terça-feira, 18 de junho de 2024

"Orion and the Dark" e os sentidos do medo

Orion é um garoto de onze anos extremamente medroso e ansioso. Ele tem medo de coisas variadas como do mar, das abelhas, dos cachorros, de palhaços assassinos, do garoto que faz bullying com ele na escola e até das ondas dos celulares. Mas acima de tudo, Orion morre de medo da escuridão da noite e sempre pede aos seus pais que deixem a porta aberta para a luz entrar. Acontece que em determinada noite seus pais apagam todas as luzes e ele entra em pânico no meio da escuridão. E é justamente nesse momento que o Escuro (Dark) aparece para ele e o leva em uma viagem pelo mundo da escuridão, onde ele é apresentado às outras entidades da noite (o sono, o sonho, o silêncio, a insônia e os barulhos aleatórios). Pois esta é a história da linda animação "Orion e o escuro", nova produção da DreamWorks que acabou de estrear na Netflix. O filme é dirigido pelo cineasta e animador Sean Charmatz, mas o que de fato me chamou a atenção - e me fez querer assistir ao filme - foi o fato de o roteiro, adaptado de um livro infantil homônimo, ter sido escrito pelo brilhante Charlie Kaufman, roteirista de "Quero ser John Malkovich", "Adaptação", "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" e diretor/roteirista de "Sinédoque, Nova York", "Anomalisa" e "Estou pensando em acabar com tudo" - todos filmes maravilhosos, alguns verdadeiras obras-primas contemporâneas (caso de Quero ser John Malkovich e Brilho eterno). E de fato Orion e o Escuro me surpreendeu muito positivamente. É uma animação linda visualmente, criativa e muito sensível e empática com os medos e ansiedades das crianças - e também (porque não?) dos adultos, já que o medo nos acompanha, de diferentes formas, por toda a vida. Eu gostei especialmente da forma como o filme retrata e demonstra, através de uma bela fábula, a importância da escuridão (em um sentido físico e psicológico) e também do medo. A grande mensagem do filme, na minha visão, é que o medo faz parte da vida e que devemos compreendê-lo e aceitá-lo em alguma medida, mas também enfrentá-lo sempre que necessário. Afinal, como disse Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem - e coragem não é não ter medo mas seguir adiante mesmo com medo.
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