segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Os seres humanos e suas obsessões: breves reflexões sobre duas séries documentais do Netflix

O que seria do mundo sem as pessoas obsessivas? Fiquei pensando nessa questão após finalizar duas minisséries documentais fantásticas recém-lançadas pela Netflix: "Prescrição fatal" e "Quem matou Malcolm X?". Nos dois casos temos como personagens centrais sujeitos extremamente obsessivos, cada uma com determinada questão, e, que, por conta de tais obsessões, fizeram investigações super-importantes. No caso de Prescrição fatal, originalmente denominada The pharmacist, acompanhamos as investigações realizadas de forma minuciosa pelo farmacêutico Dan Schneider: inicialmente sobre a morte de seu filho, enquanto este comprava drogas em um bairro pobre de sua cidade, e posteriormente sobre um complexo esquema de prescrição e venda de um opióide fortíssimo, altamente viciante e propício à overdose chamado Oxycontin. É a investigação iniciada por este sujeito que descortina toda uma rede de médicos antiéticos e indústria farmacêutica gananciosa e desencadeia um importante processo de ampliação do controle das prescrições de opióides - e também, como efeito colateral indesejado, um aumento no consumo de heroína nos Estados Unidos. Já no segundo caso, o documentário acompanha as investigações, igualmente minuciosas, realizadas pelo "historiador leigo" Abdur-Rahman Muhammad sobre quem teria assassinado o grande lider negro Malcolm X em 1965. A obsessão de Abdur com esse caso, relacionada à sua admiração por Malcolm X e à sua percepção de que a versão oficial dos acontecimentos não é verdadeira, dominou toda a sua vida e o tornou o maior especialista vivo sobre este assassinato. Mas para além dos temas específicos destas duas minisséries, elas expõem de forma bastante interessante a importância de indivíduos obsessivos e obcecados como Dan e Abdur. Se todos fossem absolutamente sensatos, ajustados e obedientes - o que costumamos chamar de "normal" - a humanidade perderia tremendamente, não só em diversidade, mas também no avanço do conhecimento sobre si mesma e sobre o mundo.
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