E já que tem tanta gente falando da série Ruptura, falarei dela também, pois trata-se de uma das produções mais interessantes e criativas que vi nos últimos anos. Criada por Dan Erickson e com vários episódios dirigidos pelo Ben Stiller, Ruptura (originalmente intitulada Severance, que significa separação em português) imagina um bizarro cenário distopico no qual uma megaempresa chamada Lumon cria e implanta em alguns de seus funcionarios um dispositivo cerebral capaz de separar as memórias do período no trabalho das memórias do periodo fora do trabalho. Sabe aquela velha questão de como conciliar ou equilibrar trabalho e "vida pessoal"? Pois este dispositivo supostamente resolve este problema ao literalmente dividir o indivíduo em dois: o sujeito do trabalho (chamado na série de "interno") e o sujeito da "vida pessoal" (chamado de "externo"). Embora habitem o mesmo corpo tais sujeitos possuem consciências e memórias completamente separadas - daí a ideia de "ruptura". Quando o "externo" desce no elevador para se dirigir ao seu local de trabalho o dispositivo desliga as memórias de sua "vida pessoal" e ele passa a se lembrar apenas de experiências vivenciadas no escritório. E da mesma forma, quando o "interno" sobe no elevador ao final do experiente, as memórias de tudo o que viveu durante o dia simplesmente desaparecem e ele sai da empresa como se nunca tivesse estado lá - e, portanto, sem qualquer mal-estar relacionado ao trabalho. Trata-se, sem dúvida, de uma premissa interessantíssima que é desenvolvida e explorada de forma brilhante ao longo dos nove episódios desta primeira temporada. E ao contrário de grande parte das séries, que na minha visão não precisavam de mais do que uma temporada para desenvolver bem a narrativa sem precisar encher linguiça, Ruptura cria um universo tão repleto de possibilidades e mistérios que apenas uma temporada não teria como ser suficiente. Felizmente a segunda temporada já foi confirmada! A série está disponível oficialmente na plataforma AppleTV+ e também, é claro, em plataformas "alternativas" como a Superflix. Recomendo fortemente esta produção intrigante e assustadora que é muito Black Mirror!