terça-feira, 18 de junho de 2024

"A menina silenciosa" e os sentidos do afeto

No filme irlandês "A menina silenciosa" (The quiet girl) - que em 2023 concorreu ao Oscar de Melhor Filme Internacional (e perdeu para o alemão "Nada de novo no front") - acompanhamos Cáit, uma garota de 9 anos, que é levada para morar temporariamente com um casal mais velho e sem filhos. Cáit, que cresceu em um ambiente problemático e caótico - e provavelmente foi abusada sexualmente pelo pai (o que é sugerido mas nunca mostrado) - encontra neste lar temporário um espaço de acolhimento, afeto e cuidado que ela nunca vivenciara anteriormente. "A menina silenciosa" me lembrou, em vários sentidos, a maravilhosa série "Anne with an E", da Netflix, na medida em que ambas as produções retratam, com muita sensibilidade, a vida de uma garota rejeitada pela família biológica que é acolhida por um casal mais velho. Uma diferença significativa, contudo, é que enquanto Anne é de fato adotada pelo casal, Cáit é apenas abrigada temporariamente. Além disso, Anne é uma garota alegre e falante, ao passo que Cáit é melancólica, introspectiva e, como o título aponta, silenciosa. O que achei mais interessante no filme é como ele vai construindo lentamente a relação entre os personagens centrais - isto é, entre o casal e a menina. A narrativa não se apressa em fazer a história avançar - o que importa, de fato, é a maneira como os personagens vão interagindo, se conhecendo e se conectando, aos poucos, dia após dia. O filme retrata muito bem como um ambiente acolhedor, empático e afetuoso pode fazer uma grande diferença na vida de pessoas que sofreram variados tipos de privações, abusos e violências - as psicoterapias, quase sempre, almejam justamente criar um ambiente assim. Enfim, trata-se de um filme muito sensível e emocionante sobre uma garota encantadora. "A menina silenciosa" foi incluído hoje na plataforma de streaming Reserva Imovision.
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