terça-feira, 18 de junho de 2024

Uma resenha crítica do livro "Psicologia: uma brevíssima introdução"

Escrever um livro curto de introdução à psicologia é um desafio e tanto, haja vista a complexidade do campo e as inúmeras disputas e controvérsias internas. Em geral os autores falham miseravelmente nesta empreitada, seja por simplificarem ou ignorarem certas discussões, seja por não conseguirem conciliar um olhar histórico com debates e achados mais recentes do campo. Foi, portanto, com este receio, que eu iniciei a leitura do livro "Psicologia: uma brevíssima introdução", recém-lançado no Brasil pela Editora UNESP. Eu já havia lido outros livros da coleção "a very short introduction", originalmente publicados pela Oxford University Press - como "Inteligência Artificial: uma brevíssima introdução" e "Foucault: uma brevíssima introdução" - e gostei muito de todas essas edições. Mas este não foi o caso desta nova introdução sobre o campo da psicologia, escrita pelas psicólogas e professoras na Universidade de Oxford Gillian Butler e Freda McManus. Antes de falar dos problemas, contudo, acho importante salientar um ponto forte da obra: a organização dos capítulos. No total são dez capítulos sendo o primeiro uma introdução geral ao campo, o último uma conclusão e os demais dedicados a temas fundamentais da psicologia: percepção (c2), aprendizagem e memória (C3), pensamento, raciocínio e comunicação (C4), motivação e emoção (c5), psicologia do desenvolvimento (c6), diferenças individuais (c7), psicologia "anormal" (c8) e psicologia social (c9). Por outro lado, se o livro acertou em sua estruturação, ele errou feio no texto - excessivamente confuso, simplista e, eu arriscaria dizer, mal escrito. Parte desses problemas se deve, sem dúvida, à tradução, que deixou a leitura ainda mais cansativa e confusa - abaixo, nas observações, eu aponto para três erros crassos de tradução. Enfim, se a proposta era introduzir o campo da psicologia para leigos, eu até acho que o livro cumpriu seu propósito. No entanto, o estilo de escrita e a tradução não contribuíram em nada pra que obra se tornasse de fato relevante e imprescindível.

Observações: Trago aqui três exemplos de problemas de tradução - e eu consultei na internet a versão original. Na página 61 a frase do escritor Cormac MacCarthy "the past is always an argument between countersclaimants" foi traduzida de forma ininteligível para "o passado é sempre uma discussão entre reconvencionais" - o que não faz nenhum sentido para o leitor, especialmente para o leitor leigo, público-alvo do livro. Certamente há outras traduções melhores para a expressão countersclaimants. Já na página 73 o livro menciona as pesquisas sobre "preparação" sendo que, na verdade, as pesquisas mencionadas são sobre o efeito "priming", que não poderia jamais ser traduzido por "preparação" e sim por "pré-ativação". Faltou, neste caso, uma revisão técnica que apontasse para a tradução mais aceita na comunidade científica brasileira ou então que mantivesse o termo original, pelo menos entre parênteses. Finalmente, na página 188, a expressão "health anxiety (hyperchondriasis)" foi traduzida como "ansiedade (hipocondria), o que dá a entender que ansiedade seria sinônimo de hipocondria, sendo que no original é usada a ideia de uma ansiedade relacionada à saúde que, esta sim, seria sinônimo de hipocondria. Enfim, aponto aqui apenas para três erros crassos, dentre muitos outros, que atrapalham terrivelmente a leitura e confundem o leitor.

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