O
que seria do mundo sem as pessoas obsessivas? Fiquei pensando nessa
questão após finalizar duas minisséries documentais fantásticas
recém-lançadas pela Netflix: "Prescrição fatal" e "Quem matou Malcolm
X?". Nos dois casos temos como personagens centrais sujeitos
extremamente obsessivos, cada uma com determinada questão, e, que, por
conta de tais obsessões, fizeram investigações super-importantes. No
caso de Prescrição fatal, originalmente denominada The pharmacist,
acompanhamos as investigações realizadas de forma minuciosa pelo
farmacêutico Dan Schneider: inicialmente sobre a morte de seu filho,
enquanto este comprava drogas em um bairro pobre de sua cidade, e
posteriormente sobre um complexo esquema de prescrição e venda de um
opióide fortíssimo, altamente viciante e propício à overdose chamado
Oxycontin. É a investigação iniciada por este sujeito que descortina
toda uma rede de médicos antiéticos e indústria farmacêutica gananciosa e
desencadeia um importante processo de ampliação do controle das
prescrições de opióides - e também, como efeito colateral indesejado, um
aumento no consumo de heroína nos Estados Unidos. Já no segundo caso, o
documentário acompanha as investigações, igualmente minuciosas,
realizadas pelo "historiador leigo" Abdur-Rahman Muhammad sobre quem
teria assassinado o grande lider negro Malcolm X em 1965. A obsessão de
Abdur com esse caso, relacionada à sua admiração por Malcolm X e à sua
percepção de que a versão oficial dos acontecimentos não é verdadeira,
dominou toda a sua vida e o tornou o maior especialista vivo sobre este
assassinato. Mas para além dos temas específicos destas duas
minisséries, elas expõem de forma bastante interessante a importância de
indivíduos obsessivos e obcecados como Dan e Abdur. Se todos fossem
absolutamente sensatos, ajustados e obedientes - o que costumamos chamar
de "normal" - a humanidade perderia tremendamente, não só em
diversidade, mas também no avanço do conhecimento sobre si mesma e sobre
o mundo.