No último dia 19 de Agosto, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou o relatório final do “Levantamento de informações sobre a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho brasileiro”, realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido do CFP. Este levantamento, realizado com base nos dados colhidos pelo IBGE para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), permite que tenhamos uma noção a respeito de quem é, afinal, o psicólogo brasileiro - na verdade, como a maioria absoluta dos profissionais do campo são mulheres, eu utilizarei quase sempre o gênero feminino para falar deste profissional, invertendo a lógica de se falar no masculino para se referir à ambos os gêneros. A seguir eu farei um breve compilado dos resultados, mas quem quiser se aprofundar, pode acessar diretamente o relatório final do levantamento clicando aqui. Pois bem, logo no inicio, o relatório aponta para a atuação, no Brasil, de cerca de 146 mil psicólogas - este número se refere, cabe reforçar, ao número de "psicólogas ocupadas", ou seja, não leva em consideração o número de pessoas formadas em psicologia mas somente aquelas que efetivamente atuam na área. Outro dado interessante é que grande parte destas profissionais, cerca de 90 mil, vive na região Sudeste - o que talvez tenha relação com a localidade dos cursos de formação (como eu constatei, em 2009, neste artigo). Importante destacar que o relatório contrapõe as psicólogas às pessoas "ocupadas com o ensino superior", ou seja, pessoas que no momento da pesquisa: a) frequentavam curso de mestrado ou doutorado; b) não frequentavam, mas já frequentaram curso de mestrado ou doutorado; ou c) não frequentavam, mas já frequentaram e concluíram, com aprovação, curso superior de graduação - nesse caso, o número que consta no relatório é de 14 milhões de pessoas. Pelo que pude entender, este número inclui todas as pessoas que concluíram um curso de graduação, não somente de psicologia. Segundo o Dieese, o objetivo ao retratar estes dados foi "fornecer uma base de comparação entre a situação dos psicólogos e a dos demais profissionais com o mesmo grau de formação".
Com relação à idade das profissionais, a conclusão do relatório é que cerca de 84% possuem mais de trinta anos - somente 16% teriam menos de trinta (no caso daquelas ocupadas com o ensino superior, o percentual é parecido: 80 versus 20%). E isto aponta para a conclusão de que as psicólogas não são assim tão jovens - embora dizer que a maioria possui "mais de 30" seja um tanto quanto vago, afinal, há uma enorme diferença entre ter 31 e 80. O relatório não explora os porquês dos dados, mas proponho alguns questionamentos: será que as psicólogas são mais velhas porque as mais jovens não conseguem ou demoram para conseguir emprego na área? Ou porque muitas pessoas ingressam na faculdade de psicologia mais tarde na vida? Como a proposta do levantamento é descrever a realidade das psicólogas e não explicá-la, não há qualquer resposta para estas perguntas. Da mesma forma como não há qualquer tentativa de resposta para a pergunta: por que a maioria dos psicólogos brasileiros são mulheres? Pois de fato o levantamento aponta que mais de 90% dos profissionais são do sexo feminino. Curiosamente, no caso das pessoas ocupadas com o ensino superior, a proporção é significativamente menor: 57% de mulheres contra 43% de homens. E isto aponta para uma maior "masculização" do ensino superior em geral, que se contrapõe a uma quase absoluta "feminilização" da formação e profissão psi. De toda forma, o debate continua: por que a psicologia no Brasil sempre foi e continua sendo uma profissão majoritariamente feminina?
