Assisti as duas pequenas temporadas da premiada série britânica Fleabag - são apenas 12 episódios com cerca de 25 minutos cada - e minhas impressões são contraditórias. Ao mesmo tempo em que não achei a série tudo isso que as premiações e as críticas dão a entender, algumas questões e situações da série não saem da minha mente. Pra começo de conversa, a série não é, definitivamente, uma comédia, apesar de ter momentos hilários - especialmente na primeira temporada. Fleabag é um drama - pesado até - sobre as complicadas e ambíguas relações humanas. Mais precisamente é possível dizer que se trata de um drama existencial - com proximidades temáticas e etárias (os protagonistas estão na casa dos 30) com a série Master of none. A protagonista, interpretada pela talentosa atriz Phoebe Waller-Bridge, que também é responsável pelo roteiro, é uma mulher no mínimo complicada e de fato bastante desagradável - e é o talento e complexidade da interpretação da atriz que faz com que de alguma forma gostemos e nos identifiquemos com Fleabag (literalmente "saco de pulgas" mas que, na verdade, é uma expressão inglesa usada para se referir a pessoas desagradáveis). Pois bem, Fleabeg faz muita merda, repetidas vezes, prejudicando aqueles que ela ama e especialmente a si mesma - mas acabamos por perdoá-la por entender que se trata de uma pessoa triste, perdida e solitária. O forte da série aliás, é a identificação que ela proporciona (ou, pelo menos proporcionou para mim) com a imperfeita e frágil protagonista. Fleabag não é perfeita nem feliz como as pessoas tentam se mostrar nas redes sociais. Ela não tem respostas para muitas perguntas e se encontra constantemente perdida com relação ao próprio caminho. E nesta busca por respostas e caminhos ela se equivoca de formas inimagináveis - como todos nós (#quemnunca?). Enfim, trata-se de uma série que faz pensar sobre as imperfeições dos seres humanos e de suas relações. Terminei a série melancólico, com um gosto amargo na boca.