sábado, 4 de maio de 2024

Consequências imprevisíveis: uma resenha do romance "Mate-me quando quiser"

"Mate-me quando quiser", primeiro romance da escritora brasileira Anita Deak, tem início com uma carta escrita por uma mulher - que é chamada durante toda a narrativa apenas de "a Mulher": "Caro Soares, Fico satisfeita de que já tenha recebido todo o dinheiro. Em anexo, estão a sua passagem para Barcelona e a minha fotografia. Abaixo, o endereço do hotel onde ficarei hospedada. Mate-me quando quiser, ou melhor, no dia que lhe convier dentro dos próximos quatro meses. A única coisa que peço é discrição. Você sabe quem eu sou, mas não quero saber quem você é". Pois este é o ponto de partida desse interessantíssimo thriller ambientado na cidade de Barcelona. Mas o que eu achei mais interessante não é nem propriamente essa ideia de retratar uma mulher que encomenda a própria morte para um matador de aluguel - numa espécie de terceirização do suicídio - mas sim como a história se desenrola a partir desta inusitada premissa. Achei fascinante como a narrativa construída pela autora segue por caminhos inesperados até sua conclusão, igualmente surpreendente. O que parecia inicialmente uma história sobre uma mulher desiludida com a vida, acaba se tornando uma narrativa sobre como nossos atos podem gerar (e com frequência geram) consequências imprevisíveis nas nossas próprias vidas e nas vidas das outras pessoas. Ao tomar a decisão de morrer e se mudar para Barcelona, levando no seu encalço um matador de aluguel, a Mulher acaba desencadeando uma série de efeitos e consequências imprevisíveis na vida dela própria, do matador Soares e também dos outros personagens, chamados pelo narrador apenas de "o Homem", "a Loira" e "a Morena". Eu até poderia tecer algumas críticas a algumas escolhas narrativas da autora - como por exemplo, à equivocada e antiética atuação da Mulher como psicanalista do Homem - mas, de uma forma geral, considero que tais escolhas não comprometem a história, que é muito bem contada e conduzida, do início até o final. Enfim, recomendo fortemente "Mate-me quando quiser", lançado em 2014 pela editora Gutenberg.

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