Com relação à idade das profissionais, a conclusão do relatório é que cerca de 84% possuem mais de trinta anos - somente 16% teriam menos de trinta (no caso daquelas ocupadas com o ensino superior, o percentual é parecido: 80 versus 20%). E isto aponta para a conclusão de que as psicólogas não são assim tão jovens - embora dizer que a maioria possui "mais de 30" seja um tanto quanto vago, afinal, há uma enorme diferença entre ter 31 e 80. O relatório não explora os porquês dos dados, mas proponho alguns questionamentos: será que as psicólogas são mais velhas porque as mais jovens não conseguem ou demoram para conseguir emprego na área? Ou porque muitas pessoas ingressam na faculdade de psicologia mais tarde na vida? Como a proposta do levantamento é descrever a realidade das psicólogas e não explicá-la, não há qualquer resposta para estas perguntas. Da mesma forma como não há qualquer tentativa de resposta para a pergunta: por que a maioria dos psicólogos brasileiros são mulheres? Pois de fato o levantamento aponta que mais de 90% dos profissionais são do sexo feminino. Curiosamente, no caso das pessoas ocupadas com o ensino superior, a proporção é significativamente menor: 57% de mulheres contra 43% de homens. E isto aponta para uma maior "masculização" do ensino superior em geral, que se contrapõe a uma quase absoluta "feminilização" da formação e profissão psi. De toda forma, o debate continua: por que a psicologia no Brasil sempre foi e continua sendo uma profissão majoritariamente feminina?
Outro dado interessante - e preocupante - é o baixíssimo percentual de psicólogas negras. De acordo com o levantamento, apenas 16,5% das psicólogas são negras - as não-negras compõem a absoluta maioria (83,5%). Curiosamente, dentre aqueles ocupados com o ensino superior o percentual é maior: 30,5% de negros versus 69,5% de não-negros. Tendo em vista que a população negra representa, segundo o IBGE, cerca de 54% da população, é possível concluir que a categoria das psicólogas definitivamente não representa a população brasileira, sendo ainda majoritariamente branca. Não entrarei nos porquês disto - assim como o levantamento não entrou - mas gostaria apenas de deixar aqui o minha preocupação com este dado. Outra informação curiosa disponível no relatório é que cerca de 90% das psicólogas tem como grau mais elevado de formação a graduação. Apenas 4,4% possui mestrado ou doutorado completo - e 5,1 incompleto (nada é dito sobre o percentual de psicólogas envolvidas em pós-graduações lato sensu como especializações e residências). Curiosamente, as porcentagens permanecem semelhantes quando se analisam as pessoas ocupadas com o ensino superior: 92% possuem apenas graduação, 5,4% mestrado ou doutorado completo e 2,3% incompleto.
Outros dados interessantes dizem respeito à situação socioeconômica das psicólogas brasileiras. De acordo com o levantamento, as profissionais de psicologia possuem um rendimento mensal domiciliar médio de R$10.795,00 valor 24,4% superior ao rendimento total das pessoas ocupadas com ensino superior (R$8.680,00). Cabe reforçar que este é o valor do rendimento domiciliar, que é calculado somando-se os rendimentos mensais de todos os moradores da unidade domiciliar. Não fica claro neste dado, portanto, qual é a renda média específica da psicóloga brasileira. Outra informação disponível no relatório é que o rendimento domiciliar per capita das psicólogas atinge, em média R$ 4.055,00, valor 28% superior ao das pessoas ocupadas com ensino superior (R$3.169,00) - mas isto ainda não diz nada sobre o salário médio das psicólogas. O cálculo do rendimento per capita é feito dividindo-se o valor do rendimento domiciliar pelo número de pessoas dependentes da renda familiar. Neste sentido, pode ser que um outro ente familiar, que não a psicóloga, contribua mais com a renda da família. Enfim, esses dados não permitem uma conclusão acerca da renda média das psicólogas brasileiras.
