Neste mesmo momento e posteriormente muitas outras medicações, e até mesmo novas classes de medicações, foram desenvolvidas. Em 1955, por exemplo, foi patenteado o metilfenidato, nome comercial da Ritalina, uma substância psicoestimulante da classe das anfetaminas. Sintetizada em 1944 na Suiça essa substância foi lançada comercialmente somente uma década depois, sendo atualmente prescrita e indicada para tratar pessoas hiperativas, especialmente crianças. Em 1958, por sua vez, foi lançado o Trofanil, nome comercial da imipramina, que foi o primeiro antidepressivo tricíclico - classe de medicação assim denominada por ter sua estrutura molecular composta por três anéis de carbono. Segundo Lieberman, tal qual o Miltown, a imipramina foi um "sucesso mundial instantâneo", sendo adotada pelo psiquiatras da Europa e dos Estados Unidos. Posteriormente muitos outros antidepressivos tricíclicos foram lançados, todos cópias da imipramina - que, para o autor, é de fato o primeiro antidepressivo, não a iproniazida. Mais à frente, na decada de 1970, pesquisadores ligados à megaempresa farmacêutica Eli Lilly desenvolveram a fluoxetina, lançada quase duas décadas depois com o nome de Prozac, e que foi o primeiro antidepressivo da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (SSRI). Após o seu lançamento nos Estados Unidos, em 1987, o Prozac tornou-se um megasucesso farmacêutico, talvez o maior da história - e a fluoxetina, com nomes comerciais diversos, continua sendo uma das medicações mais prescritas e vendidas no mundo. Desde então se multiplicaram os nomes e marcas de psicofármacos, muito embora as substâncias-base não tenham se alterado tanto assim. E também se multiplicaram os usos equivocados e banalizados de tais medicações. Como afirma o psiquiatra norte-americano Allen Frances, coordenador da força-tarefa que elaborou o DSM-IV, no maravilhoso e necessário livro Voltando ao normal "tornamo-nos uma sociedade devoradora de comprimidos, e, com muita frequência são as pessoas erradas que estão devorando os comprimidos errados, receitados pelos médicos também errados". Em sua visão, o uso criterioso dos psicofármacos representa uma "poderosa ferramenta na psiquiatria" e também uma "dádiva para pacientes auxiliados". No entanto, com muita frequência, tais medicações tem sido utilizadas de forma "promíscua" o que, em sua visão, aproxima a medicina atual das "práticas charlatanescas dos alquimistas medievais".
Discurso circular: o que causa o que? |