que se são as novidades (algumas novidades) que nos tiram momentaneamente do tédio, em pouco tempo a novidade deixa de ser novidade e o tédio retorna. Como aponta Svendsen, "quando nos jogamos sobre tudo que é novo, é na esperança de que o novo seja capaz de ter uma função individualizante e de dotar a vida de um significado pessoal; mas tudo que é novo logo se torna velho, e a promessa de significado pessoal nem sempre é cumprida – pelo menos, não mais que apenas no momento presente. O novo sempre se transforma rapidamente em rotina, e, então, também o novo entedia, pois é sempre o mesmo" Na visão do autor não há propriamente um remédio ou uma cura para o tédio, apenas sua aceitação. Como bem aponta Svendsen ao final do livro, "é preciso aceitar o tédio como um dado incontornável, como a própria gravidade da vida. Não é uma solução grandiosa - mas não há solução para o tédio".