O mesmo não pode ser dito sobre o tipo de inserção profissional. O levantamento é bastante claro ao expor que grande parte das profissionais atua de forma autônoma/por conta própria (42%) - em contrapartida, pouco menos de um quarto trabalha na condição de assalariada com carteira de trabalho assinada (22,6%) e outras 20,8% como funcionárias públicas estatutárias. Aquelas empregadas sem carteira de trabalho assinada representam 8,9% do total de psicólogas e as empregadoras 5,8%. Além disso, o levantamento aponta que 83% das psicólogas possuem apenas um único trabalho, que seria o responsável por toda sua renda mensal (no caso das ocupadas com ensino superior o número é ainda maior: 90%). Com relação à área de atuação, o relatório indica que cerca de 75% das psicólogas trabalham em atividades de "Educação, saúde e serviços sociais", o que não diz muita coisa sobre a real atuação destas profissionais. Em segundo lugar (18%) está a administração pública, mas este dado é também muito vago para que eu possa extrair qualquer conclusão.
Na parte final do levantamento, finalmente é respondida a pergunta "quanto ganha uma psicóloga no Brasil?" E a resposta é que em média a psicóloga brasileira ganha cerca de R$3400,00 - o que equivale a cerca de R$29,00 por hora hora de trabalho. Você considera este valor muito ou pouco? Confesso que minhas expectativas eram menores e eu me surpreendi positivamente - mas não podemos nunca nos esquecer que se trata de uma média e médias são sempre abstrações estatísticas (basta lembrar que a média entre 1 e 99 é 50, o que aponta para a possibilidade de algumas psicólogas ganharem muito e outras muito pouco, o que na média dá um valor razoável). No caso das pessoas ocupadas com o ensino superior, a renda média mensal é consideravelmente maior, cerca de R$4000,00, sendo R$32,00 por hora. Com relação à renda por faixa etária a conclusão do relatório é que as psicólogas mais jovens, com menos de 30 anos, ganham menos (em média R$2.211,00) do que aquelas com mais com 30 anos ou mais (em média R$ 3.639,00), o que sugere uma valorização da experiência profissional. Outro dado muito interessante é que embora as psicólogas ganhem em média mais do que os psicólogos (R$ 3.497 versus R$ 2.676), entre aqueles ocupados com o ensino superior, o rendimento masculino corresponde a R$ 5.296,00 quase 70% maior que o feminino (R$ 3.137,00) - e bem maior também que a renda média das psicólogas. Aliás, importantíssimo apontar que embora o salário médio das psicólogas seja maior do que dos psicólogos, o valor da hora trabalhada pelas psicólogas é consideravelmente inferior ao dos psicólogos: a hora média das mulheres equivale a R$27,76, enquanto a dos homens a R$ 37,68, ou seja, 36% a mais. E isto indica, segundo o relatório, que "as mulheres têm um rendimento mensal superior ao dos homens por trabalharem mais horas no mês". Verifica-se, portanto, uma clara e evidente desigualdade de gênero na psicologia brasileira.
Mas não só: os dados apontam também para uma evidente desigualdade racial quando se comparam as rendas médias das psicólogas negras e não-negras. Segundo o relatório, uma psicóloga negra recebe em média R$2.921,00, valor que corresponde a cerca de 83% do que recebe uma não-negra (R$3.514,00). Um evidente racismo permeia a psicologia, assim como a sociedade brasileira como um todo. Finalmente, avaliando-se a renda das psicólogas por tipo de inserção no mercado de trabalho, a conclusão do estudo é que aquelas que trabalham por “conta própria” recebem valores superiores (R$3.772,00) àqueles auferidos às que trabalham como funcionárias públicas estatutárias (R$3.246,00), empregadas com carteira (R$3.214,00) e sem carteira (R$2.452,00). Enfim, de todo este levantamento se pode depreender que o "psicólogo brasileiro" (ou melhor, a psicóloga brasileira) é predominantemente uma mulher branca que possui apenas a graduação em psicologia e que trabalha de forma autônoma em alguma cidade da região sudeste do país, recebendo cerca de R$3400,00 por mês. Uma pergunta que fica de todo este relatório - dentre muitas outras que poderiam ser feitas - é: o quanto você, psicóloga(o), se encaixa neste perfil?